O Baltimore Ravens usou um capital alto para selecionar o quarterback Lamar Jackson. Subiu de volta para o fim da primeira rodada e teve como custo principal uma escolha de segunda rodada de 2019. A manobra deu ao time a opção de quinto ano, padronizada para seleções de primeiro round na NFL. Mas também deixou clara a urgência que o time tem na posição depois de temporadas insuficientes de Joe Flacco após o título do Super Bowl 47.
Foi uma decisão tomada em conjunto. O general manager Ozzie Newsome, responsável pela escolha, se aposentará ao fim da temporada. O assistente Eric DeCosta será o novo chefão do elenco em Baltimore. E o apoio do técnico John Harbaugh expõe um envolvimento da franquia inteira no seu novo jogador.
A partir desta quinta-feira, o Prime Time terá uma seção semanal no site de GaúchaZH para falar de futebol americano. A ideia é discutir temas relevantes para a NFL e para o esporte em geral com entrevistas, análises e dados. Para começar, vamos falar sobre como o Ravens pode mudar o modus operandi da liga ao usar com frequência esquemas com dois quarterbacks em campo ao mesmo tempo.
A utilização de Lamar Jackson
Uma tendência recente para os times que usam escolhas de primeira rodada em quarterbacks é procurar ter paciência — que geralmente dura pouco — para colocar os novatos no fogo cruzado. Por isso, usam os veteranos por até um ano e depois finalmente dão a chance para o jogador do futuro. Foi esse o processo que o Kansas City Chiefs fez na transição de Alex Smith para Patrick Mahomes. É a ideia do Cleveland Browns com Tyrod Taylor e Baker Mayfield.
Mas o Ravens quer fazer mais com Lamar Jackson. A versatilidade atlética do ex-quarterback de Louisville permite à comissão técnica ser criativa — ainda que ele não seja um passador tão eficiente como os outros quarterbacks escolhidos na primeira rodada.
— De um jeito ou de outro, ele vai estar lá, tendo snaps. Lamar também é uma arma para nós, ele pode jogar como quarterback. Este é o meu plano, colocá-lo lá (em campo). Ele pode estar lá com Joe (Flacco). Situacionalmente, nós vamos descobrir. Estamos descobrindo. Não sei exatamente ainda. Ele pode ser quarterback, e Joe pode ser wide receiver. Vamos ver como isso acontecerá. Lançar uma fade para Joe, que é alto — especulou o técnico John Harbaugh, nas semanas iniciais do período de treinos da pré-temporada.
E as atividades do Ravens mostraram exatamente isso. Ainda que os jogos de pré-temporada tenham deixado as jogadas em segredo, por enquanto. Repórteres contaram que houve jogadas treinadas em que mais de um quarterback tocou na bola - Flacco, Jackson e até Robert Griffin III participaram dos testes.
Para o jornalista Eduardo Araújo, do site Liga dos 32, o uso deste tipo de jogada é muito limitado.
— Apenas para situações isoladas. O leque de jogadas para sempre ter dois quarterbacks em campo é bastante curto. Na NFL moderna você precisa de versatilidade sempre. Mesmo o Jackson se saindo bem de wide receiver ou de running back, estar sempre em campo diminui o leque de jogadas — observa.
Na avaliação de Rodrigo Palaver, coordenador ofensivo do Cruzeiro Lions, seria mais fácil revezar os dois quarterbacks entre as campanhas de acordo com suas habilidades do que usar ambos ao mesmo tempo.
— Na minha mente, o sistema com dois quarterbacks tem dois lados: rodízio de drives e presença em campo conjunta. No rodízio de drives, é tranquilo. Agora, os dois presentes ao mesmo tempo e na mesma jogada requer um esforço criativo do coordenador ofensivo. Se a jogada for corrida, tem que pensar como fazer o outro quarterback ser produtivo na jogada. Se a jogada for de passe, tem que pensar em como utilizar as habilidades do quarterback que não vai passar. A defesa pode ficar preventiva ao ver dois quarterbacks em campo, esperando alguma trick play. O Lamar tem técnica e físico de corredor. Talvez possamos ver a reinvenção da smash mouth offense, onde Lamar poderia ser um slotback/quarterback 2 — explica Palaver.
O coordenador do Lions ainda alerta para uma possível briga de egos entre os dois jogadores.
