Ao contrário da natural ansiedade que antecede o primeiro Grand Slam do ano, o Aberto da Austrália 2019 terá um significado diferente. Em meio a um clima melancólico, a temporada inicia na noite deste domingo (13), em Melbourne, com o mundo do tênis tentando assimilar a surpreendente notícia que abalou jogadores e torcedores: uma possível aposentadoria do britânico Andy Murray, aos 31 anos, após o torneio em solo australiano.
Três dias antes do começo de uma das quatro competições mais importantes do circuito mundial, na noite de quinta-feira (sexta na Austrália), o tenista desabou emocionalmente. O tom foi de desabafo. No media day, tradicional dia de coletivas que antecede o torneio, o britânico anunciou que vai se despedir das quadras neste ano.
— É possível que o Aberto da Austrália seja meu último torneio — declarou, entre lágrimas. — Não me sinto bem. Tenho tido dificuldades há muito tempo e sentido muitas dores nos últimos 20 meses. Fiz praticamente tudo o que podia para melhorar a minha lesão no quadril — completou, aos prantos.
O britânico explicou que pretende jogar, ao menos, até Wimbledon, dentro de casa. Contudo, as dores no quadril fazem com que ele não descarte parar antes. São dois anos diretos de luta contra o forte incômodo. Ele passou por uma cirurgia há um ano e, na quinta-feira, reencontrou-se com o cirurgião. Disse que uma nova intervenção não está descartada, mas, caso a faça, será após o fim de sua carreira para melhorar a qualidade de vida.
— Todo mundo se comoveu bastante devido à importância que Murray tem no tênis. Construiu uma tremenda carreira em uma época difícil, no momento do auge de Nadal, Federer e Djokovic. Os feitos que ele tem são enormes. Me pegou de surpresa, é um choque. Espero que ele possa terminar a carreira dele de uma forma mais honesta, mais convincente. Que ele possa ter uma despedida digna. É um cara que merece muito — afirmou o ex-tenista gaúcho André Ghem, comentarista dos canais ESPN.
Roger Federer, 37 anos, teve lesões nas costas e no joelho após os 30. É o número 3 do mundo. Rafael Nadal, de 32 anos, pode contar nos dedos os locais do corpo que ainda não sofreram contusões. É o 2 do mundo. Novak Djokovic, 31 anos, venceu tudo o que podia nos últimos seis meses para voltar ao topo do ranking.
Exemplos suficientes de superação para o mundo do tênis acreditar que Murray seria mais uma prova de que o chamado "Big Four" era indestrutível. No entanto, a carreira do britânico sempre demonstrou que não seria tão fácil assim. Com 45 títulos, entre eles dois Wimbledon (2013 e 2016), um Aberto dos Estados Unidos (2012) e duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos (2012 e 2016), Andy Murray pode estar fazendo de cada partida em Melbourne a sua última na carreira.
Briga por marca histórica
Novak Djokovic e Roger Federer travarão uma briga silenciosa. O sérvio e o suíço chegam a Melbourne com o objetivo de desempatar um placar histórico. Ambos possuem seis títulos cada no Aberto da Austrália. Para Djokovic, o ano de 2018 foi mágico. Após figurar fora do top 20 da elite do tênis, o atleta de 31 anos apresentou um último semestre fora do comum. Venceu tudo o que podia e voltou a ser número 1 do mundo. Já Federer teve um 2018 irregular. O suíço de 37 anos vai deixar o top 5 do ranking caso não chegue pelo menos à semifinal.
— Ninguém larga na frente. Djokovic vem em uma fase muito boa, dominando o circuito. Mas nunca podemos subestimar a genialidade do Roger Federer. A chave dele está muito boa, pode surpreender. Na Hopman, mostrou evolução no jogo dele em relação a 2018. Acho que eles entram no Aberto da Austrália em igualdade de condições — comentou Eusébio Resende, narrador de tênis dos canais SporTV.
Brasileiros em ação
O Brasil terá apenas dois representantes no primeiro Grand Slam do ano: Bruno Soares, nas duplas masculinas, e Bia Haddad Maia, no simples feminino. Com dores nas costas, o também duplista Marcelo Melo anunciou sua desistência do torneio no início do ano.
Bia Haddad, número 176 do ranking, fez três belíssimas apresentações no qualifying e conseguiu uma vaga na chave principal. Sua primeira adversária será a americana Bernarda Pera, 69 do mundo. Enquanto Bruno Soares, número 7 do mundo, ao lado do britânico Jamie Murray, ainda não teve seu primeiro adversário divulgado.
Nova regra
A partir deste ano, o torneio vai adotar o match tie-break — igual ao das duplas — no caso de sets decisivos empatados em 6/6. Quem chegar primeiro aos 10 pontos, com uma diferença de dois, vence. Isso vale para o quinto set masculino na chave de simples, assim como para o terceiro set das simples femininas.