Tudo começou como diversão. Incentivada pelos colegas de aula, Pietra Marques, então com 12 anos, resolveu se inscrever na oficina de judô do Programa Mais Educação, implementado na Escola Maria Lygia Andrade Haack, em Esteio. Mas o que era um passatempo se transformou em paixão e também em profissão. Aos 18 anos, Pietra voltou ao colégio para ser monitora e dar aulas no mesmo projeto.
- Gostei do judô desde o início. E ficou para a vida, já são quase seis anos. Gostei da disciplina, do respeito, dos desafios. Além disso, é um esporte que trabalha o corpo e a mente - comenta a jovem.
Graças a uma parceria da escola com o Grêmio Náutico União, Pietra começou a treinar no clube quando ainda era aluna do colégio. Desde então, chegou à faixa roxa, disputou copas e foi campeã do Estadual de Novos cinco vezes na categoria até 52 quilos. Neste ano, foi indicada para ser monitora no projeto em que onde deu os primeiros golpes.
- Está sendo uma experiência muito boa. É gratificante o reconhecimento deles, o afeto. O pessoal novo já incorporou a disciplina. A gente se coloca no lugar do professor, lembra que um dia eu que era a aluna - ressalta.
"Judô é uma paixão"
Depois de sair da escola Maria Lygia, Pietra concluiu o ensino médio, trocou Esteio por Sapucaia do Sul e começou a cursar Fisioterapia na Universidade Feevale. Porém, por falta de recursos financeiros, teve de interromper. Mesmo assim, não abandonou o sonho de concluir a faculdade. A meta é trabalhar com a reabilitação de atletas. No entanto, sem abandonar o esporte pelo qual se apaixonou.
- O judô, eu quero levar para a vida, não me vejo sem. Quero passar para os meus filhos, netos, para que eles comecem desde pequenos. É uma paixão, uma necessidade. Aqui (no local de treinos), a gente se desestressa, faz amizades, conhece pessoas diferentes - conclui a jovem, que de aprendiz virou professora.
Destaques treinam no União
Situada no Parque Primavera, um bairro carente de Esteio, a Escola Maria Lygia Andrade Haack tem aulas de judô desde 2009 por meio do Programa Mais Educação, mantido pelo governo federal. São 30 alunos pela manhã e mais 30 à tarde. A ideia é de proporcionar educação integral, com um turno no colégio e no outro nas oficinas. Além do judô, são oferecidas aulas de atletismo, percussão, letramento, violão e canto.
Há quatro anos, a escola mantém uma parceria com o Grêmio Náutico União. Os que mais se dedicam nas atividades no colégio, os que têm mais técnica e disciplina, recebem a chance de treinar no clube da capital, explica Cristiane da Silva, coordenadora do programa na escola Maria Lygia.
- De um modo geral, eles tentam melhorar cada vez mais, sabem que disso depende a vinda deles para o clube - acrescenta Cristiane.
Melhora no comportamento
Para treinar em Porto Alegre, uma van sai de Esteio com 15 alunos por aula. Na escola, as atividades ocorrem às segundas e sextas-feiras. No União, as segundas e quartas.
- Os pais me relatam que, principalmente os assíduos, mudam o comportamento em casa, as notas em sala de aula aumentam. Eles têm a obrigação de se sair bem também na escola - enfatiza a coordenadora.
Em 2015, a colégio teve como destaques os primos Kerlon Santos, 10 anos, e Vitor Stoldone, nove. Eles participaram do Meeting Interestadual, em Blumenau, Santa Catarina, competição que reúne crianças e adolescentes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Kerlon foi campeão infantil. Na final, venceu Vitor. Os dois pequenos estão no programa há três anos. Já Guilherme Soares Abreu, também aluno da escola, disputou o Brasileiro na Bahia.
Mudança até na família
A influência do judô é percebida nos alunos e também nas famílias, conta Cristiane da Silva, coordenadora do programa na escola Maria Lygia.
- As crianças gostam, se esforçam. Notamos muito a mudança. Eles sabem que precisam ter disciplina, concentração. Pelo contato que tenho com os professores em aula, (o judô) ajuda também nas outras disciplinas - revela.
Os alunos que treinam disputam campeonatos e conquistam medalhas.
- Isso é um orgulho para eles e para os pais. Essa experiência muda até a família, que acaba interagindo mais com os professores e com a escola - finaliza Cristiane.