Um meia com veia artilheira é o nome do Brasil-Pel. Na verdade, Felipe Garcia passou por uma mudança de posição a pedido de Rogério Zimmermann, que viu em seu jogador função de armação e marcação que nem ele conhecia.
Goleador do Brasileirão da Série B com 12 bolas na rede, Felipe Garcia desembarcou na Dinamarca, aos 16 anos, atacante. Aprendeu funções táticas e técnicas no Naestved, nome da cidade distante 100 quilômetros de Copenhagen, mas sentia falta do estilo brasileiro de se viver futebol, ainda que precisasse começar do zero sua carreira como jogador.
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Hoje, com 25 anos – dois deles no xavante –, comemora o que chama de "início de muitos outros bons momentos que virão". Prefere permanecer com o pé no chão e fazer eco ao discurso do treinador de que o primeiro objetivo é somar pontos suficiente para permanecer na Série B em 2016 apesar dos resultados que já permitem à direção do time de Pelotas sonhar com a elite do futebol.
Mas entrega que, entre um chorinho e outro do filho recém-nascido Gonçalo e da pequena Teodora de um ano, pensa o quão espetacular seria unir o sonho de jogar a Série A vestindo as cores do xavante.
Confira trechos da conversa:
Você é o goleador da competição, com 12 gols. É o melhor momento da sua carreira?
É um momento especial, não só pela questão da artilharia, mas também pelo momento que vive o clube. Trabalhamos bastante para que, em todos os campeonatos que disputamos, a gente sempre brigue pelos objetivos maiores. E é o que está acontecendo. Mas, ainda assim, continuamos com a nossa ideia, de pensar jogo a jogo, para nos afastar da turma lá de baixo. E nada melhor do que estar lá em cima, né?
O excelente momento que o Brasil-Pel vive já permite pensar na Série A?
Ia ser muito bom – é a melhor perspectiva –, mas tem muitos jogos pela frente ainda, muita coisa ainda para acontecer. Mas óbvio que a gente vai jogar para sempre ganhar os três pontos, para melhorar na posição no campeonato. Temos de estar preparados para as adversidades até agora. Todo jogo é uma decisão, é um campeonato de alto nível, e com boas equipes.
O Brasil-Pel estaria pronto para jogar na Séria A?
É muito difícil falar. Talvez, se for pensar, a gente não estivesse pronto para a Série B também. E, olha aí, o nosso estádio está sendo reformulado, contratações foram feitas. É assim. Mas não é uma coisa a se pensar agora. Temos que aproveitar bem, o grupo está muito determinando, entrando em todos os jogos como se fosse o último, sempre no limite.
O Brasil-Pel cresceu evoluiu muito desde sua chegada (em 2014 disputava a primeira divisão do estadual). Dá para dizer que você cresceu junto?
Esse é o ponto maior do Brasil-Pel. Os atletas têm uma identificação com o clube e muitos têm esse crescimento. Eu credito, sim, a minha boa fase ao clube, à comissão, à diretoria e à torcida. O trabalho feito é diferente, sim. Hoje, posso dizer que aprendi muito.
Qual a parcela do Zimmermann nesse crescimento?
Ele é um treinador diferente, é aquilo que a gente vê nos jogos, sempre muito atento. É um cara que sempre vai surpreender a gente. Assim como ele cobra de todos os jogadores, está em constante evolução. Nos outros clubes, jogava como atacante. No Brasil, fui deslocado para o meio-campo. Tenho um desempenho legal na parte defensiva e foi como eu cresci como jogador.
Você teve oportunidade de jogar na Dinamarca. Decidiu voltar por quê?
Fui muito cedo para a Dinamarca, joguei por três temporadas. Tinha oportunidade de ficar, decidi voltar com a minha esposa (Felipe é casado com Jordana desde os 17 anos). Lá, as questões táticas e técnicas são muito evoluídas. Mas tem uma questão, que é parte de torcida, de estar perto do clube, que lá ainda não tem. No Brasil-Pel isso é maravilhoso, já pude jogar para 10 mil pessoas.
E teve de começar do zero na carreira de jogador de futebol.
Foi um tempo difícil, você toma um baque, um choque pelas opções de mercado. E não só pela questão do futebol, mas também de país. É tudo muito diferente.
Suas atuações vêm te dando um bom destaque no mercado nacional. Este ano, estava na lista de possíveis contratações do Grêmio. Chegou a receber proposta?
Essa é a parte legal, ver a ascensão acontecendo. Todo mundo trabalha para chegar em um nível maior. Acho isso bacana, mas não chegou nada oficial do Grêmio. Acredito que tenha sido especulação. Ainda assim, fico muito feliz por existir, é sinal que o nosso trabalho está sendo reconhecido, ainda mais pelo Grêmio. Mas temos muita noção da responsabilidade que é jogar no Brasil.
Voltar ao teu país também é uma oportunidade de sonhar com Seleção Brasileira?
Ah, isso a gente sempre tem. Eu prefiro o momento que eu tenho hoje. É um passo de cada vez, vou aproveitar o momento, de eu estar bem. Estou tendo a facilidade de fazer gols. Com certeza é o meu melhor momento. Prefiro ver que esse é o início de muitos outros bons momentos que virão. Quem sabe subir pra A com o Brasil...
E o cachorro invadindo o gramado no jogo contra o Goiás na sexta?
(Risos) Olha, isso já aconteceu umas três vezes no Bento Freitas, sempre tem um cachorro que entra lá. Mas nunca é o mesmo.
*ZHESPORTES