O Peru que enfrentará o Brasil na decisão da Copa América, no Maracanã, será bem diferente daquele que tomou uma goleada duas semanas atrás, pela fase de grupos, em partida disputada na Arena do Corinthians. Não foi só a ponte aérea São Paulo-Rio que mexeu na equipe de Ricardo Gareca, levando aquele 5 a 0 da última rodada da chave A a se transformar em uma finalista da competição continental. Os dois jogos seguintes, na etapa eliminatória, deixaram claro que a Seleção pode ter problemas para levantar o troféu.
A principal mudança no time foi no aspecto psicológico. O técnico Ricardo Gareca fez um trabalho forte para recuperar o ânimo dos jogadores, abalado depois da pancada sofrida na casa corintiana. Foi um sábado em que tudo deu errado para os peruanos, e tudo certo para os brasileiros. A começar pelo gol cedo, de Casemiro, seguido pela trapalhada do goleiro Gallese, que chutou a bola em cima de Firmino, no 2 a 0. Os demais gols foram consequência do desespero. Além do péssimo resultado em campo, ainda houve a lesão de Jefferson Farfán, considerado um dos ídolos do país, companheiro de ataque de Paolo Guerrero. Assim, o treinador pediu ajuda ao ex-meia peruano Juan Cominges, que presta serviço como uma espécie de motivador dos atletas.
— Temos um psicólogo, um coach e isso é importante porque agregamos outras áreas ao corpo técnico e nos fortalecemos — explicou Gareca.
O lateral-esquerdo Trauco concordou:
— Todos ficamos muito tristes depois da derrota para o Brasil. Mas aprendemos, ganhamos forças e agora estamos prontos para fazer o melhor.
Afora a questão mental, o time teve uma leve alteração. Taticamente, não ocorreu uma mudança drástica. O time segue sem se importar em ficar sem a bola, deixando o adversário controlar as ações e investindo nos contra-ataques. Fecha duas linhas de quatro jogadores, libera um jogador para ser o escape e mantém Guerrero entre os zagueiros. O que mudou foi um aumento de velocidade depois que Farfán saiu. O time perdeu qualidade, mas ganhou rapidez, com Carrillo em uma ponta e Flores na outra. Cueva tem a missão de armar. O centroavante do Inter é o responsável por segurar a bola, fazer o time respirar e dar andamento ao ataque.
Contra o Chile, essa característica funcionou bem, pela passagem dos extremas. Everton observou:
— Assistindo ao jogo da semifinal, avaliando, é um time que tocou bastante a bola, teve posse de bola, e foi bem efetivo no ataque. Nas chances que tiveram, fizeram os gols. Creio que vamos trabalhar em cima disso pra neutralizar os pontos fortes.
Técnico da seleção peruana entre 1993 e 1994, o ex-atacante do Santos Pepe elogia o time:
— Peguei um time esfacelado, ainda traumatizado pelo acidente aéreo que matou vários jogadores do Alianza Lima. Mas mesmo naquele ambiente, pude notar que os peruanos em geral têm qualidade, sabem jogar. Aos poucos, foram ganhando mais responsabilidade. Quando eu jogava, sabíamos que eles vinham para cá pensando em ir dançar e aproveitar a vida. Agora, não. Eles estão mais fortes.
A tarefa de Tite será fazer que a goleada da primeira fase não desconcentre seus jogadores. Há vários exemplos de superação em jogos decisivos, como a Copa do Mundo de 1954, quando a Hungria massacrou a Alemanha na chave e perdeu a decisão.