Durante uma hora e vinte e vinte minutos da última quarta-feira (14), após o treino da véspera do empate em 2 a 2 com o Linense, pelo Paulistão, Roger sentou na confortável sala de entrevista na Academia de Futebol, CT do Palmeiras, nomeado assim para homenagear os times históricos do clube das décadas de 1960 e 1970. O técnico abriu as portas ao GaúchaZH para falar dos bons e dos raros maus momentos de sua trajetória no futebol. Desde os tempos da lateral esquerda do Grêmio de Felipão até o caminho que hoje o colocou no comando do principal rival gremista pelo domínio do futebol nacional nos anos 1990.
O que mudou da época da Arena até agora? O técnico disse que não bebe mais café. Parou, já não lhe fazia bem. Mas, curiosamente, longe do Rio Grande do Sul, e apoiado pelos muitos gaúchos do clube como o diretor de futebol Cícero Souza, aumentou o consumo do chimarrão. E, claro, também não abandonou a preferência pelo churrasco.
Roger mantém uma rotina tranquila na capital paulista, e que ficou ainda mais fechada no trabalho desde a última quinta-feira. A família do técnico voltou a Porto Alegre, muito em função do que cercou a demissão do Atlético-MG. Após ser campeão estadual, e com a melhor campanha na fase de grupos da Libertadores, Roger deduziu que tinha garantido crédito a seu trabalho e levou as filhas e a esposa para Belo Horizonte.
O problema é a memória curta do futebol brasileiro, e a demissão prejudicou a rotina do que ele mais estima: as filhas, por quem ele diz que largaria o futebol a qualquer momento caso haja um conflito que o impeça de estar presente na vida de Julia, 12 anos, e Gabriela, nove, e da esposa Camile.
Contratado em dezembro do ano passado para comandar um elenco milionário do Palmeiras, Roger se mantém fiel aos conceitos que nortearam seu trabalho nas passagens por Juventude, Novo Hamburgo, Grêmio e Atlético-MG. Para saber onde poderia evoluir, recorreu aos auxiliares para ajustes pontuais após cada trabalho.
Fora de campo, mantém a mesma personalidade. Roger caiu nas graças da imprensa paulista, que gosta das suas entrevistas fora dos padrões habituais do futebol brasileiro, e que elogia seu trabalho nos treinos e jogos. A campanha de seis vitórias e um empate também não dá brechas para cobranças, então a torcida também abraça o trabalho do gaúcho. Até os funcionários do clube se surpreenderam. A forma simples e gentil que Roger trata com o pessoal do apoio do CT e do clube caiu muito bem nos bastidores. Não era assim com técnicos recentes do clube.
O símbolo da Era Roger é a recuperação de Borja, que marcou cinco gols em sete jogos neste início de ano. Metade do que ele fez em toda a temporada 2017.
— Deus colocou ele em minha vida — disse Borja, na concorrida zona mista do belo Allianz Parque.
Confira o que pensa Roger Machado sobre seu trabalho no Grêmio, futebol brasileiro e a oportunidade de comandar o Palmeiras:
Como avalia suas passagens pelo Grêmio e pelo Atlético-MG?
Muita coisa você reavalia olhando para trás. Revi a parte técnica e tática para ver se poderia ter feito algo diferente. E também o que daqui para frente poderia olhar, o que é feito em outros lugares. Estar aberto ao que está ocorrendo. Algumas convicções são reforçadas, mas o importante é estar com a cabeça aberta para pensar.
Esse material humano no Palmeiras, além da qualidade, gera expectativa maior por resultados...
Essa expectativa é muito mais vista de fora pra dentro. Já vimos times com grandes valores individuais, mas que não se tornam uma grande equipe. As possibilidades oferecidas pelo Palmeiras me dão um leque grande de opções para poder mexer, alterar e formatar. Mas esse peso de ter grandes jogadores no elenco, que deve levar vantagem sempre em tudo, só vai se confirmar dentro de campo. Não vamos vencer ninguém na véspera
Você tem a melhor dor de cabeça que um técnico pode enfrentar por ter muitos bons jogadores. Como ter certeza que escolhe a peça certa?
