Antônio Carlos Peireira, o Kiko, estava descontraído enquanto apresentava à diretoria da Sogipa as metas para 2018 na última segunda-feira (8). O motivo para tanta irreverência do sensei, talvez, estivesse diante dele. Após voltarem de férias, seus atletas o reencontraram na apresentação oficial para a temporada. Um supertime que, pela primeira vez na história do clube, terá 12 representantes na seleção brasileira de judô. Com 13 judocas, apenas o Pinheiros, de São Paulo, teve um número maior de atletas convocados.
Em 2018, a Sogipa busca superar – ou ao menos igualar – o desempenho recorde de 2017. A começar por Mayra Aguiar, que na última temporada se tornou a primeira judoca brasileira a conquistar o bicampeonato mundial. Mas o clube não se limita apenas aos títulos de Mayra, bronze nas olimpíadas de Londres 2012 e do Rio 2016. Nomes como Felipe Kitadai, Maria Portela, Érika Miranda, Daniel Cargnin, Rafael Macedo, Nathália Brígida e Rochele Nunes já chegaram ao pódio nas principais competições internacionais. Além disso, a lista de sogipanos na seleção aumentou com os ingressos de Raphael Minoru, João Macedo, Renan Nunes e Aléxia Castilhos, que em 2017 se destacaram no cenário nacional.
Neste ano, o torneio mais importante do calendário da modalidade será o Campeonato Mundial, disputado pela primeira vez em Baku, no Azerbaijão, entre 20 e 27 de setembro. Enquanto alguns destes 12 atletas do supertime buscam o ouro, outros tentam pela primeira vez participar da competição.
– Trabalhamos com o coletivo para que os resultados individuais ocorram. Criamos as metas junto aos judocas. Estes 12 atletas vão participar das principais competições do calendário. Os que tiverem os melhores resultados pela seleção vão ao Mundial – disse Kiko, sensei que formou João Derly e Mayra Aguiar e treinou Tiago Camilo, campeões mundiais de judô.
Trabalhamos com o coletivo para que os resultados individuais ocorram.
KIKO
Sensei da Sogipa
Responsável pelo planejamento da seleção principal do Brasil, o gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Ney Wilson Pereira, destaca a importância do clube para a modalidade no país:
– Minas Tênis, Sogipa, Instituto Reação e Pinheiros são os clubes que dão qualidade ao judô nacional. E a Sogipa tem se despontado entre esses quatro. Os seus resultados, a sua história e a construção que foram feitas ao longo do tempo através do Kiko e do João Derly são os alicerces para que hoje tenhamos uma equipe tão fortalecida como é a nossa seleção. Contamos com a parceria da Sogipa para alcançar objetivos maiores na Olimpíada de Tóquio.
Além da experiência de Kiko, uma das explicações para os bons resultados alcançados pelo clube é a relação nos bastidores entre dirigentes e atletas. Felipe Kitadai, bronze na Olimpíada de Londres 2012, é um exemplo. Em 2013, no seu primeiro Mundial após a conquista nos Jogos, o judoca errou e foi eliminado na primeira luta pelo o sul-coreano Jin Won Kim. Desolado, acocorou-se em um canto do ginásio e ali ficou. Quando viu o ex-vice-presidente do clube, Alexandre Algeri, caminhando em sua direção, ficou nervoso. Imaginou que receberia uma reprimenda do dirigente. Surpreendeu-se:
– Ele (Algeri) me consolou. Foi gratificante. Disse que, independentemente da derrota, eu era o campeão dele. Em nenhum outro clube isso aconteceria – conta o atleta, que em 2017 se recuperou de uma lesão no ombro para conquistar a prata no Grand Slam de Abu Dhabi.
O judô brasileiro seria muito mais pobre, teria muito menos medalhas, se não fosse a Sogipa.
FLÁVIO CANTO
Medalhista olímpico e fundador do Instituto Reação
Fundador do Instituto Reação (projeto de inclusão social em comunidades carentes do Rio de Janeiro), e apresentador da Globo, Flávio Canto, bronze na Olimpíada de Atenas, destaca a capacidade de renovação da Sogipa.
– Depois que o João Derly foi bicampeão mundial, a Mayra Aguiar se destacou. Agora, o Daniel Cargnin e outros vários judocas do clube estão aparecendo. Lapida-se o que tem de melhor na categoria de base. Pouco tempo depois, os atletas chegam à seleção e ao pódio em mundiais. O judô brasileiro seria muito mais pobre, teria muito menos medalhas, se não fosse a Sogipa – avalia.
Além de ser um clube formador de campeões, a Sogipa também passou a atrair atletas já consagrados, mas que ainda buscam melhores resultados na carreira. Em 2017, Érika Miranda desembarcou em Porto Alegre com três medalhas em mundiais no currículo. A brasiliense de 29 anos, porém, estava com a confiança abalada após perder a disputa pelo bronze nos Jogos do Rio no golden score (a prorrogação do judô) para a japonesa Misato Nakamura. A chegada ao clube deu novo ânimo à ex-atleta do Minas Tênis Clube. Oito meses depois, conquistou o bronze no Mundial da Hungria e, em dezembro, encerrou o ano com outro bronze, desta vez no Masters da Rússia.
Após Olimpíada, fiquei para baixo. Perdi minha competitividade, minha chama. Quando cheguei à Sogipa, essa chama só aumentou.
ÉRIKA MIRANDA
Judoca
– Todos os resultados que tive em 2017 estavam diretamente relacionados a minha mudança para a Sogipa. Estou feliz. Após Olimpíada, fiquei para baixo. Perdi minha competitividade, minha chama. Quando cheguei à Sogipa, essa chama só aumentou – conta a atleta, atual número 1 no ranking mundial.
Nesta temporada, cada uma das sete categorias terá entre três ou quatro representantes na seleção brasileira.
A partir desta relação, a CBJ realizará as convocações para as competições do calendário. Os torneios valem pontos no ranking internacional e devem servir como principal critério para a definição da equipe que irá à Olimpíada de Tóquio 2020. Se depender do seu supertime neste ano, Kiko continuará irreverente na reapresentação de 2019.
O SUPERTIME
Feminino
- 48k (ligeiro)
Nathália Brígida
- 52kg (meio-leve)
Érika Miranda
- 63kg (meio-médio)
Aléxia Castilhos
- 70kg (médio)
Maria Portela
- 78kg (meio-pesado)
Mayra Aguiar
78kg (pesado)
Rochele Nunes
Masculino
- 60kg (ligeiro)
Raphael Minoru
Felipe Kitadai
- 66kg (meio-leve)
Daniel Cargnin
- 81kg (meio-médio)
João Macedo
- 90kg (médio)
Rafael Macedo
100kg (meio pesado)
Renan Nunes