A solidez defensiva é uma das marcas do Palmeiras de Luiz Felipe Scolari. Apesar de ter um dos elencos mais qualificados do país, a equipe de Felipão prioriza a proteção da zaga, o contra-ataque e o futebol de resultados. Apesar da eliminação na Copa do Brasil, na última quarta (26), a estratégia está dando certo. O time paulista é forte candidato tanto no Brasileirão como na Copa Libertadores.
Felipão é um treinador que prega mais o jogo direto
ANDRÉ GALVÃO
Jornalista da Rádio Transamérica, de São Paulo
— Taticamente, o time mudou com o Felipão. O Roger (ex-técnico, demitido em julho) valorizava muito a posse da bola e marcava muitas vezes de maneira adiantada. Já o Felipão não tem vergonha alguma de colocar a equipe do meio para trás, com linhas bem próximas e muita gente defendendo na área. É um time que ataca menos, mas sofre menos gols. Tem como marca zagueiros muito protegidos. Há uma preocupação clara de primeiro defender bem para só depois, se der, atacar com qualidade — avalia o comentarista Raphael Prates, da Rádio Globo, de São Paulo.
Os números respaldam a estratégia defensiva de Felipão. Em 16 jogos sob o comando do treinador, o Palmeiras sofreu apenas cinco gols. Nos 40 jogos oficiais em que a equipe foi dirigida por Roger Machado, foram 31 gols sofridos. A média caiu de 0,7 para 0,3 gol sofrido por jogo. Por outro lado, o rendimento do ataque caiu. Com Roger, foram 69 gols marcados em 40 jogos, uma média de 1,7 gol por jogo. Já com Felipão, o time anotou 19 gols em 16 jogos, uma média de 1,1 gol por jogo.
— Ofensivamente, o Palmeiras não tem um grande repertório de jogadas. É um time que não tem vergonha de atuar por um placar de 1 a 0, fazendo um gol cedo e depois especulando em contra-ataques — completa Raphael.
Outra mudança ofensiva é a forma de se chegar ao gol adversário. Com Felipão, a valorização da posse de bola deu lugar a mais objetividade.
— Com a bola nos pés, há a grande diferença, que é a ligação direta. Ele é um treinador que prega mais o jogo direto, a bola alçada para o centroavante fazer a casquinha, aquela coisa mais primitiva. O time agora troca menos passes e chega mais diretamente ao gol. O básico que o Felipão pediu foi para fazer a ligação mais direta para o ataque, porque a defesa não pode ficar desprotegida — ressalta o jornalista André Galvão, apresentador da Rádio Transamérica, de São Paulo.
Como todo bom time que adota o futebol de resultados, o Palmeiras tem uma bola parada forte e perigosa, seja nas cobranças diretas, na bola alçada na área, ou até no lateral.
— O Palmeiras se vale demais da bola aérea, à procura de Miguel Borja, o que explica tantos gols de centroavante desde a volta do Felipão. Até o arremesso lateral vira bolça alçada desde o primeiro minuto. Porém, o tripé de meio-campo, com Felipe Melo, Bruno Henrique e Moisés sofre para criar. O Felipe Melo é um volante antigo, que joga só no círculo central e vai para a área apenas na bola parada. Se o Bruno Henrique é bem marcado, como ocorreu diante do Cruzeiro, a transição sofre. Falta método no Palmeiras para abrir espaço com a bola no pé. O fato é que o Felipão organizou o seu time para defender, seja com titulares ou com reservas, mas ainda não o fez na parte mais difícil: atacar — opina o comentarista da Rádio Gaúcha e colunista de GaúchaZH Diogo Olivier.
O Palmeiras joga normalmente no esquema 4-2-3-1. O goleiro Weverton, que conquistou a titularidade ainda com Roger, costuma atuar até mesmo quando Felipão escala os reservas. A zaga titular é formada Edu Dracena e Antônio Carlos. Os laterais são Mayke e Diogo Barbosa. O meio-campo inicia com a dupla de volantes Felipe Melo e Bruno Henrique. O meia centralizado, Moisés, costuma recuar para ajudar na marcação. Nas pontas, William e Dudu avançam para municiar o centroavante Miguel Borja.
Disposição tática do time titular:
— Na hora de defender, William e Dudu baixam com disciplina na recomposição, deixando só Borja lá na frente. Forma-se um bloco sólido fechando linhas. Mesmo tendo Lucas Lima, Scarpa e Guerra para escalar como armador, Felipão prefere usar Moisés, um volante apoiador, nessa função — completa Diogo.
Quando Felipão preserva os titulares e utiliza time reserva no Brasileirão, em função dos jogos da Copa Libertadores ou da Copa do Brasil (até a última quarta), o estilo de jogo é mantido, com foco na organização defensiva. Luan e Gustavo Gómez são zagueiros que mantém a qualidade da dupla de zaga titular. Os laterais reservas Marcos Rocha e Victor Luís também não deixam a desejar em qualidade. Do meio para frente, nomes como Hyoran e Deyverson também geram preocupação às zagas adversárias. A mudança mais significativa, porém, ocorre devido à presença de Lucas Lima como meia centralizado, que tem características bem diferentes da do titular Moisés.
Disposição tática do time reserva:
— Lucas Lima é um meia de articulação, trabalha mais com a bola no pé e conduz mais a bola. É outra característica — finaliza Raphael Prates.
O fato é que, com titulares ou reservas, o Palmeiras tem elenco para brigar de forma competitiva pelas duas competições que ainda disputa. E tendo a defesa como ponto forte.
Palmeiras com Felipão:
Jogos: 16
Vitórias: 10
Empates: 4
Derrotas: 2
Gols sofridos: 5 gols em 16 jogos
Gols marcados: 19 gols em 16 jogos