Elogiar a escola gaúcha de treinadores é chover no molhado. Porém, um fato inédito pode acontecer nesta temporada: pela primeira vez, dois técnicos nascidos no Rio Grande do Sul vencerão as principais competições nacionais. Desde que a Copa do Brasil foi criada, em 1989, isso nunca aconteceu. Agora, considerando que Felipão concretize no Brasileiro o favoritismo com seu Palmeiras, se somará a Mano Menezes, que há um mês conquistou a Copa com o Cruzeiro.
Nem mesmo nos anos 1990, com o Grêmio, Felipão teve a companhia de outro gaúcho no pódio – do outro lado havia o carioca Vanderlei Luxemburgo ou o paranaense Levir Culpi. Quando Tite (hoje na Seleção Brasileira) levou o Corinthians aos títulos nacionais recentemente, dividiu holofotes com o mineiro Marcelo Oliveira, por exemplo. Portanto, estamos muito próximos de assistir a um feito histórico.
Digamos que, caso os palmeirenses deem mole (o que parece impensável), ainda existe a revelação Odair Hellmann, que pode fazer o Inter abocanhar os pontos corridos. Mais um gaúcho! Uma pena Renato Portaluppi, com seu Grêmio, não ter repetido a conquista da Libertadores, para expandir essa hegemonia ao continente. Ainda assim, há esperanças de ver o santa-mariense Tiago Nunes erguendo a taça da Copa Sul-Americana com o Atlético-PR.
Sei que é bairrismo, mas me alegra ver o Rio Grande sendo bem representado. Há mais de 10 anos, a Seleção é treinada por gaúchos: Dunga, Mano, Felipão e Tite. Para que esses colhessem os frutos, é preciso lembrar daqueles que semearam no passado. É dever saudar o pouco citado Pedro Otto Bumbell, natural de Taquara e que foi campeão com Porto e Atlético de Madrid nas décadas de 1950 e 1960. Ou Oswaldo Rolla, o Foguinho, que encarou de igual para igual o grande Real Madrid de Puskas no Santiago Bernabéu, quando ainda treinava o Cruzeiro, de Porto Alegre.
Como se esquecer do "retranqueiro" Carlos Froner, apontado por Felipão como seu mentor? Ou de Oswaldo Brandão, ídolo de corintianos e palmeirenses? Isso sem falar no "seu" Ênio Andrade, primeiro técnico a conquistar o Campeonato Brasileiro por três clubes diferentes – Inter, Grêmio e Coritiba. Enfim, para que a atualidade seja de bonança, muito mato foi aberto a facão por esses desbravadores. Portanto, o sucesso de hoje é dos pioneiros também.