Não tem como ter (risos). Muita coisa é pela avaliação do dia a dia, mas tem o elemento da sensibilidade. De quem viveu 25 anos neste meio do futebol e adquiriu algumas ferramentas emocionais para compreender algumas coisas. Aprendi com os outros. Tenho uma história com o Seu Verardi (Antônio Carlos Verardi, superintende de futebol do Grêmio). Em uma das vezes em que fui interino no Grêmio, o vestiário estava silencioso. Ele veio e me disse que aquele silêncio não era bom. Perguntei se tinha diferença de silêncio, e ele me respondeu "tem, tem o silêncio de concentração e o de desconcentração. Tenho 50 anos de vestiário, Roger". Algumas questões são decididas por experiência. Algumas vezes, pela intuição.
Você ainda acompanha o Grêmio. Viu as campanhas dos títulos recentes?
Sim, obviamente. Era o representante brasileiro na Libertadores e no Mundial. Acompanhei.
Você vê o Grêmio ainda com os conceitos que você implementou ou mais com a cara do Renato?
Hoje e sempre, o Grêmio sempre teve a cara do Renato. Os times que ele faz são equipes muito parecidas. Tem o lastro do trabalho que eu finalizei após um ano e meio. Mas é o trabalho do Renato. Em algum ponto ou outro, enxergo alguma coisa.
Isso gera muita polêmica em Porto Alegre ainda. Qualquer referência à tua influência no Grêmio gera controvérsia...
(risos). Entre os teus pares?
Entre imprensa, torcida, dirigentes e ex-dirigentes do Grêmio...
É a ambiguidade da nossa profissão. Não tem como fugir disso. Somos elogiados por uma parte, criticados por outra. Faz parte. Comentei com um torcedor do Palmeiras que encontrei no meu prédio, que disse que tinha me xingado muito na década de 1990 quando eu defendia o Grêmio. Disse pra ele ficar tranquilo, que jogador de futebol, treinador e árbitro têm uma mãe que a gente usa para estes momentos.
Você já reparou nesta divisão que existe no Rio Grande do Sul sobre teu trabalho?
Não (risos). A gente é dividido entre Grêmio e Inter, chimangos e maragatos. Não parei pra pensar nisto. Juro.
Há uma teoria de que isso existe pela forma que você fala sobre futebol.
Mas até isso devo aprender ou aceitar que existe diferença. Não me incomoda de forma alguma que pensem diferente do que penso. Estas são minhas convicções. Só tento convencer os atletas a fazer o que acho que é correto. Mas nunca desejei influenciar para mudar a opinião dos outros. Opinião, eu respeito. Posso concordar ou não, mas com argumentos tento informar de outro jeito. Não tenho a pretensão de ser o dono da verdade, nunca quis. Talvez, em alguns momentos, a forma diferente de que eu desejo ver o futebol possa incomodar. Mas não é minha intenção.
Por toda sua dedicação ao projeto no Grêmio, não deu vontade de estar no clube no momento das conquistas?
Não, sabe por quê? Eu acredito em trabalhar pelo futebol de modo geral. Somos marcados pelo clube que estamos no momento, mas dificilmente no Brasil você inicia um trabalho do zero. É sempre a continuidade de um outro profissional que saiu. Não ficou nenhuma frustração em função disso. De uma forma mais ampla, há contribuição para o futebol no trabalho da gente. Muitos me param na rua para falar disso também. Te confesso, sinceramente, que foi um ano e meio muito bom. E aí um profissional que eu gosto muito, que é o Renato, assumiu e deu continuidade com a sua cara. E foi campeão.
Mas você se sente parte disso?
Sinto. Sinto, sim.
No Atlético-MG imaginávamos que as coisas dariam certo. O que aconteceu em Belo Horizonte?
