Cinco anos depois de garantir a vitória argentina contra a Nigéria na Copa do Mundo e ser ovacionado no Beira-Rio, Lionel Messi volta a Porto Alegre para enfrentar o Catar pela fase de grupos da Copa América. Fãs brasileiros e hermanos devem se unir na torcida pelo craque do Barcelona na Arena do Grêmio, às 16h deste domingo (23). Em 24 de junho de 2014, o camisa 10, então melhor do mundo pelo quarto ano, comemorou o aniversário de 27 anos aqui.
A expectativa dos seus admiradores é de que tenha novamente motivos para celebrar em solo gaúcho, desta vez, seu 32º “cumpleaños” – depois de um desempenho ruim na Copa do Mundo em 2018, o time de Messi estreou na Copa América perdendo por 2 a 0 para a Colômbia em Salvador e ficou no empate em 1 a 1 com o Paraguai em Belo Horizonte. A Argentina vai para o jogo contra o Catar precisando da vitória.
De aniversariante para aniversariante, esse é o desejo de João Miguel Menezes de Azevedo, que ganhou ingresso para ver o ídolo ao completar nove anos. Recebeu o presente da família enquanto tomava café da manhã no dia 8 deste mês.
– Ele ficou bem faceiro, não estava esperando. Já está com a camisa da Argentina separada pra ir – relata a mãe, a psicóloga Fabiane Menezes Azevedo, 49 anos.
João Miguel é tão fã de Messi que passa horas no computador vendo vídeos, aprendendo curiosidades e detalhes da história do ídolo. Quando se reúne com o primo Rafael, sete anos, fã do português Cristiano Ronaldo, sai de perto: a rivalidade nas discussões é parecida com a dos campos. Enquanto pergunta para a mãe quantos dias falta para o jogo, João Miguel garante o bom desempenho do camisa 10 no videogame. Gaba-se que, no seu controle, o craque já chegou a marcar cinco gols contra o Liverpool.
Em outro apartamento de Porto Alegre, no bairro Jardim Europa, a expectativa para domingo não é menor. Depois de grande insistência de Gabriel, 8 anos, e Leonardo, 11 anos, o pai, Luis Alberto Purper, 43 anos, acabou cedendo: comprou ingressos para a família toda assistir ao jogo contra o Catar.
Os dois pequenos se orgulham da sua nacionalidade: ambos nasceram na Argentina, em um período em que Purper, que atua com exportação de alimentos, mudou-se ao país vizinho a trabalho com a esposa. A animação é tão grande porque vão ver o ídolo ao vivo pela primeira vez. Quando os meninos encontraram a figurinha de Messi para a coleção da Copa do Mundo, foi uma “gritaria geral” em casa. Levaram o álbum para a escola para mostrar aos coleguinhas que a Argentina foi a primeira seleção que conseguiram completar.
Na edição da Copa no Brasil, o mais velho foi com o pai ao jogo de Honduras e França, e sentaram-se próximo de argentinos. No bate-papo, Leonardo contou que nasceu na Argentina, e o novo amigo lhe deu o cachecol azul e branco que usava, dizendo-lhe que foi Messi quem mandou. É um dos bens mais valiosos para o guri.
– Nunca tive chance de ver a Argentina jogar ao vivo, é um sonho antigo. E o Messi, quando entra em campo, tu sabe que ele vai jogar bem. Ele faz a diferença – diz Leonardo, que também usa uma chuteira dourada da linha do craque nos seus jogos da escolinha.
A mãe, Melissa Pereira Cardoso, 40 anos, conta que o caçula também fica nervoso na frente da TV em dias de jogo. O plano de Gabriel para o futuro não podiam ser outro.
– Meu grande sonho é virar jogador da Argentina – diz o garoto.
Um templo para devoção ao ídolo
Dono de um “buteco porteño” no bairro Rio Branco, Alfredo Enrique Navarro, 42 anos, deve esperar de braços e portas abertas os hermanos que moram em Porto Alegre ou que vierem da Argentina para curtir a cidade em época de Copa América e, por algum motivo, não conseguiram ou não quiseram comprar ingressos para o jogo de domingo.
O argentino, que já mora aqui há 20 anos, até gostaria de ir ver Messi pessoalmente, mas deve trabalhar no El Farol.
– A não ser que ZH consiga ingresso para mim – emenda rapidamente, aos risos.
Bem como na Copa do Mundo e em partidas do Boca Juniors, o bar tem exibido os jogos da seleção argentina na Copa América. O clima não podia ser mais propício, com fotos do papa Francisco, bandeiras do Boca, pôsteres de Maradona, camisas da Argentina como elementos da decoração e sanduíche de entrecot e empanadas no cardápio – além de cervejas, é claro, e Fernet, uma bebida alcoólica amarga obtida por meio da maceração no álcool de ervas e raízes.
Navarro ressalta que brasileiros dispostos a torcer pelo rival histórico também são bem-vindos. Se quiserem secar, ele sugere ir até a esquina, em outro bar.
– Se forem contra, prefiro que não venham.
Apesar dos resultados ruins, Navarro está confiante para a partida de domingo. Acredita que a Argentina ainda “tem grandes chances de classificar”.
– A esperança é a última que morre – garante.
Dois gols na primeira passagem pela Capital
Lionel Messi foi elogiado pela “atuação de luxo” contra a Nigéria na partida em Porto Alegre em 2014, a última da fase de grupos, considerada a melhor da Argentina na Copa até então. Em um Beira-Rio pintado de azul e branco, o camisa 10 marcou duas vezes na vitória por 3 a 2.
Messi abriu o placar após jogada inusitada, em que Di María bateu da esquerda e viu a bola acertar o pé da trave e voltar nas costas de Enyeama. Na sobra, o craque do time não perdoou e fez o gol da marca do pênalti.
Mais para o final do primeiro tempo, houve duas cobranças de falta quase idênticas: primeiro, ele bateu no ângulo e viu Enyeama saltar para fazer grande defesa aos 43 e, dois minutos depois, Messi finalizou do mesmo ponto, no mesmo ângulo, no lado direito do ataque, e o goleiro nigerino nem foi na bola.
O resultado garantiu aproveitamento 100% da Argentina, terminando na primeira colocação no Grupo F – a seleção iria até a final, contra a Alemanha, onde perdeu com gol de Götze.
Antes de entrar em campo, na zona norte da capital gaúcha, onde a delegação estava hospedada, Messi admitiu que ficou impressionado com a quantidade de fãs em frente do hotel Deville. Disse que estava feliz por jogar em Porto Alegre “por causa da proximidade com a Argentina”.
– É como se estivesse em casa – afirmou o craque na época.