Autor do gol que deu ao Grêmio o título da Série B em 2005 e rebaixado com o Inter para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro em 2016, o ex-meio-campista Anderson mora em Porto Alegre, sua cidade natal, mas quer distância do futebol. Hoje com 32 anos, o ex-jogador pendurou as chuteiras em setembro do ano passado, quando atuava pelo Adana Demirspor, da Turquia. Na manhã desta quinta-feira (25), Anderson foi alvo de mandado de busca e apreensão em sua casa, em Porto Alegre.
Ele teve o computador e o celular apreendidos para investigação no âmbito da Operação Criptoshow, do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), que busca desarticular uma organização criminosa que desviou R$ 35 milhões de empresas, burlou esquema de segurança digital de banco e lavou dinheiro com bitcoins.
O nome do ex-jogador da Dupla não foi divulgado pelo MP como um dos investigados, mas GaúchaZH confirmou a execução do mandado na casa de Anderson. Por meio de nota, o ex-atleta confirmou que recebeu policiais em sua casa na Capital nesta manhã. Ele ainda afirmou que investe no mercado de criptomoedas, mas disse não ter nada a esconder.
"Uma de nossas empresas foi relacionada em um assunto que não merecíamos. Hoje, por conta disso, recebi em minha residência a polícia, com a cordialidade que lhes é merecida. Nada tenho a esconder. Nossos valores são fruto do meu trabalho e estão devidamente declarados", diz trecho do comunicado enviado à imprensa.
Aposentadoria na Turquia
Prestigiado pelo período em que jogou no Manchester United de Alex Ferguson, em que conquistou quatro Campeonatos Ingleses, uma Liga dos Campeões, duas Copas da Liga e um Mundial de Clubes, Anderson passou a trabalhar no Adana Demirspor. Virou uma espécie de olheiro da equipe, que disputa a segunda divisão nacional. Porém, pouco tempo depois, retornou ao Brasil.
Atualmente, investe o dinheiro que ganhou nos tempos de jogador em diversos ramos, especialmente o imobiliário. Neste mês, inclusive, visitou o município de Lajeado, no Vale do Taquari, para conhecer o empreendimento de um amigo na cidade. Ao repórter Rodrigo Conte, do jornal Informativo do Vale, o ex-jogador falou sobre a vida após deixar os gramados.
— No início foi estranho, mas agora estou me acostumando. Eu dizia que me aposentaria aos 31 anos e ninguém acreditava. Quando comuniquei aos amigos, 99% foram contra. Mas agora estou aproveitando para curtir minha vida e cuidar dos meus negócios. Só não jogo mais futebol, nem com amigos. Isso, não tenho vontade alguma — disse.
A vida de Anderson se resume a cuidar dos bens adquiridos ao longo da carreira e buscar novas formas de investimento.
— Apesar de ter estudado até a quarta série, eu aprendi muito com futebol. Consegui ajudar minha família, meus amigos, e hoje invisto naquilo que acredito ser rentável. Temos bons amigos que nos orientam como continuar ganhando dinheiro — falou o ex-atleta.
Confira a nota divulgada pelo ex-jogador sobre a Operação Criptoshow:
"Eu, Anderson Luís de Abreu Oliveira, venho a público esclarecer:
Trouxe recursos de uma vida toda para fazer negócios no Estado que amo. Apesar das dificuldades que ele vem passando, quero continuar fazendo negócios aqui, pois acredito e sou prova de que um menino pobre e sem estudo pode vencer na vida com trabalho e empenho.
Conheço e invisto há quatro anos no mercado de criptomoedas. Investi mais fortemente em 2019 no bitcoin, comprei com dinheiro declarado, conforme comprovante e imposto de renda.
Desde então, negocio no mercado a compra e venda destas criptomoedas para ganhar dinheiro, e também porque gosto da tecnologia. Para isso, comprei a participação na empresa House Tecnologia Ltda, que realiza as compras e vendas quando é oportuno.
Uma de nossas empresas foi relacionada em um assunto que não merecíamos. Hoje, por conta disso, recebi em minha residência a polícia, com a cordialidade que lhes é merecida. Nada tenho a esconder. Nossos valores são fruto do meu trabalho e estão devidamente declarados.
Agradeço às autoridades pelo tratamento digno ao qual fui submetido, e a todos que sabem o que sou e o quanto sou grato ao Rio Grande do Sul. Tanto que continuarei investindo e dando empregos o quanto eu puder".
ENTENDA O ESQUEMA INVESTIGADO NA OPERAÇÃO CRIPTOSHOW
O desvio
Nos dias 15 e 16 de abril deste ano, foram desviados R$ 30 milhões da conta bancária de uma grande indústria por meio de 11 transferências eletrônicas para seis empresas localizadas em Porto Alegre, Cachoeirinha, São Paulo e Porto Velho, em Rondônia. O dinheiro foi desviado por meio da conta bancária de outra empresa, com sede em Cachoeirinha, correntista do mesmo banco.
Para cometer a fraude, foi acessada a conta bancária, pelo internet banking, de um dos investigados. Neste momento, foram programadas 11 transferências bancárias para seis destinatários. Ao final da operação, por meio manipulação da codificação do canal do internet banking, a conta indicada ao sistema para a efetuação do débito de R$ 30 milhões não foi a logada inicialmente, mas sim outra.
Ainda conforme o MP, para poder cometer a fraude, antes disso houve um preparo para o desvio. O mesmo autor das transferências teria previamente entrado em contato com o banco para conseguir autorização para esse tipo de operação milionária. Dias depois, foi realizada a operação fraudulenta, na qual o valor foi debitado das contas das empresas vítimas.
O destino dos valores
Uma empresa de Porto Alegre recebeu o maior montante do furto, R$ 14 milhões. Três empresas sediadas no estado de Rondônia receberam juntas outros R$ 14 milhões. Além disso, uma empresa de São Paulo obteve R$ 1 milhão, mesmo valor recebido pela empresa de Cachoeirinha, que teria efetuado o desvio.
O MP acredita que todas as empresas de fora do Estado para onde foram destinados os valores eram de fachada. Os endereços foram conferidos ao longo da investigação e uma delas era uma casa abandonada. A pessoa citada como sócio administrador não teria condições de manter uma empresa com o capital apresentado.
— A sede física, quando existia, e sócio eram incompatíveis com porte de operações bancárias. Isso nos leva a entender que são de fachada, não existem — explica o promotor Flávio Duarte.
Uso de bitcoins
O próprio banco lesado pelo esquema conseguiu descobrir o caminho de parte do dinheiro desviado. No dia 16 de abril, uma corretora que atua na negociação para compra e venda de ativos virtuais recebeu R$ 11 milhões para aquisição de bitcoins de três das cinco empresas beneficiadas com as transferências. No dia anterior, outros R$ 7,7 milhões já tinham sido repassados por duas das empresas e revertidos em bitcoins, num total de R$ 18,8 milhões.
O operador
O correntista que teria comandado os desvios a partir da conta bancária de uma empresa de Cachoeirinha até pouco tempo integrava quadro social dessa empresa, que pertencia à família dele, e que foi beneficiada no esquema com R$ 1 milhão. Depois disso, a empresa teve alteração nos sócios e o investigado deixou o quadro.
Atualmente, segundo o MP, ele mantém uma corretora de investimentos. Contra ele foram identificadas três ocorrências no ano passado e em 2020 por ameaça e apropriação indébita.
— Não sabemos ainda se ele é a cabeça principal, mas é o operador de parte do desvio. Mas não é o único. No caso dos R$ 5 milhões o operador foi outra pessoa — relata o promotor.