O meia Tim, o paulista Elba de Pádua Lima, jogou muita bola em grandes clubes de Rio, São Paulo e América do Sul e, por sua inteligência, ganhou o apelido de "El Peón".
Ótimo jogador, foi melhor ainda como técnico. Ficava quieto no seu banco, sem crises histéricas e – acreditem – tranquilamente fumando um palheiro (ao menos foi assim que eu e o jornalista Afonso Licks o vimos em Montevidéu ganhando do Uruguai com um baile e levando o Peru à Copa do Mundo de 1982). Antes, em 1966, Tim havia sido campeão carioca com o Bangu, mas só quando já estava muito perto da taça é que começou a ganhar o interesse dos repórteres, que perguntaram qual era o segredo:
– O Bangu é pobre, feio e mora longe – começou Tim. – E exatamente por isso pode trabalhar sem pressão, porque vocês não ficam lá todo tempo enchendo o saco – completou, sarcástico.
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A lista de outros fracos e desamparados, silenciosas nuvens passageiras (abraço, Hermes Aquino) que inesperadamente botaram faixa e mão no caneco, é bastante longa.
Alguns desses fenômenos: São Cristovão e América, Renner e Caxias, Internacional, de Limeira, Bragantino e Ituano. Na Copa do Brasil, Criciúma, Juventude, Santo André e Paulista, de Jundiaí. Fora do Brasil, Cagliari, Verona, Sampdoria, Real Sociedad, La Corunã, Boavista, Wolfsburg, Dinamarca, Grécia, Cienciano, Once Caldas, Arsenal, de Sarandí, Lanus, Blackburn, Leicester, Portugal, por aí vamos nós.
A gente tem essa saudável mania de torcer pelo mais fraco, na vida e no futebol. Quando dá certo, é uma festa. Nem se atreva a dizer que nos velhos faroestes não torcia por uma improvável vitória dos índios (ou pelo touro na tourada). Já que os índios só se ferravam nos filmes, foi a história que entrou em campo e fez justiça: não existe mais faroestão. O mundo se cansou de triunfos apenas dos ricos e bonitos que moram nas melhores casas.
Agora, pode estar chegando a hora feliz de mais um pobre feio e quietinho que mora longe. Todos nós sabemos que o melhor time da Libertadores é o Nacional, de Medellín. Mas na final de hoje a torcida dos que preferem se emocionar com os oprimidos vai para o Independiente del Valle, de uma pequena cidade de 100 mil habitantes no Equador, Sangolquí, dono de estádio de 10 mil lugares e, por isso, obrigado a jogar fora de casa. Em memória de Tim, "El Peon", viva "El Mata Gigantes".
*ZHESPORTES