Não conheço pessoalmente o Tiago Leifert, mas sei que ele está errado. Equivoca-se profunda e lamentavelmente quando afirma que "evento esportivo não é lugar de manifestação política", título de recente coluna sua publicada no site da revista GQ, da Editora Globo. Pois digo ao Tiago e a todos que me leem: qualquer lugar, inclusive os estádios, arenas, piscinas, pistas e tatames, é lugar para o bom debate político. Afinal, envolver-se com os assuntos da comunidade, em qualquer nível, é um antídoto para o prevalecimento dos maus.
E isso sequer é novidade. Grandes atletas ocuparam seus espaços para manifestarem ideias políticas. O Sócrates e a Democracia Corinthiana, no final da ditadura militar, no início dos anos 1980, fizeram história no futebol brasileiro.
Em um contexto mundial, quem não lembra da imagem dos dois corredores norte-americanos, Tommie Smith e John Carlos, erguendo os punhos na defesa dos direitos humanos ao receberam suas medalhas na Olimpíada do México em 1968?
Uma das mais recentes manifestações políticas dentro do contexto esportivo, como lembrado pelo próprio Leifert, foi nos EUA. Colin Kaepernick, jogador da NFL, protestou durante a execução do hino norte-americano e gerou descontentamento de parte da população. Pois ambos estão em seu direito: o protestante de protestar e os descontentes de ficarem descontentes.
O Kaepernick, que foi seguido por outros atletas, está desempregado, como bem lembrou o Leifert. Ele provou que reflete sobre o mundo que o cerca e manifestou uma opinião na oportunidade que teve. Foi punido porque 'nenhum time quis esse 'troublemaker' no elenco".
Penso, no entanto, que os atletas têm sim uma função social além de nos entreter e emocionar com seus gols e vitórias – ou até de nos frustrar com seus tropeços. Como qualquer cidadão, eles podem e devem ocupar seus espaços para estabelecer um diálogo com a sociedade. Analisar o seu próprio contexto (ou seja, o esporte) e também da comunidade que o circunda e, se for o caso, externar uma opinião.
A questão não é concordar ou discordar com a manifestação de alguém ou de algum atleta, mas de resguardar o seu direito de fazê-la. Neste aspecto, sou mais o Voltaire, que disse "posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lá", do que o Leifert.