Uma cidade que respira basquete. A frase pode se tornar ainda mais real com o projeto de criação do time feminino do Caxias do Sul Basquete. Depois do NBB e das categorias de base no masculino, agora um grupo de atletas e apaixonadas pela modalidade está em busca de soluções e apoiadores para inscrever uma equipe caxiense na Liga de Basquete Feminino (LBF) na próxima temporada. Sem um time participando de campeonatos brasileiros desde 1998, quando a Ulbra terminou na sexta colocação, o Rio Grande do Sul pode voltar a ocupar espaço no cenário nacional da modalidade.
A ideia surgiu do desejo de Audrin Sirtoli, 31 anos, que joga basquete desde 2000, ainda nas categorias de base da UCS/Galópolis, e outras atletas de montar uma equipe adulta na cidade.
– O sonho é construído há um bom tempo. Há uns 10 anos que a gente vem falando "vamos montar um time feminino", mas chegava na hora e ninguém tomava a frente. Comecei a tomar a iniciativa, falei com as meninas. Entrei em contato com a LBF e eles disseram que a competição só iria começar em janeiro. Então, dá tempo de montar um time – diz a idealizadora do projeto, que junto com o árbitro da Federação Gaúcha de Basquete (FGB), Willian Quevedo, busca os recursos para a execução.
As representantes caxienses estarão na reunião da LBF na próxima terça-feira, que começa a definir o rumo do principal campeonato do país em 2018. Neste ano, só seis equipes participaram da competição: Blumenau-SC, Corinthians-SP, Presidente Venceslau-SP, Sampaio Corrêa-MA, Santo André-SP e Uninassau-PE.
Para fortalecer o basquete
O Caxias Basquete entrou como parceiro no projeto. Disponibiliza a estrutura e a marca da associação, mas não colocará dinheiro na montagem do elenco. O presidente do clube, Maurício Previde, entende que a formação da equipe feminina, através do esforço das meninas, ajuda no crescimento do time e do esporte na cidade:
– Uma coisa chama a outra. Daqui a pouco vamos ter categorias de base no feminino, ampliar as do masculino. A nossa ideia é colocar essa cultura do basquete na cidade de uma forma que ela venha a se sustentar durante o tempo.
Os jogos femininos não serão no Ginásio Vascão. A equipe trabalha com outras duas possibilidades, ainda não confirmadas. A maior dificuldade do momento é a captação dos recursos. Sem tempo hábil para conseguir a verba por meio das leis de incentivo ao esporte, a primeira participação do time na LBF terá que ser totalmente conquistada em patrocínios diretos. Incluindo atletas, comissão técnica, moradia, alimentação e passagens aéreas, o gasto que se projeta para a temporada de sete meses é de R$ 650 mil, ou quase R$ 100 mil mensais.
Os contatos com possíveis investidores já estão em andamento, mas até agora nenhum está fechado. Até pelo pouco tempo para conseguir os valores, a busca tem sido inicialmente com os empresários locais.
– Esta semana conversamos com algumas pessoas e na próxima vamos ter algumas reuniões. Possivelmente, algumas parcerias já sejam confirmadas. Se tudo der certo, vamos fechar e conseguir jogar a LBF – projeta Audrin.
A comissão técnica e a base do grupo deve ser toda do Estado. A ideia é de que os treinos iniciem em outubro.
Realizando sonhos de voltar a jogar em casa
Deixar a cidade, o Estado e, por vezes, até o país para realizar o sonho de jogar basquete é uma triste realidade para as atletas gaúchas. A ausência de um time adulto em grandes competições obriga jovens a deixar Caxias do Sul e região para seguir a busca de uma carreira profissional no esporte em outros locais.
A possibilidade de disputar a LBF fez com que Jennifer Sirtoli, 25 anos, irmã de Audrin, permanecesse na cidade. Após ter saído de casa ainda na adolescência para jogar, a perspectiva de um time local anima a atleta:
– Saí com 15 anos daqui do Sul porque não tinha mais adulto. Mas as meninas que ficaram aqui seguiram jogando as competições regionais. São gurias que trabalham, mas que têm vontade de jogar ainda basquete profissionalmente, como a gente está querendo trazer agora para Caxias. Faz nove anos que jogo em São Paulo, voltei porque minha irmã tem esse sonho de jogar por aqui e eu também tenho. Será ótimo voltar para a casa, ficar perto dos meus pais, da minha família. Quando era mais nova, todo mundo ia torcer e agora vai todo mundo poder vir torcer de novo e gritar aqui pela gente.
Após tantas temporadas fora do Estado, Jennifer vê a chance de defender o Rio Grande do Sul em uma competição tão importante como uma forma de valorização do talento local.
– Eles não sabem muito sobre o basquete feminino aqui do Sul. Por isso, estamos entrando na liga, para que todos possam ver que tem qualidade aqui.
Voltando ao Brasil
Jogar por Caxias do Sul também empolga Thais Matté, 22 anos, que esteve recentemente estudando e atuando pela Genesee Comunity College, nos Estados Unidos:
– Sempre foi um sonho poder representar meu Estado na Liga Nacional. Nem estou acreditando que isso está acontecendo e espero que a gente consiga concretizar. O que achava que estava muito distante e que nunca iria acontecer pode virar realidade e está sendo maravilhoso.
A experiência fora do país fez com que Thais pudesse observar o contraste entre o que é desenvolvido no basquete daqui para o que é praticado nos EUA.
– Acho que o Brasil tem que evoluir muito no basquete, principalmente no feminino. Acabamos de ficar fora do Mundial (a seleção ficou em quarto lugar na Copa América). A possibilidade de criar esse time é para mostrar para o país que há outros lugares com atletas de alto nível e evoluir o nosso basquete – diz a jovem, que acredita que o apoio da cidade será determinante para a realização do projeto:
– Caxias tem que abraçar a ideia. Ter um time feminino, além do masculino, vai incentivar muitas crianças a saírem das ruas e virem treinar.