Os favoritos não tiveram terreno fértil na Copa América deste ano. A última partida na Arena do Grêmio foi a prova disso. Muitos dos que compraram o ingresso para a semifinal esperavam um duelo com equipes de maior grife. Menos mal que Peru x Chile fizeram uma boa partida, brindando os 33 mil torcedores que compareceram à Arena.
— Compramos o ingresso sem saber qual seria a partida. Eu queria Colômbia x Uruguai, mas foi bom ver o Chile também, que é o atual campeão. Mas preferi que o Peru vencesse. Vai ser mais fácil para o Brasil na final — disse o caxiense Luan Garcia, que vestia a camisa da Seleção comandada por seu conterrâneo Tite.
Quem transformou a frustração em oportunidade foi o colombiano Alvaro Castaño. Mesmo com seu país eliminado na fase anterior, o senhor de 61 anos veio direto de Manizales para fazer turismo e acompanhar o jogo de sangue doce, fardado de amarelo da cabeça aos pés.
— A Colômbia era a favorita. Comprei o bilhete para a semifinal e final. Eu já tinha as passagens compradas, então resolvi vir e desfrutar do ambiente das cidades e ter a experiência de viver uma Copa América.
Mas quem se fez presente nas arquibancadas teve de enfrentar o frio. Quando a bola rolou, o termômetro marcava 10 graus. Por isso, o jovem peruano Coco Díaz, que vestia apenas uma camisa de manga curtas, tentava se aquecer aos pulos e gritos.
— Vim para cá no jogo contra a Venezuela, não estava tão frio — disse ele, anunciando que seguirá para o Rio de Janeiro já nesta quinta-feira.
Talvez os jogadores peruanos tenham pensado o mesmo: para encarar o frio, deviam se movimentar dentro de campo. Então, colocaram fogo na partida desde o início. Com dois minutos, Cueva já havia perdido uma grande oportunidade de abrir o placar. Aos 20, Flores não desperdiçou a outra chance: 1 a 0. E não foram só os peruanos que comemoraram o gol. O estudante Gustavo Zimmer, natural de Feliz, balançava uma bandeira do Peru ao lado dos amigos.
— Sou gremista, mas estou torcendo pelo Peru por causa do Paolo Guerrero. Admiro muito o estilo de jogo dele. Para mim, é um dos melhores atacantes da América.
O jovem não estava sozinho nesta empreitada. A Arena do Grêmio nunca esteve tão vermelha. Além de camisas de Chile e Peru, alguns colorados também aderiram à causa do centroavante e ajudaram a empurrar a equipe para cima do favorito Chile. O apoio deu resultado: aos 37, Yotún aumentou a vantagem e fez o time andino rumar para o vestiário com 2 a 0.
Mas o Chile precisava reagir. Não só para defender o título, mas também para compensar a viagem de Iris Muñoz que, acompanhada da filha Isidora Bascuñan, veio de Santiago apenas para assistir ao jogo em Porto Alegre.
— Estávamos vendo os pênaltis contra a Colômbia e fizemos uma promessa: se o Chile vencesse, iríamos vir ao Brasil. Eles colocaram muita raça e nós dissemos: "Vamos ao Brasil!".
Na lembrança das duas estava a bela campanha de 2015, quando o Chile foi mandante e acabou campeão.
Daquela vez, fui a um jogo com o meu pai. Mas agora ele não quis vir. Estava com medo de chegar aqui e perder o jogo contou a jovem Isidora, de 16 anos.
Pois é, Isidora. Ele talvez tivesse razão. Na melhor oportunidade chilena, em contra-ataque puxado pelo ex-gremista Vargas, cresceu a estrela do goleiro Gallese.
— Sou torcedor do Universitario, mas eu gosto dele apesar de ser meu rival (joga no Alianza Lima). Pegou tudo em um 0 a 0 contra a Argentina, em Buenos Aires, pelas últimas Eliminatórias. Sou fã dele— comemorou Sergio Jacinto, que saiu de Lima para vibrar com sua seleção em solo brasileiro.
Assim, Porto Alegre se despediu da Copa América. Após cinco jogos, envolvendo nove times diferentes e tantas histórias para contar. A partir de agora, o Rio Grande do Sul acompanha à distância o desfecho do torneio, com a certeza de que o futuro campeão passou por aqui.