A discussão sobre ter ou não ter a posse da bola foi bem acirrada ano passado e promete seguir na pauta em 2019. Frente a isso, o Observatório do Futebol CIES lançou um estudo relacionando a posse de bola com a capacidade de vitória e conquistas de títulos em 35 ligas europeias.
Foram analisadas 19.949 jogos junto com o InStat, maior plataforma de dados de futebol no mundo. E a resposta foi bem prática:para ser campeão, um time nos pontos corridos pode até entregar a bola ao adversário (principalmente quando já estiver vencendo o jogo), mas no longo prazo, levanta taça quem tiver a bola mais tempo que os adversários.
O estudo levou em consideração três fatores para correlacionar com a diferença de gols marcados: média de posse, média de passes certos e média de passes certos no último terço de campo. Além disso, foram analisados jogos nas temporadas 2016/201717 e 2017/2018 em 30 ligas de primeira divisão e cinco de segunda divisão (Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália).
As ligas onde a posse não é fundamental para vencer títulos são geralmente aquelas onde a qualidade técnica é menor, e a competitividade dos jogos tende a ser mais emparelhada "para baixo". A segunda divisão da França e da Itália, e as primeiras divisões de Dinamarca, Eslováquia e Suécia lideram com os campeões com menor posse.
Já as primeiras divisões de Alemanha, Inglaterra, Escócia e Ucrânia lideram com os campeões com mais posse de bola. O que mostra a verdadeira soberania desses campeões, pois tratam-se de ligas muito competitivas, de alto nível de intensidade e qualidade técnica. Detalhe: o Manchester City de Guardiola é o campeão com mais posse. O Bayern, time anterior do treinador espanhol, é o segundo. Os números mostram a imensa influência do catalão no futebol.
Onde a posse faz diferença
A primeira correlação é entre a diferença de gols e a média de posse de bola. Vemos no gráfico abaixo que, entre 43% e 57% de posse, a linha fica mais regular. Ou seja, não há muita diferença. A coisa muda quando o time passa a ter mais de 58% de posse, aumentando consideravelmente a possibilidade de ter uma diferença maior de gols que o adversário.
Na segunda correlação estudada, a média de passes certos se torna fundamental para aumentar a diferença de gols. Entre 40% e 60% de acerto de passe tende a ser times que trabalham para empatar suas partidas. Acima de 80% de acerto de passe na média mostra a capacidade goleadora dos times (e de ganhar pontos).
A terceira correlação é entre a diferença de gols e a média de passes certos no último terço, ou seja, aquela posse perto do gol adversário e que mostra hierarquia do time. Aqui a curva é bem clara: abaixo de 40% de acerto, o time tende a perder. Acima de 70% de acerto de passe nessa área do campo, é praticamente certa a conquista de gols e de pontos. Quer vencer jogos e campeonatos? Acerte passes no último terço de campo.
Pontos corridos: tenha a posse de bola
É claro que em torneios mistos ou de mata-mata não se aplicam tais valores. Eles são referentes a torneios longos e de pontos corridos, onde os processos terminam sendo padronizados por médias. E os valores do CIES e da InStat nos permitem diversas análises diferentes.
Mas o fato é que os times mais ambiciosos, aqueles que entendem que precisam ter a hierarquia das partidas (mesmo quando entregam a bola ao adversário), sabem que precisam construir chances de gol a partir da posse da bola. Os 70 campeões nas 35 ligas analisadas em duas temporadas seguidas, tiveram a média de 57% de posse em suas campanhas. Menos que isso, são as exceções que tornam o futebol apaixonante.