A manhã desta terça-feira (5) foi sacudida por mais uma bomba na sociedade brasileira. A Polícia Federal deflagrou a Operação "Unfair Play", um desdobramento da Lava-Jato que investiga a suspeita de compra de votos por parte do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para garantir a eleição do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos em 2016.
Novidade? Sim. Mas infelizmente algo que se esperava. Na eleição realizada em outubro de 2009, na capital dinamarquesa Copenhague, a candidatura brasileira venceu Madri na última rodada, sendo que Tóquio e a então favorita Chicago caíram nas rodadas anteriores. Uma grande festa foi feita e projetada. À época, embalado por ganhar a Copa e a Olimpíada, o Brasil parecia navegar em uma nova era. Mas esse castelo foi desmoronando aos poucos, mesmo que os dois megaeventos tenham sido realizados.
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O primeiro a alertar que "havia algo podre no Reino da Dinamarca" foi o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que afirmou que "as decisões do COI são similares às da FIFA: um pouco manipuladas". Coincidência ou não, os escândalos da Fifa foram se sucedendo, com prisões de diversos de seus dirigentes, com reflexos no Brasil. O tempo passou e, agora, a escolha do Rio de Janeiro está sob investigação internacional.
Se Obama sabia de tudo ou não, apenas o desenrolar dos fatos irá apontar. Mas a tão comemorada vitória de Lula, então presidente da República, e um dos integrantes da comitiva brasileira em Copenhague sobre o dirigente da maior potência mundial teve seu preço. E ele foi alto. O presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Carlos Arthur Nuzman, é apontado pela PF como "agente responsável por unir as pontas" e "azeitar as relações para o esquema de propina de Sérgio Cabral", então governador do Rio de Janeiro e preso em outras investigações da Lava-Jato.
Infelizmente, o esporte brasileiro é apenas um reflexo de nossa sociedade, corrupta em suas entranhas. Aqui, sempre se cultuou "o jeitinho", a " Lei de Gérson". A história do "me ajuda para eu te ajudar" virou algo cultural . Afinal sempre se pergunta: "Mas o que eu ganho com isso?". E todas as questões de corrupção na escolha do Rio como sede olímpica têm implicações políticas.
A parte política no esporte é algo indissociável. Usar o esporte para promover uma forma de governar, de administrar, é comum. Exemplos dessa velha história do "pão e circo"? Berlim Nazista foi sede dos Jogos Olímpicos de 1936, a Itália fascista recebeu a Copa de 1934, assim como Argentina da ditadura em 1978. A vitória melhora a autoestima e apaga os problemas. Na época da ditadura, tivemos o "Pra Frente Brasil" na Copa de 1970 ou a famosa frase "onde a Arena vai mal, um time no nacional", para justificar o inchaço do Campeonato Brasileiro.
Se alguém esperava legados da Copa e da Olimpíada, sugiro que aguarde. Pois os bilhões gastos nos dois grandes eventos serviram a poucos, mais uma vez. O esporte não ganhou nada. Pelo contrário, teve sua imagem arranhada, assim como o Brasil vem tendo ao longos dos tempos.