Dois anos e meio depois da prisão de sete dirigentes do futebol em Zurique, o julgamento dos únicos três acusados e detidos nos Estados Unidos, poderosos cartolas sul-americanos, começou com a seleção dos jurados nesta segunda-feira (6), em Nova York.
São eles o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin (85 anos), o paraguaio Juan Ángel Napout, ex-presidente da Conmebol e antigo vice-presidente da Fifa (59), e Manuel Burga, ex-presidente do futebol peruano (63).
Os três acusados cumprem prisão domiciliar há mais de dois anos, desde que foram detidos no início da investigação do governo americano que sacudiu o futebol mundial e derrubou o ex-presidente da Fifa Sepp Blatter. Nenhum deles deu declarações à corte nem à imprensa.
Na porta do tribunal, dois brasileiros disseram ter viajado para Nova York especialmente para acompanhar o julgamento. Ambos levaram cartazes com os dizeres "EUA, nos ajudem a prender os corruptos brasileiros de nosso governo no futebol. Cadeia neles". Um dos manifestantes estava com a bandeira do Brasil.
A procuradoria acusa Marin, Napout e Burga de negociarem contratos de televisão e marketing em jogos eliminatórios para as Copas do Mundo e outros torneios em troca de subornos que eram pagos por meio de malas cheias de dinheiro ou complicados esquemas bancários.
Os três enfrentam acusações de associação para delinquir, fraude bancária, lavagem de dinheiro e por integrar uma organização criminosa, entre outros delitos.
"Otimistas"
Ao contrário de outros 24 acusados do mesmo caso, que estão nos Estados Unidos e se declararam culpados, os três sul-americanos insistiram em sua inocência. Um júri popular vai definir o veredito.
Se forem considerados culpados, a juíza Pamela Chen pode definir sentença de até 20 anos de prisão por cada acusação.
— Estamos muito otimistas e contentes que Juan (Napout) vai ter o seu dia no tribunal depois de dois anos de espera — disse aos jornalistas a advogada do ex-dirigente paraguaio, Silvia Piñera, avaliando que o julgamento deve se estender por mais seis semanas.
Marin, que está em prisão domiciliar em um apartamento luxuoso na Trump Tower, "se declarou inocente e continuará se declarando inocente", disse à imprensa o advogado do brasileiro, Júlio Barbosa.
Neste primeiro dia de julgamento, 240 potenciais jurados se apresentaram à corte e receberam um formulário para preencher. Os advogados de defesa e a acusação vão escolher as 12 pessoas que vão formar o júri, mais alguns suplentes.
As partes voltarão a se reunir na quarta e na quinta-feira para avançar na seleção dos jurados.
A investigação do governo dos Estados Unidos revelou em 2015 um esquema de corrupção sistêmico na Fifa. Segundo a acusação, cartolas e empresários faziam fortuna às custas do esporte mais popular do mundo.
Penas leves
Quarenta e dois dirigentes do futebol e empresários das Américas, além de três empresas, foram indiciados pela justiça americana numa acusação de 236 páginas, que descreve 92 delitos em 15 esquemas de corrupção no valor de 200 milhões de dólares durante 25 anos.
Dos 27 acusados que estão nos Estados Unidos, dois já foram sentenciados pela juíza Chen a penas relativamente curtas em outubro. É o caso de Héctor Trujillo, ex-secretário da federação de futebol de Guatemala, que ficará oito meses na prisão.
Com isso, 22 acusados aguardam as sentenças. Entre eles está Jeffrey Webb, das Ilhas Cayman, acusado de receber mais de seis milhões de dólares em subornos, com os quais comprou propriedades imobiliárias, relógios de luxo e mandou construir uma piscina em sua casa, segundo a promotoria.
Quinze acusados estão em seus países de origem, onde foram ou estão sendo julgados pelos mesmos delitos, e alguns brigam contra a extradição aos Estados Unidos. É o caso de Jack Warner, ex-vice-presidente da Fifa e ex-presidente da Concacaf oriundo de Trinidade e Tobago, suspenso à vida de toda atividade ligada ao futebol pelo Comitê de Ética da Fifa.
* AFP