— A ideia na teoria é promissora, mas temos que ver como funcionaria na prática. Gerir uma equipe é extremamente difícil, pois se lida com diversos egos ao mesmo tempo. Não tenho dúvida da capacidade física e técnica dos dois jogadores. Fico mais preocupado com a questão mental. A posição de quarterback sempre foi de liderança singular. Estou curioso pra ver o impacto desse esquema em outras partes que não a tática — acrescenta.
Questões financeiras
A longo prazo, o Baltimore Ravens tem uma decisão financeira a tomar. Joe Flacco tem contrato até 2021, mas os valores são elevados demais pelo nível que o quarterback de 33 anos tem apresentado. E é financeiramente viável cortá-lo ou trocá-lo em 2019.
O impacto do contrato de Flacco é previsto em US$ 28,25 milhões para a próxima temporada. Se ele sair, o impacto - chamado de dead money - seria de apenas US$ 8 milhões. Uma economia de mais de US$ 20 milhões é um motivo e tanto para seguir em frente com uma alternativa. O impacto de Lamar Jackson em 2019 será de apenas US$ 2,152 milhões — e a base salarial, valor efetivamente pago no ano que vem, será de apenas US$ 910 mil.
Eduardo Araújo não crê que um eventual modelo do Ravens com dois quarterbacks possa iniciar um processo de desvalorização salarial da posição de quarterback.
— Infelizmente, acho impossível desvalorizar a posição de QB. Os times se aproveitam muito mesmo para formar a equipe em volta de seu calouro com salário baixo. Só ver o que Eagles e o Rams fizeram, por exemplo. Mas o mercado da NFL é cruel demais, com os salários subindo ano após ano. Um QB de nível ok, como o Kirk Cousins, sabe que pode ir ao mercado e que será bem pago — pondera.
O Baltimore Ravens entra em campo na temporada regular no dia 9 de setembro, contra o Buffalo Bills. Será a hora da verdade para uma potencial nova revolução ofensiva na liga.
Estatística da semana
Adrian Peterson está de volta à NFL. Depois de um 2017 conturbado, que contou com a saída do Minnesota Vikings e passagens por New Orleans Saints e Arizona Cardinals, o veterano assinou contrato de um ano com o Washington Redskins.
A estatística da semana é o clube das 2 mil jardas. Só sete jogadores conseguiram pelo menos 2 mil jardas terrestres em uma mesma temporada na história da NFL. Peterson foi o último a entrar neste seleto grupo, com 2.097 jardas pelo Vikings em 2012.
Clube das 2 mil jardas
1. O.J. Simpson (Buffalo Bills) - 2.003 jardas em 1973
2. Eric Dickerson (Los Angeles Rams) - 2.105 jardas em 1984 (recorde histórico)
3. Barry Sanders (Detroit Lions) - 2.053 jardas em 1997
4. Terrell Davis (Denver Broncos) - 2.008 jardas em 1998
5. Jamal Lewis (Baltimore Ravens) - 2.066 jardas em 2003
6. Chris Johnson (Tennessee Titans) - 2.006 jardas em 2009
7. Adrian Peterson (Minnesota Vikings) - 2.097 jardas em 2012
Jogador fora do radar
O backfield do Minnesota Vikings está bem estabelecido com Dalvin Cook e Latavius Murray. Mas um undrafted free agent chamou a atenção no jogo contra o Jacksonville Jaguars e pode ganhar espaço. Mike Boone teve 13 carregadas para 91 jardas (média de sete jardas por corrida) e um touchdown. O corredor, que fez faculdade em Cincinnati, tem uma ótima explosão e é um atleta físico e agressivo. Talvez não tenha sido escolhido no draft por ter convivido com lesões e praticamente não teve jogadas de mais de 30 jardas ao longo da carreira universitária.
Fique de olho
A semana 3 da pré-temporada começa nesta quinta-feira. O confronto é do atual campeão contra o atual pior time da liga - Philadelphia Eagles e Cleveland Browns. E, pela expectativa de utilização de titulares, não se surpreenda se o Browns ganhar o jogo.
Esta semana também vale para quem não gosta muito de ver o fundo do elenco do seu time. Geralmente, é nesta rodada em que os times utilizam os titulares por mais tempo — ainda que este tempo tenha sido cada vez menor com o medo de lesões devastadoras em jogos que não têm valor, a não ser avaliar o talento dos jovens.