Vocês podem até não lembrar, mas já houve um tempo em que um gol de goleiro em futebol era motivo para parar o que se estivesse fazendo e olhar para a TV. Podia ser de falta, pênalti, cabeça no escanteio... Qualquer jeito valia. Mas há 18 anos, esse lance ficou comum. Rogério Ceni banalizou o gol de goleiro.
O goleiro do São Paulo é um daqueles personagens que, daqui a 30 anos, ninguém vai lembrar das falhas. Seus 131 gols marcados como profissional serão praticamente 500, de tantas lembranças diferentes que torcedores terão de cada vez que o capitão do São Paulo atravessou o campo e botou a bola na rede de algum adversário. E não só memórias de são-paulinos. Aqueles que foram vítimas também terão recordações de suas cobranças de faltas.
A despedida dele, na sexta à noite foi um marco para o futebol brasileiro. Ele foi o último jogador a servir a apenas um clube, a uma torcida. Mais do que isso, virou referência para o clube mais vitorioso do Brasil em seu período mais vitorioso.
Esses dias, conversando com o Leonel Chaves, colega aqui da ZH, autor daquele material sobre Rogério Ceni que saiu na edição de sexta, ele comentou:
- Sabe o que mais me marca? É que o Rogério teve a melhor atuação da carreira logo no jogo mais importante da carreira.
Realmente. Contra o Liverpool naquele Mundial de Clubes de 2005, teve, provavelmente, a melhor atuação de um goleiro na história desta competição. A defesa da cobrança de falta do Gerrard, lá no ângulo, motivou uma legenda curiosa de um amigo meu no falecido Orkut: "Rogério Ceni 1x0 Isaac Newton".
E até esse jeito meio mala, meio piegas faz parte da característica que encantou os são-paulinos. Aquela frase: "Quando morrer, quero que meu corpo seja cremado, para que eu possa sempre estar no Morumbi" é uma típica sentença para ficar eternizada em faixas e trapos de torcedores.
Pela proximidade do tempo, talvez ainda não tenhamos a dimensão de quem é Rogério Ceni. Insistimos em lembrar suas falhas, mesmo que nem tenham sido tantas. Ainda mais que, no fim das contas, todos os goleiros levaram frangos na carreira. Mas só um marcou 131 gols.