O que precisa ser revisto é a forma como a gente encara quem está acima. Nós que levamos o produto ao torcedor. Gestores, CBF, imprensa e o treinadores, como culturalmente enxergamos o jogo. A urgência por resultados. E o que, na minha opinião, acaba direcionando muito este processo é o calendário. Você está envolvido em três competições simultâneas. No domingo, joga por uma, na quarta por outra e no domingo seguinte disputa uma terceira. E você precisa ter um grupo grande, por isso o futebol brasileiro é caro para as grandes equipes. O torcedor quer que se vença todas as competições que se disputa. Essa pressões precisam ser absorvidas por nós que vivemos o jogo e que temos a capacidade de tomar as decisões. Minha saída foi em um momento que considerava muito positivo, mas as urgências do futebol acabam pressionando os gestores a tomarem atitudes que muitas vezes não correspondem ao que está acontecendo no momento. Os treinadores perdiam o emprego por não ter resultado. Agora, o desempenho está sendo questionado em função disso. Não vai sempre casar desempenho e resultado. Esse é o ideal mágico, buscamos esse casamento. Mas que a gente possa ter continuidade quando há resultado embora os desempenhos não sejam bons. Às vezes, a gente sabe que é um ou dois jogos de turbulência, que podem passar, e você, com continuidade, pode alcançar estabilidade em um trabalho que vem sendo desenvolvido por mais tempo. A gente viu isso lá fora. Ano passado, o City do Guardiola ganhou o quê com um baita de um investimento. Nada. E ele é o melhor treinador do mundo. Não o tiraram no final da temporada. Pelo contrário, deram mais investimento pra ele. E olha essa temporada agora. Bem provável que tenha conquistas importantes. Mas se não tiver, vai permanecer para o próximo ano, e as chances vão aumentar em função disso. Mas a nossa cultura é a da urgência. Isso faz com que se tomem atitudes que não são adequadas para o momento.
São situações diferentes, mas então por que você pediu para sair do Grêmio?
Ali foram vários fatores envolvidos. Mas tinha, em função do momento que o time e o clube viviam, a necessidade que um outro profissional viesse e pudesse extrair mais daquele grupo para que o ano pudesse ser recuperado. Como acabou ocorrendo com a conquista da Copa do Brasil.
O teu trabalho e a identidade criada não superariam o momento difícil que você enfrentou antes de sair do Grêmio?
Talvez superasse pela continuidade e pelo lastro que havia sido construído, mas naquele momento a reflexão foi muito em cima de entender que seria um momento de virada para que o ano fosse resgatado. Tinha a Copa do Brasil e o seguimento do Brasileirão. A decisão pela interrupção naquele momento foi pensando também no clube e tudo o que era feito pelo Romildo, que é uma das melhores gestões da história. Ele foi contra minha saída, mas acredito que, naquele momento, foi a decisão acertada. Se faria novamente? Não sei.
Por ter sido um trabalho construído por mais tempo, não fica um arrependimento pela saída do Grêmio?
A gente toma as decisões e as ampara no que diagnosticamos no momento. Não me arrependo da decisão que tomei, mas como te disse: não sei se, hoje, faria igual. Essas são as dúvidas que ficam quando a gente olha para trás: passado todo este tempo e refletindo tudo o que aconteceu e poderia ter acontecido, o desdobramento de tudo e a continuidade de um trabalho de mais longo prazo. Tudo do período de reflexão, que prezo muito.
Por ter buscado conhecimento e expressar estes conceitos, não criou um rótulo para o teu trabalho e uma pressão de ter "um futebol moderno"?
No Brasil, a gente costuma colocar rótulos nos profissionais. E agora se coloca, em lados opostos, duas gerações de técnicos. A mais nova é tida como estudiosa e adepta da estratégia, mas que não sabe gerir grupos por prestar atenção só na tática. E os mais antigos, que saberiam gerir grupos e não sabem de estratégia. Nem uma nem outra é verdade, mas muitas vezes se tem necessidade de viver nesta bipolaridade, nesta divisão e neste confronto de ideias. Talvez isto tenha contribuído, talvez não. Talvez tenham contribuído minhas posições mais firmes sobre o que eu penso, mas é só o que eu penso. Não quer dizer que seja a verdade.
Enfrenta preconceito por ter buscado conhecimento?
Aí é uma avaliação ainda mais profunda. Fugimos do futebol, transcende e vamos parar no Brasil de forma geral, né? Adquirir conhecimento muitas vezes é tido como uma afronta. Ou que determinado nível de conhecimento não se adapta a um determinado ambiente, que a superficialidade deve permanecer pois as coisas foram ou eram assim. Muita coisa do nosso passado é muito bem-vinda. O que eu sempre digo é de temos que olhar para a frente, mas sem esquecer de onde viemos.
Mas você nunca se posicionou contrário ao pessoal mais velho...
