O técnico Vanderlei Luxemburgo faz um apelo à recuperação e manutenção da essência do futebol brasileiro de drible e improviso. Aos 67 anos, o "pofexô" enaltece jogadores criados e consagrados no futebol nacional, e questiona a preferência por técnicos mais jovens no mercado. O treinador do Vasco concedeu entrevista ao programa Show dos Esportes, na Rádio Gaúcha, na noite desta quinta-feira (14).
— Só no futebol que se fala que o velho está ultrapassado. Na medicina, no direito, o cara fica melhor, mais sábio. O jornalista fica mais experiente, a caneta fica melhor. No futebol, dizem que o técnico está ultrapassado depois de uma certa idade. Eu não me sinto ultrapassado, me sinto bem atualizado — ponderou.
Ele conta que antes de assumir o Vasco, já estava há um ano e meio sem trabalhar, mas recebia propostas de seleções sul-americanas e de clubes brasileiros e do exterior. Vanderlei Luxemburgo estava começando a gostar de estar fora do futebol, vivendo mais próximo de compromissos familiares como almoços de domingo e idas à praia. Segundo ele, a busca do Vasco pela grandeza foi o que fez ele voltar a aceitar um desafio como treinador.
— Meu trabalho é reconquistar o Vasco. Fazer com que o Vasco volte a ser respeitado com credibilidade no mercado. Que as pessoas queiram estar no Vasco. Que o Vasco possa cumprir com seus compromissos e buscar recursos no mercado do futebol. A história do clube é muito bonita, de grandes conquistas e não a recente de rebaixamentos — argumentou, definindo seu trabalho no alvinegro carioca como "gratificante".
Na comparação entre técnicos brasileiros e estrangeiros, Luxemburgo sustenta a preferência por profissionais que entendam a essência do nosso futebol. O treinador cita Felipão e sua escolha dos atletas que formaram a seleção pentacampeã em 2002:
— Eram jogadores criados na ideia de futebol brasileiro e consolidados com já com cinco ou seis anos de futebol nacional. Um futebol empírico, com capacidade de drible. Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Rivaldo, Cafu, Roberto Carlos, todos foram primeiro consagrados no futebol nacional e depois foram embora.
O técnico alerta que os jogadores da atual seleção estão saindo muito cedo para o futebol europeu, deixando de ter contato com as ideias brasileiras e sendo formados pelo modelo que não é o historicamente vitorioso.
— Não driblam, não fazem mais nada. Único que dribla e faz coisas diferentes é o Neymar porque se formou no Brasil e jogou quatro anos aqui. Foi campeão da Libertadores, da Copa do Brasil. Se formou dentro da nossa essência — opina.
COMO ENFRENTAR O FLAMENGO?
O Vasco de Luxemburgo protagonizou uma das grandes partidas do Campeonato Brasileiro, na noite desta quarta-feira (13), empatando em 4 a 4 com o líder Flamengo. O técnico avalia que o adversário era do tipo que propõe as ações do jogo, sempre com a posse de bola. Por isso, preparou seu time de maneira a incomodar os zagueiros rubro-negros. Para Luxa, o caminho foi adotar uma postura ofensiva:
— Tive de usar a velocidade dos lados, forçando o zagueiro deles a correr. Os zagueiros deles estão acostumados a jogar com a posse de bola. Botando velocidade em cima deles, você tira o conforto do zagueiro, força ele a ter que usar a velocidade contra velocistas.
LUXA NA DUPLA
Vanderlei Luxemburgo lembrou seus tempos de Grêmio e revelou que não foi procurado pela direção do Inter após a saída de Odair Hellmann. Para o técnico, o presidente Paulo Odone, responsável por sua contratação em 2011, foi o principal agente da projeção tricolor no cenário do futebol nacional.
Ele elogiou Porto Alegre, disse que tem muitos amigos especiais na capital gaúcha e revelou vontade de trazer a família para morar na cidade, porém, prefere não se precipitar na mudança.
— Vontade de voltar, sempre tem, é um lugar maravilhoso. Mas tem que ser com muita coerência e responsabilidade. Deixar as coisas acontecerem naturalmente.
Luxemburgo elogiou o trabalho de Renato Portaluppi no Grêmio, mas perguntado sobre qual estratégia o comandante gremista deveria adotar para encarar o Flamengo, domingo, na Arena, desconversou:
— Não vou ensinar o Renato, ele tem muita bagagem e experiência. O que eu fiz foi estudar futebol, que é minha maneira.