Fãs do Napoli, amado time do sul da Itália, 81% de católicos na população - no Brasil são 65% -, poderão festejar o Natal em 11 dias com pequena imagens de Maurizio Sarri vestido de Papai Noel. Figura de presépio, poderá ser acomodada ao lado de Diego Maradona, personagem que habita as festas populares da região desde os anos 1980.
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Sarri é o novo santo local. Maradona é o Deus de sempre.
- Ele não é o homem que o Napoli precisa. Não vamos ganhar nada com ele.
Quando ex-camisa 10 de todos os sonhos dos napolitanos atacou a contratação do treinador nas férias do quente junho passado, ninguém se moveu. A palavra do argentino é lei na região. Seis meses depois, santo sacrilégio, há torcedores locais que duvidam da profecia de Don Diego. Os números o desmentem todos os dias.
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No comando do Napoli, Sarri dá esperança de que o time, terceiro na tabela de classificação do Campeonato Italiano 2015/2016, dois pontos distantes da líder Inter de Milão (33), possa festejar finalmente um título da competição - taça perseguida desde 1990, desde os tempos da canonizada perna esquerda de Maradona.
O sisudo treinador é uma grata surpresa. É uma descoberta, uma revelação, mas é também um homem que foge do comum, talvez o mais indicado para ajudar a levantar o terceiro Scudetto da história do Napoli - quarto time mais querido entre todos os italianos, atrás de Juventus, Milan e Inter de Milão.
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Sarri detesta roupas certinhas, como os arrumadinhos treinadores de terno e gravata do Cálcio, tipo Roberto Mancini (Inter) e Rudi Garcia (Roma). Vive enfiado num abrigo de treino com as cores do time. Fuma sem parar, apressado, consome quatro carteiras de cigarro por dia. Passa as horas com um cilindro fumegante na mão direita. Acende no vestiário e nas palestras nos hotéis, nas concentrações e nos treinos. Antes de falar, libera uma trilha de fumaça. Suas declarações não são de quem segue fielmente o volumoso dicionário do politicamente correto.
Filho de Bagnoli, área que abriga a classe operária de Nápoles, casa de 4,4 milhões de habitantes na região metropolitana, terceira cidade mais populosa da Itália, berço de uma coleção de máfias, Sarri, 56 anos, é duro com seus comandados. Cobra com a vontade dos comandantes. É um carrasco nos treinos.
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Com o auxílio de um drone, seus assistentes filmam o movimento e o posicionamento dos jogadores. Depois, em exaustivas explanações, explica o que cada um fez de certo ou errado. Seu treino de bola parada pode durar 60 minutos, concentrado em duas ou três jogadas aéreas. Henrique, zagueiro perseguido pelo Grêmio, é seu jogador, sempre na reserva. O argentino Higuaín adora Sarri.
Parece que o treinador age corretamente. Pelo Campeonato Italiano, fez 15 partidas. Perdeu duas. Antes, venceu nove. Empatou quatro. O time marcou 28 gols, sofreu 12. Neste domingo, espera a Roma no Estádio San Paolo, casa de mais de 75 mil fanáticos. Nos tempos de Maradona, sempre ele, abrigava mais de 80 mil.
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- Ainda restam 72 pontos em jogo no campeonato. Com os 31 que temos agora, não garantimos nem sequer a permanência na Série A. Não sou um sonhador, minha profissão é outra - ele falou à agência AFP.
Hoje, ele defende um time grande, que luta por um título nacional e outro continental, o Napoli vai bem na Liga Europa. Mas nem sempre foi assim. Sua carreira nasceu em anônimos clubes da região da Toscana. Passou por times que você e eu nunca ouvíamos falar, Faellese, Cavriglia, Antella, Valdema e Tegoleto. Nos anos 1990, ele tocava em futebol somente nas folgas, em rápidos finais de semana. Ganhava o pão do dia a dia como um executivo do banco Monte dei Paschi.
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No futebol de competição foi subindo de divisão aos poucos. Estava na quarta. Lutou para a terceira, depois segunda. Avançou e começou a chamar a atenção dos curiosos agentes que vasculham os times das periferias em busca de revelações, normalmente de chuteiras.
Em 2005, depois de muita insistência, assinou um primeiro rentável contrato com o Pescara, da Série B. Chegou à elite na temporada passada a bordo do Empoli, de quem zelou por três anos com um trabalho sólido.
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O Napoli o chamou para ocupar o posto de Rafa Benítez, que se mudou para o Real Madrid. Meio ano depois ninguém toca no nome do espanhol de pouco carisma em Nápoles.
Sarri, por sua vez, está o lado de Maradona - pelo menos por um Natal, mudos, embaixo das verdes arvorezinhas de plástico.
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