Não! (Risos). Eu chego a ficar emocionado quando encontro alguém mais velho que trabalhou com o Ênio Andrade e Telê Santana, por exemplo. Eu peço pra me contar como eles pensavam o jogo, tenho curiosidade de saber. Eu busco na internet. Vou no Google e vejo todos os jogos do Brasil da Copa de 1970, os times que jogaram as copas antes da década de 1980. Eu vejo lá vários conceitos nos quais acredito hoje. Ou as pessoas deixaram de acreditar ou já não se lembram do que vivemos. Quando um estrangeiro é questionado sobre o que o Brasil precisa fazer para voltar a ser protagonista, eles se impressionam e dizem: "como assim? Nós fomos lá beber da água de vocês, e vocês esqueceram do que fizeram". Sou atualizado, mas gosto muito do que a gente fez. Não é por ser jovem que é contemporâneo ou por ser mais velho que é ultrapassado. Se você se mantiver atualizado, terá cem anos e estará à frente do seu tempo.
O Tite enfrentou isso também na imprensa.
Eu lembro. Mas me conheciam como jogador. Sempre gostei de dar boas entrevistas quando eu era atleta. Não ia mudar por ter virado treinador. A qualidade da informação é tudo. Isso é muito em respeito a quem faz o espetáculo. A gente não pode se colocar em lados opostos da mesa. Nós fazemos o espetáculo. Agora, houve este episódio da saída do Oswaldo de Oliveira. A gente tem de promover reflexão sobre como conduzimos este processo, pelo bem do futebol. O futebol é uma célula do que acontece na sociedade. Temos de discutir isso, essas questões. O futebol é o primeiro, segundo, terceiro e quarto esportes do Brasil e depois vêm os outros. Temos campo para trabalhar juntos. Não acredito na cultura do conflito. Agora, tenho ideias fortes e firmes. Não tenho problema em mudar de ideia, mas preciso ser convencido.
O 4-1-4-1 é a novo modelo a ganhar espaço no Brasil, mas já é bastante comum na Europa. Por que não conseguimos inovar taticamente no país?
Volto a dizer, saiu tudo daqui. Pega os jogos da Seleção da Copa de 1970. Eles jogavam com vários jogadores móveis e sem um centroavante. Os esquemas táticos foram aperfeiçoados, mas todos, de uma certa forma, receberam influências. Isso, para mim, é cíclico. Hoje, estamos no momento de retorno, felizmente, para outras formatações. O 3-5-2 foi utilizado antes da década de 1990 em outros momentos, assim como o 4-1-4-1 já foi utilizado no Brasil. Isso roda o mundo. Times que são bem-sucedidos marcam gerações e pautam o que vai acontecer. Os laterais passaram a atacar, e os pontas vieram para dentro. A gente passou a ter oportunidades de cruzar a bola, já que os laterais cruzam melhor do que driblam seus marcadores. E quando os meias ficam por dentro, tem mais gene atacando a área e se passou a cruzar muito. O jogador de área, que na década de 1970 não era muito alto, para ter vantagem neste novo modelo, começou a ser maior. Estamos abrindo os pontas para ter vitória pessoal, então a linha defensiva vai ter de se abrir. Mais espaço para ter infiltrações por dentro. Isso vai fazer que tenhamos mais gols entre as linhas, com o meia que era um articulador, mas nas décadas passadas eram eles depois dos centroavantes que tinham mais gols. Com a volta do estilo mais clássico dos laterais, os volantes não precisam mais ficar na cobertura. Isso vai permitir que o número 8, que historicamente no Brasil era um meio-campo que atacava, poderá voltar a entrar mais no campo do adversário. E quando ele avança, empurra o meia para dentro da área. Isso é muito cíclico. O momento que estamos vivendo é da raiz do nosso jogo, isso é benéfico e vai ajudar muito o futebol brasileiro novamente.
Estamos evoluindo nesta forma de debater e ver o jogo no Brasil?
Já falamos mais, mas ainda é pouco sobre o jogo e o que acontece dentro de campo. A gente analisa os times separadamente, como se fosse possível excluir o adversário. Jogou por ter feito isso ou jogou mal por não feito alguma coisa. Mas espera aí, a gente tem um adversário do outro lado. Principalmente quando joga um time, em tese, maior contra um menor. Aí, então, se exclui de vez o adversário, como se os problemas fossem gerados só pela incapacidade do time maior e não pelas virtudes do menor.
O que te levou a não aceitar conversar com o Flamengo e com o Corinthians?
