Rafael Sóbis retorna ao Inter pela terceira vez e agora com o maior desafio de sua carreira: reinventar-se como jogador e manter o alto nível de competitividade. Muito se fala da sua utilização como centroavante do Colorado, mas, ao meu ver, isso vai forçar uma mudança no modelo de jogo de Odair Hellmann.
O jeito de jogar do Inter de 2018 sempre precisou de um centroavante que desse profundidade e prendesse os zagueiros na área. Quem fazia isso era Damião. Sempre que ele não jogava, o time sofria pra construir, inclusive, quando era reativo. Todo mundo sabe que Sóbis não é esse jogador. Pode ser outro, mas não é esse 9 da referência e combate com os zagueiros.
Reinventar-se como jogador não deve ser um processo tão difícil dada a inteligência tática e qualidade técnica do jogador, além do bom trabalho de Odair no coletivo. Mas mesmo assim, depende dele querer ser um novo Rafael Sóbis. Digo "novo" porque aquele extrema de velocidade, rompedor, vencedor de embates individuais com vigor e dinamismo, não existe mais. Para render neste Inter de transições rápidas e força física, Sóbis precisará renascer.
Nos últimos jogos do Cruzeiro no Brasileirão 2018, Mano Menezes já usava o atacante de forma mais recuada, ocupando uma faixa mais central do campo. Pegando os mapas de calor dos jogos onde Sóbis atuou por mais de 60 minutos, vemos algo interessante: sua disposição de jogar em diferentes setores do campo.
Se contra o Atlético, no clássico mineiro, ele frequentou mais o corredor esquerdo, contra o Vasco, em São Januário, flutuou mais livremente pelo terço central, servindo de apoio à construção. Já na partida contra o Paraná, Sóbis foi um meia pela direita e com forte presença na área. Algo a destacar nos três jogos é a forte presença como cobrador de escanteios.
CRIATIVIDADE E CRIADOR DE CHANCES DE GOL
Rafael Sóbis tem uma excelente média de Passes Chave Certos (assistências + passes de ruptura) nos últimos 60 jogos: 3.8 por jogo. Isso significa que ele é um excelente criador de jogadas, um jogador com visão de jogo e inteligência para ler o contexto da partida. No Brasileirão, a média caiu bastante para 0.3 por jogo, mas não tira a certeza de que o atleta pode ser um bom meio-campista.
Se formos ver onde Sóbis recebeu passes nos jogos dos últimos 2 anos, encontraremos um jogador que frequentou muito o corredor esquerdo, principalmente no quadrante esquerdo final (485 passes recebidos) e o quadrante esquerdo central (388 passes recebidos).
No quadrante central final, espaço geralmente frequentado por centroavantes, é apenas o sexto lugar onde ele mais recebeu passes (223). E um detalhe importante: NENHUM passe recebido dentro da pequena área. Que tipo de centroavante não recebe passes na pequena área?
IRREGULAR E POUCOS GOLS
Outra coisa importante para um centroavante é fazer gols. E Sóbis não tem feito muitos. No Brasileirão, foram apenas três. Na métrica de Valor Esperado de Gol (expected goals - xG), Sóbis tem 4.13xG. Ou seja, era para ter marcado 4 gols e acabou apenas com 3. Fez menos do que poderia ter feito, não foi eficiente. Com a média de 1.6 finalização por jogo e 39% de acerto, é bem pouco para um centroavante.
Analisando a linha de porcentagem de acertos nas ações da partida, pode-se ver o quanto Sóbis foi irregular nos últimos 10 jogos de 2018 (Brasileirão e Libertadores), variando entre 50% e 90% de acerto nas partidas. Normal para um atleta de sua idade, mas no Inter vai precisar ser mais regular em campo.
Pelo o que significa para o clube e a torcida, por ser um jogador multicampeão, por ser uma liderança positiva, Sóbis já justificaria sua contratação. Mas trata-se também de um bom jogador tecnicamente e que precisa entendimento de todos para reinventar-se. Talvez como meia ou como interno, centralizado em uma linha de 3 ou ao lado de um dos meias na linha de 4. Há futuro para Sóbis no Inter — talvez não como centroavante.
Todos os dados e gráficos são fornecidos pela InStat.