Engana-se quem pensa que Cássio está em Veranópolis apenas para desfrutar as férias após ter garantido o título brasileiro pelo Corinthians. De volta à Serra para os festejos de final de ano, o goleiro de 28 anos teve como primeiro compromisso pagar uma aposta perdida para um amigo colorado. A brincadeira era quem iria mais longe na última Libertadores: Corinthians ou Inter. Como o Timão parou nas quartas de final e os gaúchos avançaram até as semifinais, o camisa 1 da Fiel pagou a conta.
Assim também foi inaugurada a temporada de churrascos de final de ano do melhor goleiro do Brasileirão - esse sim conquistado pelo Corinthians -, que ainda servirá para matar a saudade de muitos amigos nas próximas semanas. Outra tradição dessa época, o jogo beneficente em prol da Apae também já está marcado.
Será neste sábado, às 17h, no Estádio Mário Cini, em Nova Prata. E contará com a presença de vários companheiros do Timão, além do técnico Tite e de outras personalidades do futebol gaúcho e nacional.
Na última quinta-feira, em um sítio onde foi a convite de amigos em Antônio Prado, o grandalhão de cabelos compridos e sorriso tímido contou ao Pioneiro, entre um tapa e outro em mosquitos que castigavam suas pernas até recorrer a um repelente, sobre mais um ano de conquistas importantes para a carreira. E projetou 2016 com dois desafios primordiais: Conquistar a segunda Libertadores e se firmar entre os convocáveis de Dunga na Seleção Brasileira. Confira trechos da conversa:
Pioneiro: Como Veranópolis recebeu o goleiro campeão brasileiro?
Cássio: Há alguns anos eu vinha para a cidade e ficava mais tranquilo, hoje já está um pouco mais agitado. Mas é legal estar perto da família. Tenho um respeito muito grande e poder estar perto, ainda mais comemorando um título da magnitude do Brasileiro, é muito bom. Sempre fomos muito unidos e desde menino que Natal e final de ano eu não abro mão de passar com a família.
No sábado haverá mais uma edição do jogo em prol da Apae. Qual a importância de usar teu prestígio em prol de quem necessita?
- Quando se trata de ajudar, fazer caridade, eu estou sempre disposto da forma que puder. Meu calendário é bem corrido, mas sempre tento pelo menos usar a minha imagem, às vezes doar camisa ou luva para fazer uma rifa. Meus colegas do Corinthians também ajudam sempre que eu peço. Vim de uma família humilde e tive a ajuda de muitas pessoas, então para mim é um prazer poder retribuir.
Tu acabas de conquistar mais um campeonato importante pelo Corinthians. Entre Libertadores, Mundial e Brasileiro, qual marcou mais?
- Essa do Brasileiro foi muito marcante por ter sido no estádio novo e da forma como foi. Sempre tive elencos muito bons no Corinthians, mas esse é especial. Um ambiente de trabalho maravilhoso, em que todo mundo jogou e se sentiu bem, entendendo que para poder jogar era preciso estar comprometido e treinando bem. E com um comandante que é fora de série (Tite), acima da média seja como treinador ou como ser humano.
Após a perda de jogadores como Emerson Sheik e Guerrero, a maior parte da imprensa tirou o Corinthians da lista de favoritos ao título. Como se deu a virada?
- Bem, honestamente, eu também achei que a gente não fosse brigar pelo título. Que íamos ficar no meio da tabela, talvez beliscar uma vaga na Libertadores. Porque perdemos jogadores de muita qualidade, e antes disso havíamos sido eliminados de dois campeonatos jogando mal nos momentos decisivos. Mas o Tite foi o diferencial para ganharmos. Fechamos com a maneira de trabalho dele, abraçamos a causa e as coisas acabaram dando certo.
Onde o Tite se diferencia dos demais treinadores?
- Ele é muito honesto, fala as coisas na cara. Não importa se é o Danilo, que ganhou todos os campeonatos, ou um menino da base, ele tenta tratar todo mundo igual e com o mesmo respeito. Assim ele ganha a confiança e faz acreditar que todos são importantes. Como eu disse, achava que não íamos brigar por título, mas íamos fazer o nosso melhor pensando jogo a jogo. Não importava planejar onde o time ia estar em tantas rodadas, mas como ia conseguir ganhar a próxima partida. Acho que foi merecido e, com certeza, o cara desse título foi o Tite.
Acredita que futuramente ele irá treinar a Seleção?
- Vai chegar a hora dele ser o treinador. Agora é o Dunga, mas pelo trabalho que o Tite vem fazendo e pela tranquilidade dele quanto a isso, tenho certeza que futuramente ele vai ir e se sair bem. Talvez seja após a próxima Copa, não sei. Mas tenho convicção que o trabalho que ele implementa no clube também pode conseguir na Seleção.