Estava no Grêmio quando veio o Corinthians, então foi por contrato. O Flamengo fez uma sondagem, um contato. Não houve um convite. Mas já tinha decidido o planejamento que faria para o restante de 2016. Já tinha definido, desde que me tornei treinador, a forma que gostaria de conduzir minha carreira. Não trabalhei por acaso só em três clubes quando fui jogador, tive diversas oportunidades para sair nos meus 12 anos de Grêmio. Mas entendi que era necessário permanecer. Prezo por estabilidade para trabalhar. Desta forma, poderia render mais. Quando vejo jogadores com 15 ou 20 times no final da carreira, digo "nossa, não sei como faria neste processo de morar em 15 cidades diferentes". Não me imagino assim, mas a estabilidade na carreira de treinador de futebol é bem menor. Foram três elementos importantes: dar um tempo para avaliar o trabalho que terminei, a questão familiar de não abrir mão do convívio com elas e, como não acho correto interromper o trabalho de um técnico muito cedo, não acho certo pegar três ou quatro times por ano. Uma decisão política para contribuir com o fortalecimento da classe.
E o Inter?
Não fui procurado pelo Inter.
Mas um convite do Inter, pela questão da convivência familiar em Porto Alegre, não seria bom: Você "arriscaria" sua história no Grêmio por isso?
Fiz minha formação toda para treinar grandes clubes do Brasil. Não posso excluir uma possibilidade de trabalho, de desenvolver um novo trabalho pensando em muitas questões. Acredito que a história que construímos está contada. O carinho que construímos junto também está sacramentado. Mas não houve convite. Se tivesse, iria analisar.
Pela relação histórica com o Grêmio, pensa em voltar algum dia?
Confesso que não costumo pensar muito a respeito, penso muito no hoje. O foco da minha atenção é no que ocorre agora. Se em outro momento, os caminhos nos levarem a uma nova situação, passo a pensar novamente. Não dá para idealizar muito o que vem pela frente. Se não acontece, a frustração é maior. Tenho a ideia de ficar no esporte, como treinador, não por muito tempo. E neste espaço quero fazer muitas coisas, quero conquistar muitos títulos aqui. Gostaria de trabalhar fora do país, de ter muitas conquistas, e o mais importante: contribuir para que os meus atletas sejam melhores profissionais. Vou ser realizado no final da vida se isso acontecer. Quero trabalhar em prol do futebol. O futebol me deu quase tudo, desde muito cedo. É uma satisfação e uma retribuição em forma de trabalho. Pelo futebol brasileiro, se conseguir contribuir com uma pequena parcela, estarei satisfeito.
Mas você não acha que já está ajudando a resgatar o estilo de jogo brasileiro com os trabalhos no Grêmio, Atlético-MG e esse bom início no Palmeiras?
Talvez, mas este ciclo de renovação ocorre a todo momento. Os profissionais que estavam no mercado quando eram jovens receberam essas oportunidades. Não vejo como. Falam muito da renovação após a Copa de 2014, que os profissionais mais antigos entraram em rota de colisão com a modernidade. Esses são processos que acontecem, é cíclico. As vagas que apareceram foram ocupadas, mas vão aparecer outros profissionais que vão ocupar seu espaço e vão influenciar outras pessoas. Ter duas gerações de treinador no mesmo momento, contribuindo, é para o crescimento do futebol. Não devemos nos colocar de lados opostos. Os cursos da CBF estão dando uma maravilhosa contribuição. Estamos conseguindo reunir 50, 60 profissionais, que, em outros momentos, não dividiriam este conhecimento em função do afastamento que historicamente tivemos. O melhor momento que tive nestes dois anos de curso para a licença A da CBF foi quando a gente, junto, pode falar de futebol e debater assuntos da profissão. Perdemos oportunidade quando deixamos de falar do momento do futebol. Todos. Não é depositar a culpa nos jogadores, que não teriam mais talento, ou dos treinadores, entre os mais antigos que seriam ultrapassados e dos novos que só querem saber de estratégia. Ou até do jornalismo, que deveria ter um conhecimento diferente do jogo. Ou da CBF, que deveria organizar melhor os campeonatos, ou dos dirigentes, que pelas pressões, acabam trocando o comando em momentos que poderia ser diferentes. Se pensar cada um, separadamente, não vamos chegar a lugar nenhum. Temos que pensar todos juntos, vivemos do mesmo esporte. Por que pensamos separados ou cada um puxando para o seu lado?