O promotor Omar Legal, responsável pelas investigações sobre o uso de passaportes e células de identidade falsas por Ronaldinho e seu irmão Roberto de Assis no Paraguai, disse à Folha de S.Paulo, nesta segunda-feira (9), que os brasileiros deverão permanecer no país até que as motivações para o ato sejam esclarecidas.
— A defesa de Ronaldinho e Roberto é simplória e básica ao centrar-se em supostos erros processuais. Os dois não sairão até que aportem a informação verdadeira sobre a finalidade dos passaportes falsos — afirmou o promotor, em entrevista no seu escritório, em Assunção.
Legal foi quem pediu a prisão preventiva dos irmãos, acatada na última sexta-feira (6) pela juíza Clara Ruíz Díaz e que pode durar até seis meses, em meio às investigações. O promotor acrescentou:
— Eles são parte de um investigação maior que estamos fazendo, que envolve outras pessoas e outros crimes com os quais eles poderiam ter vínculos. Não estou investigando pessoas, e sim um caso mais amplo. Eles, por ora, fazem parte do caso e têm de provar o contrário se querem sair do país.
Legal disse que não poderia dar mais declarações sobre o tema, mas que há informações de inteligência que apontam para o envolvimento dos irmãos gaúchos em outros delitos fiscais cometidos no país.
O promotor também rebateu críticas da defesa dos brasileiros. Para o advogado deles, Sérgio Queiroz, Ronaldinho e Assis estão detidos de forma "totalmente abusiva e ilegal", e a decisão da juíza de acatar o pedido do Ministério Público e determinar a prisão era "rasgar a legislação paraguaia". Eles pedem que os irmãos possam ser transferidos para prisão domiciliar.
Omar Legal sustenta que o procedimento se deu "dentro do marco da normalidade processual" e que, mesmo que a defesa consiga preencher os requisitos para uma prisão domiciliar — sendo estes a certeza de que não sairão do país durante a investigação e que apresentem um imóvel em seu nome — será contra a volta deles ao Brasil enquanto a investigação continuar.
— Não podemos correr o risco de que eles saiam do país, porque o Brasil não extradita seus cidadãos. Não podemos deixá-los sair do Paraguai até terminarmos. O que estamos investigando aqui não é tanto como fizeram o passaporte, mas para quê. Eu preciso saber para que eram esses passaportes — afirmou.
Legal declarou que a empresária Dalia López, anfitriã dos eventos para os quais Ronaldinho foi convidado no país e que havia prometido se entregar após ter sua prisão decretada, não pode escolher um momento para isso, como quer sua defesa.
— Por não ter se apresentado, está considerada fugitiva da Justiça — afirmou. Segundo ele, a polícia faz buscas por ela nas suas várias propriedades em Assunção e arredores.
Sobre as contradições do discurso da defesa do jogador e a da empresária — a primeira diz que os passaportes foram um presente, e a segunda que os brasileiros pediram o documento —, Legal vê como natural "que agora estejam jogando o problema uns para os outros, mas o caso é que o delito existiu".
A respeito de outra alegação da defesa, de que Ronaldinho não tinha ciência de que estava cometendo algo ilícito, Legal riu e rebateu:
— Até meu filho de 10 anos se daria conta de que aquilo estava mal, que esse documento é fraudulento. Não posso aceitar o argumento de que Ronaldinho não tivesse consciência disso. Não chega um passaporte russo à casa de ninguém se não for pedido.
Os próximos passos da investigação serão descobrir por que os passaportes falsos foram confeccionados, com qual finalidade e se a ação estaria relacionada de alguma forma ao crime de lavagem de dinheiro, pelo qual López já era investigada pelo Ministério Público.