A Copa do Mundo de 2018 provocou uma transformação profunda no futebol da Rússia. Além de o campeonato local registrar um aumento expressivo na presença de público, a seleção russa apresenta resultados muito bons no pós-Copa. No aspecto cultural, o povo russo passou a interagir com visitantes de outros países uma forma que não se via em nenhum outro momento da história do país.
— A Rússia viveu um regime fechado durante muito tempo. O que eu mais pude perceber no início da Copa é que os russos não sabiam como receber os turistas, não entendiam muito bem a situação, com tantos estrangeiros ocupando as ruas e fazendo gracinhas. Já no final da Copa, eles interagiam normalmente com os turistas. Estive novamente lá em janeiro e vi um povo muito caloroso. Isso foi algo que me impressionou muito — relata o jornalista paulista Tomer Savoia, 34 anos, que viralizou nas redes sociais russas durante o Mundial, por conta de um vídeo em que aparece palavras de apoio à Seleção Brasileira em russo, com um sotaque que a população local achou engraçado.
A energia do povo russo com a Copa foi transformada em apoio para os times locais depois que o Mundial acabou. A média de público do campeonato local, que era de 11.414 torcedores por jogo em 2017, subiu para 16.820 em 2019. As torcidas de equipes como Zenit, FC Rostov, PFC Krylya Sovetov e FC Ural triplicaram os índices de comparecimento aos estádios neste período.
— A Copa do Mundo mudou o comportamento do torcedor. O povo russo já gostava bastante de futebol, mas, depois do Mundial, pelo que percebi que os torcedores estavam mais empolgados — relembra o atacante Pedro Rocha, do Cruzeiro, que atuou no Spartak Moscou até abril de 2019.
A seleção da Rússia também foi impactada pelos resultados da Copa. Contestada pela imprensa local e pela torcida antes do torneio, a equipe do técnico Stanislav Cherchesov surpreendeu o mundo e chegou às quartas de final, eliminando a poderosa Espanha nas oitavas.
Depois da Copa, a seleção russa disputou 10 jogos, venceu seis, empatou três e perdeu um, com um aproveitamento de 70%. Na Liga das Nações, a equipe do Leste Europeu ficou a um ponto de subir para a primeira divisão. Já nas Eliminatórias para a Euro 2020, está com folga na zona de classificação, ocupando o segundo lugar do Grupo I, atrás apenas da Bélgica.
— Temos hoje uma nova geração de jogadores, com uma mentalidade diferente daqueles dos anos 1990. Depois da Copa, mudou bastante a relação entre a seleção russa e a torcida. Agora, os russos gostam muito da seleção. Como a equipe está jogando bem, os torcedores têm muita vontade de assistir aos jogos, o que não ocorria antes — conta a jornalista russa Julia Yakovleva, correspondente do jornal português Record em Moscou.
Agora, as principais metas da Rússia são fazer uma boa campanha na Eurocopa em 2020 e pelo menos repetir no Catar, em 2022, o desempenho do último Mundial. Porém, o objetivo principal, de desenvolver o futebol do país, já foi atingido com êxito em 2018.