O futsal brasileiro ganhou mais um título internacional. No final de semana, na Suíça, a medalha de ouro foi conquistada pelo time feminino no Campeonato Mundial para Surdos, competição que ocorre de quatro em quatro anos e é organizada pela Confederação Brasileira de Desportos Surdos. Além de voltarem com o troféu e as medalhas de ouro, uma atleta gaúcha foi eleita a melhor jovem (até 21 anos) do torneio: Stefany Krebs, 21 anos, de Erechim. A colega Laelen Brizola foi eleita a melhor jogadora do Mundial. O masculino ficou em sétimo lugar.
Tefy, como é conhecida, é nome constante na seleção desde os 15 anos. Com 17, foi eleita a melhor do Mundial de 2015, na Tailândia, quando o Brasil foi vice-campeão.
— A experiência foi muito maravilhosa, sem palavras. Em 2011, o Brasil ficou em último lugar e, agora, duas edições depois, fomos campeãs! — afirmou Tefy, em conversa com a reportagem pelo WhatsApp.
A campanha foi luxuosa. Seis vitórias em seis jogos, com 49 gols marcados e somente cinco sofridos. Na final, uma goleada por 4 a 0 sobre a Polônia garantiu o alto do pódio. As regras são as mesmas para os atletas ouvintes. Apenas os árbitros usam bandeiras para sinalizar as marcações.
Quase mais difícil foi chegar até a Suíça. Com exceção de duas empresas que ajudar a bancar a alimentação, o restante dos custos foram divididos entre as atletas e a comissão, comandada pelo técnico Vanderlan da Silva. A gaúcha, que já nasceu surda, festeja a conquista, mas também lembra de algo que incomoda a quem pratica esporte no país:
— Aprendi muito a ser dependente da vida, correr em busca dos sonhos, mesmo enfrentando muitas dificuldades e sem apoio do governo.
Quem vê os méritos de Stefany pode imaginar que ela passa o dia jogando. Nada disso. Estudante de Educação Física, estuda todas as noites. De manhã, ela é estagiária na Escola Othelo Rosa. De tarde, é monitora na URI (Universidade Regional Integrada).
— Treino apenas nos sábados e nos domingos no time Nacional, aqui de Erechim. Com a Seleção, me reúno uma vez por mês em Jundiaí-SP. E represento também a Associação Balneário Camboriú, de surdos.
Um dos motivos que a faz ser atleta é o irmão Jean, que também é surdo. Eles moram juntos.
— Aprendi a jogar com ele!
Tefy tem uma irmã que mora em Porto Alegre. É a professora Josiane Roberta Krebs.
— Todos nós temos muito orgulho da Stefany e admiramos muito a sua força de vontade e determinação, pois ela nos mostra todos os dias que não existem limites quando temos um sonho. Essa conquista é muito mais do que um título, representa a comunidade surda, o futebol e futsal feminino e, acima de tudo, como o esporte é um caminho para a inclusão e respeito a todas as diferenças - afirma Josiane, que trabalha no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e pesquisa questões relacionadas à acessibilidade e inclusão de surdos.
Tefy já tentou jogar futebol de campo. No Inter, treinou por duas semanas, mas não foi possível organizar a vida na Capital. Mas é um objetivo que ainda mais vivo. Ainda mais que superou um drama no início do ano. Precisou fazer cirurgia de joelho e temeu não poder mais jogar. Mas a recuperação foi muito boa:
— Amo mais futsal, mas sei que o de campo tem mais apoio e organização.
MUNDIAL DE FUTSAL DE SURDOS
Campanha do Brasil
Fase de grupos
- Brasil 17x0 Suíça
- Gols de Stefany (4), Vanderleia (4), Suzana (2), Laelen (2), Andressa, Aline Flores, Soraia, Josiane e Murielly
- Brasil 7x0 Tailândia
- Gols de Laelen (3), Vanderleia, Suzana, Josiane e Murielly
- Brasil 11x0 Holanda
- Gols de Vanderleia (3), Suzana (3), Laelen (2), Elidiany, Andressa e Aline Flores
Quartas
- Brasil 2x1 Japão
- Gols de Serizawa (goleira, contra) e Laelen
- Semifinal
- Brasil 8x4 Alemanha
- Gols de Laelen (3), Stefany (2), Andressa (2) e Vanderleia
Final
- Brasil 4x0 Polônia
- Gols de Laelen, Vanderleia, Siarko (contra) e Suzana
- 6 jogos, 6 vitórias
- 49 gols marcados, 5 sofridos, 44 de saldo
- Artilheira da Seleção: Laelen (12 gols)