O Mundial 2018 foi definido pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino, como "a melhor Copa da história". Um ano depois da final entre França e Croácia, a Rússia registra um crescimento astronômico no futebol do país. Enquanto no Brasil a Copa 2014 deixou dezenas de obras inacabadas e fez cinco estádios virarem elefantes brancos, os russos testemunham melhorias na infraestrutura das cidades e um aumento expressivo no público das partidas locais. Dos 12 estádios da Copa de 2018, pelo menos 10 são muito bem aproveitados pelas equipes da primeira e da segunda divisão.
O dado mais impactante é o aumento na presença de torcedores nos estádios. Impulsionado pelas modernas arenas construídas e reformadas para o torneio de seleções, o Campeonato Russo apresenta casos em que a média de público dos clubes chegou a triplicar em apenas dois anos.
Em São Petersburgo, por exemplo, na temporada 2016/2017, o Zenit teve média de 18,5 mil pessoas por jogo – um índice similar ao da dupla Gre-Nal no Brasileirão. Já no último campeonato, finalizado em maio, o número disparou para 48,1 mil. No mesmo período, em Rostov, a média de público do FC Rostov saltou de 10,2 mil para 31 mil. Em Samara, o PFC Krylia Sovetov passou de 7 mil pessoas por jogo para 19,1 mil. Já em Ekaterimburgo, o público médio do FC Ural pulou de 5,3 mil para 15,7 mil, segundo dados do site Transfermkt.
— A atitude dos russos em relação ao futebol mudou. Após a Copa, o povo começou a ter mais interesse pelo esporte. Pessoas que nunca tinham assistido às partidas locais começaram a ir aos jogos. Depois do Mundial, o público nos estádios aumentou muito — conta a jornalista Julia Yakovleva, correspondente do jornal português Record em Moscou.
A segunda divisão russa também foi bastante beneficiada pelo impacto da Copa. Até o ano passado, o FC Nizhny Novgorod tinha média de público de apenas 5,1 mil torcedores por jogo. No último campeonato, o índice subiu para 15,2 mil. Já o caso do Rotor Volgogrado é ainda mais surpreendente. Em 2017/2018, o índice de presença era de apenas 3,7 mil pessoas em cada partida. No último campeonato, o número chegou a 18,7 mil.
— O efeito da Copa fica refletido principalmente no aumento da média de público. O futebol aqui cresceu. As pessoas têm se interessado mais e estão conhecendo mais os jogadores. A seleção russa também tem atraído mais gente aos estádios. Além disso, quase todos os estádios da Copa são utilizados em jogos da primeira ou da segunda divisão — relata o jornalista brasileiro Fábio Aleixo, que reside em Moscou desde fevereiro de 2018.
O único estádio da primeira divisão que não teve aumento na presença de público após o Mundial foi a Arena Kazan, casa do Rubin. Lá, a média de 9,7 mil torcedores permaneceu inalterada mesmo após o torneio.
— Quando fomos jogar contra o Rubin Kazan, tinha muito pouca torcida. Havia mais torcedores do Spartak do que do time da cidade. O estádio é muito bom e moderno, mas tinha pouco público — recorda Pedro Rocha, revelado pelo Grêmio e hoje no Cruzeiro, que defendeu o Spartak Moscou até abril de 2019.
Palco da final não recebeu jogos neste ano
Dos 12 estádios utilizados na Copa 2018, dois acabaram virando elefantes brancos. Curiosamente, um deles foi justamente o palco da abertura e da final. Reformado em 2017 pelo governo russo pelo equivalente a R$ 1,8 bilhão, o Luzhniki não é utilizado por nenhuma das equipes de Moscou. Em 2019, ainda não houve jogos no estádio. Após a final entre França e Croácia, houve apenas três partidas: todos jogos do CSKA na fase de grupos da Liga dos Campeões, no segundo semestre de 2018. O governo arca com os custos de manutenção e tenta atenuar o prejuízo com a realização de shows.
— O Luzhniki é muito usado para eventos musicais, como shows de Bon Jovi, Muse e Rammstein. Mas não há muitos jogos. Afinal, todas as equipes de Moscou têm estádio próprio. Por isso, há no Luzhniki muito mais eventos que não tem nada a ver com futebol. Para este ano, está prevista apenas uma partida, Rússia x Escócia, em outubro, pelas eliminatórias para a Euro 2020— explica Yakovleva.
O outro elefante branco é o Estádio Olímpico Fisht, em Sochi. Construído por R$ 2,3 bilhões para os Jogos Olímpicos de Inverno, em 2014, e com capacidade para 47,7 mil torcedores, o estádio é a casa do novato FC Sochi, clube fundado em junho de 2018, poucos dias antes do início da Copa. Logo na sua primeira temporada, a equipe surpreendeu e conquistou o acesso para a primeira divisão. A média de público, no entanto, foi de apenas 3,7 mil torcedores.
— O FC Sochi é um clube muito novo e que ainda tem uma base pequena de torcedores. Além disso, o estádio é muito grande. Acho que o clube pode aumentar o seu público agora na primeira divisão, por conta dos turistas da cidade. Afinal, Sochi é uma cidade muito turística e que recebe visitantes o ano todo. Acho que alguns desses turistas podem comparecer aos jogos como parte dos passeios — acredita o jornalista Dmitriy Zelenov, do jornal Sport-Express, de Moscou.