O camisa 10 do FC Lviv, da Ucrânia, Alvaro Vieira, é mais um entre os brasileiros pelo mundo em ligas que retomam o futebol pós-paralisação. O país do leste europeu controlou o coronavírus e tem rodada marcada para o dia 30 de maio. O retorno, no entanto, ainda gera um certo temor em Alvaro. O jogador paulista relata solidão no confinamento e dificuldades para reencontrar a melhor forma física nos treinos que recomeçaram no último dia 4.
— Na minha opinião, deveríamos ter mais tempo para treinar para enfrentar uma maratona de jogos. É um jogo em cima do outro. Torcedores e imprensa vão ter que entender — argumenta, explicando que o nível do desempenho pode cair, já que o calendário será apertado com duas partidas por semana:
— Nós sabemos das dificuldades que passamos parados e agora, em menos de 25 dias, voltaremos a fazer um jogo oficial. É tudo muito rápido, mas não temos opção.
Em entrevista ao Planeta Bola, da Rádio Gaúcha, o atleta conta que ficou seis semanas em casa, sozinho, já que a família vive no Brasil. Saídas, apenas para correr ou ir ao supermercado. Alvaro diz que os cuidados individuais e consciência coletiva dos ucranianos foram cruciais para que o coronavírus não fizesse tantas vítimas.
— Você não vê pessoas na rua, criança brincando, um monte de gente junto. As pessoas se cuidaram, porque viram que seria algo realmente ruim. Infelizmente, o brasileiro não acreditou que seria tão forte, ruim e complicado. Talvez, por isso, estejam passando pela situação. Todos nós, eu digo. Eu também fico triste, sou brasileiro, minha família está no Brasil e tenho muitos amigos. Pra mim, também é triste ver a situação — desabafa contra o descaso que, para ele, deve atrasar a volta do futebol por aqui.
Alvaro está em Lviv desde janeiro de 2019. Sem ter passado pelo futebol profissional nem categorias de base no Brasil, o atacante de 25 anos foi lapidado na várzea. A chegada no futebol ucraniano não foi fácil. Ele diz que precisou "quebrar barreiras" e levou cerca de oito partidas para se adaptar, inclusive improvisado como meia. Porém, nenhum desses desafios dentro de campo foi maior do que os que quase impediram ele de jogar.
— Ouvia de amigos da família que eu não gostava de trabalhar, que eu era vagabundo, vivia de um sonho. Perdi uma namorada que me disse que só ficaria comigo quando eu tivesse um carro ou quando trabalhasse. Eu continuava insistindo. Larguei o mundo, tapei os ouvidos para as pessoas que falavam mal de mim. Peguei aquelas críticas para me fazer mais forte. Graças a Deus e à minha família, consegui — declara.
Hoje camisa 10 e titular absoluto, Alvaro precisou fazer bicos como segurança em estacionamento, trabalhando em fábricas de pipa, obras ou como padeiro em sua cidade natal para ajudar nas finanças de casa. Entretanto, quando percebeu que não conseguiria conciliar o sonho e os empregos, apostou na bola:
— Foram muito chatas algumas coisas que passei, mas tenho orgulho de tudo, agradeço às pessoas que falaram mal de mim e me botaram pra baixo, porque se não fossem elas eu não estaria aqui hoje — reconhece.