Qual é o procedimento quando ocorre um caso de racismo no futebol? O midiático, nós sabemos: todos se eximem de culpa, ninguém sabe quem foi, saem as notas dizendo que "todos somos iguais", e o jogador que se vire para encarar, sozinho, a denúncia.
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Não são poucos os atletas que desistem por medo de prejudicar suas carreiras em outros clubes. O zagueiro Wagner, do São José, decidiu ir adiante no caso – e a responsabilidade de fazer com que ele tenha apoio nisso é de toda a comunidade do futebol do Rio Grande do Sul.
É triste constatar, porém, que a luta contra o racismo é eivada de um clubismo doentio. Parece ser mais importante, para alguns, disputar um campeonato de aplausos do que participar de ações efetivas. As mesmas pessoas que mostram que seu clube teve negros antes do rival costumam se calar diante de fatos reais, como o silenciamento das vítimas de racismo e a generalizada falta de instrução para lidar com denúncias.
O Observatório Contra a Discriminação Racial no Futebol, por exemplo, apresentou na OAB no dia 14 de março, por seu diretor Marcelo Carvalho, o projeto da cartilha Dimensões do Racismo, que busca combater a discriminação na sua origem – educando os clubes, de dirigentes a jogadores da base, para lidar com o problema e saber como solucioná-lo. Foram 20 casos de racismo registrados pelo Observatório apenas em 2017. Nas palavras de Marcelo, "o esporte tem um papel fundamental na orientação e correção dos jovens, que muitas vezes, de forma inconsciente, acabam por usar expressões racistas".
A cartilha carece de apoio institucional: os clubes brasileiros deveriam ser os primeiros interessados em financiar a sua impressão e distribuir aos seus funcionários.
No entanto, eximir-se da responsabilidade parece ser a regra: torcedores e diretores preferem as ações cosméticas e o apontar de dedos para o outro. O racismo é deles, o clubismo é nosso.
O desembargador Paulo Rangel, primeiro negro a assumir esse cargo no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, disse naquela mesma tarde que punições mais duras contra o racismo não aliviam a necessidade de investir em educação, para evitar que nossas crianças e adolescentes repitam esse delito. Essa não parece ser a prioridade nem dos clubes, nem da Federação Gaúcha de Futebol. Enfrentar o racismo institucional é uma dura batalha, que não será vencida apenas com apertos de mão e boas intenções.