Ainda que bem-intencionado, o governador Eduardo Leite errou miseravelmente ao vetar a comercialização de bebidas alcoólicas nos jogos de futebol do nosso Estado. O cerne do problema não é o álcool: há um elemento propulsor de violência muito mais significativo, decisivo e impactante nas imagens de brigas que correm semanalmente pelos quatro cantos do país, e que ficou completamente à margem da necessária discussão acerca da segurança nos estádios. As torcidas organizadas são o nascedouro, a mola propulsora e, certamente, serão o fim da linha para o problema das brigas dentro e fora das arenas.
Embora muito antigas, as organizadas passaram a mostrar sua face violenta no Brasil a partir dos anos 1990, quando as confusões e brigas generalizadas, muitas delas resultando em mortes, passaram a ser cada vez mais frequentes. Gestados na excelente ideia da mobilização coletiva em defesa do time do coração, estes grupos perderam a linha ao passarem, paulatinamente, a se tornarem profissionalizados. A remuneração das torcidas foi o prólogo de uma história cujo final, definitivamente, não é feliz.
Enquanto discutimos a quase inocente liberação da cerveja, estes grupos enfrentam, em seus centros nervosos, episódios diários de disputa de poder, de vaidade e de recursos financeiros, deflagrando alianças e rivalidades latentes com outras torcidas organizadas em todo o Brasil e propagando, em pequena, média e grande escalas, capítulos semanais de violência dentro e no entorno dos estádios. Além disso, vetar a comercialização de bebidas alcoólicas nos jogos devido à grande concentração de pessoas é como chancelar que, amanhã ou depois, o poder público proíba a venda de cerveja em festivais de música, em manifestações culturais ou em casas noturnas.
E remunerar o torcedor é a antítese do sentido da torcida. A paixão pelo clube deve ser visceral, irracional e quase cega, e não pode denotar qualquer tipo de interesse. Porque o torcedor existe para servir ao clube, e não o clube para servir ao torcedor. E porque o futebol é o oposto da violência, é o ópio do povo, é onde terminam os nossos problemas. Lutemos contra a profissionalização das torcidas e a institucionalização da violência. Contra as organizadas e a favor da nossa cerveja. E festejemos emocionados as vitórias dos nossos times, abraçados a desconhecidos, brindando ao final.