A Superliga Feminina de vôlei está recém na metade, e o principal assunto desta edição não é o duelo entre Osasco e Rio, rivalidade que marca o campeonato há anos. Os debates mais calorosos têm sido pautados pela presença no torneio de Tiffany Abreu, a primeira mulher transexual a jogar a competição.
A atleta do time de Bauru cumpriu todas as exigências do Comitê Olímpico Internacional para entrar em quadra — sua taxa de testosterona está bem abaixo do limite permitido para mulheres trans poderem participar dos campeonatos femininos. Então, é inadmissível que ela sofra ataques pessoais, sobretudo quando entra em quadra.
O que tem sido debatido no momento é o fato de o corpo de Tiffany, 33 anos e 1m94m, ter sido desenvolvido como o de um homem, com altas taxas de testosterona, até os 29 anos, quando começou a sua transição de gênero. Por isso, segundo fisiologistas esportivos, ela levaria vantagem em relação às demais jogadoras.
A bicampeã olímpica Sheilla Castro, que havia preferido permanecer em silêncio, passou, apoiada neste diagnóstico, a se manifestar contra atletas trans no campeonato. É a opinião de uma estrela do esporte e deve ser respeitada. Ao mesmo tempo, é importante apontar falhas no discurso de Sheilla.
— Imagina se todos os gays, os veados, resolverem jogar a Superliga feminina? — declarou em entrevista recente.
Chamar os homossexuais de veados é ofensivo. Sheilla, com o papel que representa, deveria estar melhor preparada para falar sobre tema tão polêmico. E vale destacar que homossexualidade não é o mesmo que transexualidade. Enquanto gays e lésbicas se relacionam com pessoas do mesmo sexo e não têm problemas com os seus corpos, as pessoas trans os consideram inadequados: passam por tratamento hormonal e por cirurgia de readequação de gênero, conhecida como mudança de sexo. Homossexuais não querem mudar o corpo e têm seu espaço garantido entre os atletas, sobretudo no vôlei, apesar de ainda existir muita homofobia.
O mesmo não se pode dizer das pessoas trans. Tiffany está sofrendo por seu pioneirismo. Não se trata apenas de taxa de testosterona ou média de pontos por partida. As primeiras informações dão conta de que, sim, ela é um pouco mais forte do que a maioria das atletas - mas não mais do que Tandara, por exemplo, a oposto titular da seleção. Por outro lado, dá prejuízo no fundo de quadra na hora de defender.
O mais importante, entretanto, é a discussão de inclusão social que a jogadora tem levantado. Nesse debate, não dá para esquecer que o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, segundo a ONG Transgender Europe.