Acabamos de ver o Rogério Ceni se aposentar aos 42 anos, tendo construído a carreira no São Paulo. Tu já vai para o quinto ano no Corinthians. Passa pela cabeça encerrar a carreira no clube?
- No futebol é muito complicado imaginar o que pode acontecer no futuro. Estou muito feliz nesses quatro anos no Corinthians, vivi até aqui muito mais coisas positivas do que negativas. Mas não adianta falar que nunca vou sair do clube, que nunca vou jogar em outro time do Brasil. O Guerrero falou isso e infelizmente saiu (risos). Se dependesse de mim, pela estrutura e ambiente do clube, não sairia nunca. Mas no futebol tu não serve mais para o clube, tem essas coisas. Penso em cumprir o contrato, que tem mais três anos, e depois renovar.
Após uma passagem pela Europa sem ter conseguido muito espaço no PSV, ainda tem o sonho de jogar fora do Brasil?
- Eu gostaria de ter jogado mais, mas acho que consegui tirar muitas coisas positivas de lá. Cresci como pessoa e como profissional. Talvez, se tivesse jogado mais, não teria voltado e passado por tudo que estou passando aqui. Porque era muito bom lá, para trabalhar e para viver. Mas, a curto prazo, pelo menos, não penso em voltar para Europa.
Naquele período no PSV, chegaste a temer pelo teu futuro como jogador?
- No final eu comecei a ficar preocupado. Quando faltavam oito meses para terminar o contrato e ninguém me chamava para renovar, pedi um tempo para vir ao Brasil. Porque eles já queriam me descer pro segundo time, para ficar só treinando. Liguei para o meu empresário (Carlos Leite) e pedi para que ele me ajudasse, senão eu iria atrás de alguém. Tinha muitos gastos, minha família por trás, eu ainda estava me afirmando como goleiro. Mas conversamos e ele disse que eu podia pedir a rescisão, que mesmo que eles não me pagassem ele pagaria meu salário até eu arrumar outro clube. Mas quando desembarquei no Brasil, já tinha o pré-contrato com o Corinthians para assinar e ficou tudo certo. Foi muito bacana da parte dele.
Tem uma gratidão especial pelo Corinthians por conta disso?
- Serei sempre grato ao Andrés Sanchez, que foi quem bancou a minha contratação. Ele sofreu muitas críticas, porque o Corinthians precisava de um goleiro e foi lá buscar um que nunca tinha jogado, que estava lá na Holanda. Acho que ele confiou mais no meu empresário do que em mim mesmo. Até quando foi para eu assumir a titularidade, ele ligou para o Grêmio e pediu informações sobre como eu era jogando. Acho que falaram coisas boas (risos).
Tu foste a surpresa na última convocação do Dunga para a Seleção Brasileira. Chegou a tua hora?
- Estar na Seleção é um sonho e estou muito feliz por estar sendo convocado. Minha meta é fazer o melhor no clube e estar entre os nomes selecionados com frequência. Se vou jogar ou não, o treinador é quem vai decidir. Tenho que respeitar quem está lá. O Alisson, que jogou as últimas duas partidas, é um goleiro que vive grande fase e demonstra bastante segurança.
Repercutiu muito uma declaração recente em que tu afirmaste ser o melhor goleiro do Brasileirão. Foi isso mesmo que tu quiseste dizer?
- Respondi que era eu pelo fato do Corinthians ter sido a melhor defesa do campeonato. Claro que alguns levaram para outro lado, mas não quis desrespeitar ninguém. Em outro ano já disse que tinha sido o Diego Cavalieri, em outro o Marcelo Grohe. Mas me dediquei muito esse ano e acho que fui sincero.
Essa é a tua melhor fase na carreira?
- Acho que é a mais regular. Falhei em alguns gols, mas consegui me recuperar rápido. Em 2012 houve títulos, momentos em que era necessário aparecer e eu correspondi bem. Mas esse ano mantive a regularidade maior ao longo da temporada e consegui passar mais confiança para o time.
O próximo desafio do Corinthians é a Libertadores do ano que vem. Já é possível apontar quais são os adversários mais fortes?
- É difícil falar, porque a Libertadores é muito complicada. Os times brasileiros sempre chegam forte, os argentinos também, não precisa nem falar. O futebol colombiano cresceu muito, os mexicanos estão investindo forte. Então acho que vai ficar entre esses países. Ainda não sabemos que jogadores podem sair do Corinthians ou quem pode chegar. Até pelo título, muitos atletas estão recebendo sondagens de outros clubes. Mas certamente iremos com um time forte.
Entrevista
"O Tite foi o diferencial para ganharmos"
De férias na Serra, goleiro veranense Cássio, do Corinthians, disputa jogo beneficente em Nova Prata neste sábado
GZH faz parte do The Trust Project