Os Estados Unidos são uma potência esportiva mundial, mas não conseguem ter o mesmo rendimento no futebol. E a crise no desenvolvimento de talentos teve um ponto extremo nesta terça-feira (11): uma derrota para Trinidad e Tobago impediu a classificação para a Copa do Mundo pela primeira vez desde 1986, interrompendo uma sequência de sete aparições consecutivas em Mundiais _ no período, a seleção americana chegou a ser vice-campeã da Copa das Confederações, em 2009, e venceu neste ano a Copa Ouro, torneio continental da Concacaf.
Para Edu Morato, especialista em marketing esportivo e gerente geral da Yellow Birds Soccer Academy, em Orlando, o problema passa pelo modelo de formação de jogadores.
— O modelo de categoria de base aqui é baseado no futebol inglês. Os ingleses são valorizados como "papas" do assunto. Passam às crianças uma iniciação ao esporte muito fraca, cobram torneios, campeonatos e vitórias de crianças de seis anos. Ou seja, não se preocupam em ensinar o jogo, os fundamentos, fazer as crianças gostarem do esporte, mas sim em disputarem e ganharem campeonatos — explica.
Na avaliação de Pedro Luis Cuenca, setorista de MLS do site Trivela, decisões erradas na formação da seleção também influenciaram na eliminação precoce.
— Os americanos ficaram, nas últimas Eliminatórias, com a sensação de que eram imbatíveis, até porque fizeram boas campanhas até em Copa das Confederações. A última Copa, quando a seleção passou por um grupo difícil, criou a impressão de que eles haviam atingido um novo patamar. Soma-se a isso uma mistura de gerações no elenco, com jogadores experientes que venceram tudo e atletas mais jovens que falharam em levar os EUA para torneios de base, como Olimpíada e Mundial — relembra.
Ao contrário da maioria dos países concorrentes, os Estados Unidos não tratam o futebol como prioridade. O futebol americano, o basquete e o beisebol são as preferências a partir do ensino médio — o futebol da bola redonda é mais praticado no ensino fundamental, mas dificilmente é prioridade diante da perspectiva de jogar nas ligas ricas dos esportes locais. Edu Morato observa ainda que, na tentativa de espelhar os modelos adotados em outros esportes, os americanos não conseguem incluir os jovens talentos em competições de alto nível.
— A maioria larga o futebol para outros esportes na adolescência. Quem não larga não aprendeu fundamento. Outro problema é que aqui o jogador vira profissional depois da faculdade, com 21 ou 22 anos. Para o futebol, já é tarde demais. Perde a fase de juvenil e júnior, de 16 aos 21 anos, jogando em baixíssimo nível no college (nível universitário) — pondera.
Nos últimos anos, a MLS (equivalente à Primeira Divisão local) abriu as portas para grandes nomes estrangeiros. O fator é visto com duas perspectivas por Pedro Luis Cuenca.
— Ao mesmo tempo em que a chegada de atletas estrangeiros, principalmente os famosos, acaba gerando uma atenção e incentiva mais americanos a jogar, isso acaba atrapalhando o desenvolvimento dos jovens, que são deixados de lado, esquentando banco — conclui.
Fora dos gramados, os Estados Unidos seguem com seus fortes investimentos. O país lidera uma candidatura conjunta com México e Canadá para receber a Copa do Mundo de 2026. A expectativa é conseguir o mesmo impacto obtido em 1994, quando o esporte ganhou popularidade e jovens praticantes.