A notícia era para ser o mais novo penteado de Neymar. Foi o seu tornozelo, acompanhado de uma preocupação do tamanho da Rússia. O temor se justifica. O atacante sentiu dores no tornozelo direito antes mesmo de o treino completar 15 minutos, ainda na roda de bobinho. Saiu indignado de campo direto para as mãos do fisioterapeuta Bruno Mazziotti. A CBF, de imediato, garantiu sua presença no trabalho fechado desta quarta-feira (20), o último em Sochi — na sexta-feira, às 9h, o Brasil encara a Costa Rica em São Petesburgo. Fica uma questão: com quais condições teremos Neymar em campo, na hora do seu café da manhã aí no Brasil?
A lesão do jogador provocou uma pororoca no ambiente da Seleção às margens do Mar Negro. Muitos jornalistas acompanhavam o treino de perto, da grade de 1m10cm que separa o alambrado do campo anexo ao Suissôtel Resort. No lado oposto, um grupo numeroso de jogadores fazia o aquecimento. No canto, à direita do alambrado, Neymar, Thiago Silva, Miranda, Paulinho, Willian e Danilo faziam uma animada roda de bobinho.
Neymar perdeu a bola e foi para o centro dela. Logo no primeiro toque, interceptou o passe de Thiago Silva. A bola bateu na ponta do seu pé direito, e ele acusou a dor. Voltou ao bobinho, deu dois toques de pé esquerdo e, ao tocar com o direito, sentiu novamente. A sua reação foi imediata:
— PQP!
O meia-atacante deu meia-volta e saiu. No caminho, de pé esquerdo, deu um bico numa bola e foi mancando até o box número oito do vestiário improvisado erguido pela CBF atrás do gol. No caminho, com as mãos, explicou para o fisioterapeuta que seu pé havia virado com o impacto da bola. Neymar tirou a chuteira e, imediatamente, começou o tratamento.
A cena diante dos jornalistas provocou corre-corre e convulsionou a tarde em Sochi. A CBF se apressou passar tranquilidade. Por meio da assessoria de imprensa, o médico Rodrigo Larmar garantiu que, depois de dois turnos de fisioterapia, Neymar voltará a campo nesta quarta-feira (20), no trabalho com portões lacrados no campo anexo ao hotel. As dores seriam ainda rescaldo das pancadas sofridas no domingo, dos suíços.
Mas nem mesmo a palavra médica reduz as desconfianças. No início da noite em Sochi, a assessoria de imprensa da CBF comunicou que não haverá distribuição de imagens do treino, a exemplo do que aconteceu no último treino fechado, na sexta-feira. Na ocasião, fotos e vídeos de lances do meia Fred, que voltava de lesão, foram disponibilizados. Desta vez, no entanto, os registros distribuídos serão apenas do embarque para São Petersburgo.
Mesmo que Neymar fique à disposição contra a Costa Rica, a certeza é de que a Seleção não contará com ele a pleno. Nesta semana, ele já perdeu dois dias de treinos. Acresce-se a isso o fato de ser um jogador que recém voltou de longo período de recuperação por uma cirurgia no quinto metatarso do pé direito.
Em um cenário pessimista, de ficar sem o seu craque para a decisão de sexta-feira, Tite conta com três alternativas. A primeira seria Douglas Costa, em uma troca simples por um jogador de lado. A segunda seria recorrer a uma fórmula de sucesso usada em boa parte das Eliminatórias. O técnico lançaria mão outra vez de Renato Augusto no meio, ao lado de Paulinho, e deslocaria Phillipe Coutinho para o flanco esquerdo, posto que ocupava na Seleção até a partida contra o Equador, na Arena. O aspecto negativo seria mexer em duas posições, mas o entrosamento e o conhecimento deles das funções amenizaria.
Uma terceira e mais remota alternativa representaria a entrada de Fred e não de Renato Augusto no meio. A ressalva, neste caso, é o fato de o ex-colorado retornar de lesão e também não ter entrosamento afinado com o time – afinal, entrou no grupo apenas na reta final da preparação.
Tite, no entanto, aposta na promessa do seu médico de que o craque do time treinará sob suas ordens no lado de trás dos portões fechados do Suissôtel. Nunca ele preferiu tanto que o noticiário sobre Neymar fosse em torno do novo corte de cabelo. Como se já não bastassem para Tite as preocupações com o futebol esmaecido da estreia.