A vida da lenda do futebol africano Abédi Pelé mudou desde sua aposentadoria dos gramados: o ex-meia faz múltiplas funções no Nania (clube da 2ª divisão de Gana), agencia os três filhos André, Jordan e Rahim Ayew, e é coproprietário de um banco de microcréditos e dois cassinos.
"É bom estar em casa. Sempre tive saudade do meu país. Em 30 anos de carreira, passei por Catar, França, Itália, Alemanha, Emirados... Mas não queria voltar e não fazer nada", explicou Pelé.
"A aposentadoria é o mais difícil para um jogador. Jogamos 10 ou 15 anos. É só uma pequena parte do que precisamos viver. O que fazer depois? Nos limitamos a gastar dinheiro?", acrescentou o ex-jogador em sua casa, sem luxos exuberantes mas repleta de troféus, entre eles as três Bolas de Ouro africanas que ganhou.
"Quando estava em Marselha com Basile Boli e Jocelyn Angloma, nos perguntávamos o que faríamos depois da nossa carreira. Eu queria devolver um pouco tudo o que a bola tinha me dado", acrescentou Pelé.
- Depois da bola -
Foi então que fundou, em Accra, o próprio clube Nania FC, nome do povoado da origem de seu pai no norte de Gana. Pelé atua como presidente, técnico, patrocinador e relações públicas do time.
"Existem muitas crianças com talento que estão nas ruas. Suas famílias não podem oferecer educação. São crianças assim que são recrutadas", explicou Pelé, que conseguiu que o clube subisse desde a quarta divisão para a segunda. O time também venceu a Copa da Gana em 2011.
"Podíamos ter chegado na primeira divisão, mas esse não era o objetivo. É muito caro. Quero construir um time que tenha futuro, quero que as estruturas sejam sólidas. Não é só colocar dinheiro para jogar na primeira divisão", acrescentou.
"Pouco a pouco, isso começa se transformar em algo importante", destacou o ex-jogador do Olympique de Marselha, que ajuda na construção de um centro de treinamentos e quatro campos em Accra, para fundar "uma verdadeira academia".
Gana tem dezenas de centros, mas várias vezes não estão relacionadas com nenhum clube e são estruturas vazias, que servem unicamente para os interesses dos proprietários.
- Parceria com Olympique de Marselha -
Pelé tem a ambição de criar um centro que funcione como o fundado pelo francês Jean-Marc Guillou, na Costa do Marfim.
"Gostaria que os negócios avançassem bem para poder investir mais", garantiu Pelé, criador de um banco de microcréditos com objetivo de ajudar os mais pobres a iniciar projetos.
No Nania, Pelé conta com um auxiliar com plenos poderes para quando não pode acompanhar o time. O ex-jogador viaja com frequência para a Europa para seguir as carreiras dos filhos: André Ayew está no West Ham, Jordan (Swansea) e Rahim, o mais novo, é profissional na Bélgica.
Modesto, Abédi atribui todo o crédito para o sucesso dos filhos à mãe Maha: "eu jogava, estava sempre fora, em hotéis. Foi ela que os acompanhou, que levou nos treinamentos, que deu força...".
Agora torce para que os filhos tenham carreira tão bonita quanto a sua: "Todo pai sonha em ver os filhos o superarem. Estamos muito orgulhosos deles jogarem nesse nível. Estão brigando para chegar longe".
Em suas viagens, Pelé costuma passar pela França. "Sempre paro lá, porque a França me deu tudo. Amor, carreira, educação. Me deu tudo mesmo", insistiu.
* AFP