Se o caso Tiffany na Superliga feminina de vôlei gerou polêmica no esporte nacional, outra decisão relativa à participação de uma mulher transgênero no esporte promete gerar discussões. Anne Veriato, que legalmente ainda não conseguiu o reconhecimento como mulher, fará sua estreia no MMA profissional na categoria masculina. Ela enfrentará Railson Paixão no peso palha no evento Mr. Cage 34, em Manaus, no dia 10 de março.
Anne tem 21 anos. Luta jiu-jitsu desde os sete e começou a tomar hormônios aos 12. No início do ano, decidiu fazer a transição do jiu-jitsu para o MMA. Acostumada a treinar com homens, Anne afirma que não vê problemas em lutar contra um — seus planos, inclusive, são seguir no esporte masculino.
A lutadora conversou com GaúchaZH por telefone.
Como surgiu a sua paixão pelos esportes de luta?
Desde criança, sempre fui apaixonada por luta. Brincava com o meu pai, assistia a filmes. Então, a minha mãe procurou a academia de jiu-jitsu quando eu tinha sete anos. Comecei a treinar e não quis mais parar. Não queria mais nem voltar para casa, tanto que passei a morar na academia. Treinava sempre. Teve um rapaz, chamado Zé Mário, que me viu treinando, viu que eu era boa, que me dedicava, e passou a pagar a minha inscrição nos campeonatos. Eu ia lutando e ganhando. Aos 11 anos, quando comecei o processo hormonal, foi o período em que me afastei um pouco da academia.
Quando você assumiu a sua identidade como mulher?
Aos 12 anos. Legalmente, ainda não consegui.
Quando você decidiu ir para o MMA?
Jiu-jitsu, eu competia sempre. Na academia, via alguns atletas que competiam em eventos de MMA. Quis fazer alguma coisa diferente, entrar num ramo diferente. Estou treinando desde o começo do ano. MMA, boxe, muay-thai, preparação física. Também sigo treinando a minha parte de chão. Temos uma equipe boa de treinamento. Os treinos são intensos.
Como você avalia o fato de enfrentar um homem?
Devido aos hormônios, às vezes eu me sinto um pouco fraca. Mas nos treinos, eu luto de igual para igual. Não vai me atrapalhar. Treino sempre lutando com homens, desde a minha infância sempre competi com homens. Pretendo seguir.
Qual seu objetivo dentro do MMA?
Eu quero ver como vai ser o começo. Quero competir, vou lutar agora e a próxima. E então quero ver como vai ser. Depois, vou ver se quero lutar fora. Lá no futuro, quem sabe não lutar no UFC? Se eu quero seguir minha carreira, posso pensar nisso.
O que você pensa sobre a Tiffany, do vôlei, e outras atletas trans que praticam esporte feminino?
Eu não posso falar dela, porque não busquei a fundo. Mas algumas meninas dizem que ela é como as outras.