Douglas Costa desembarcou em Munique há quatro meses. Tempo suficiente para se tornar um fenômeno de popularidade na Bavária, região sul da Alemanha. O guri criado em Sapucaia do Sul cria frisson por onde desfila seu 1m72cm. Um começo impressionante para um novato no Bayern de Munique, companheiro de Barcelona e Real Madrid no Top 3 da Liga dos Campeões.
Seja nos restaurantes que frequenta na cidade ou em frente à loja do centro de treinamento do Bayern, adultos e crianças se aglomeram em torno dele para pedir autógrafo. No dia em que acompanhei a rotina de Douglas em Munique, ele se aventurou na loja oficial para comprar uma touca. Tudo corria tranquilamente até que garotos de uma escolinha de futebol o reconheceram. Os alemãezinhos são discretos e recatados como os pais, mas não se seguraram e provocaram burburinho na loja. Douglas pouco domina o alemão. Mas atende a todos sempre com um sorriso. Posa para fotos, assina camisetas vermelhas do seu clube e segue adiante.
Meia é assediado por torcedores em Munique
Lara Ely/Especial
Fora do clube, o futebol segue como sua diversão. Na folga, acompanhei-o até uma partida de futsal na cidade de vizinha Regensburg. O jogo era por uma liga regional. Douglas criou afinidade com o time através do seu personal trainer, Lucas Kruel, técnico e jogador da equipe. Nas primeiras idas ao ginásio, houve alvoroço. Mas a assiduidade do meia nos jogos já faz com que o assédio seja menor. Ele até pensa em indicar um amigo brasileiro para jogar no time e dar-lhe mais ginga.
A rotina, além dos jogos de futsal do amigo, muda pouco. Douglas mora no elegante bairro Grunwald, afastado do centro da cidade e endereço de outros astros do Bayern, como seu melhor amigo, o espanhol Thiago Alcântara, filho do ex-volante Mazinho, o holandês Robben, o francês Ribery e o suíço Alaba. O quinteto é vizinho de rua. São separados por alguns lotes. Talvez os companheiros ouçam o ronco do motor do Audi R8 vermelho do brasileiro. É a sua mais recente aquisição, que fica estacionada na garagem ao lado da caminhonete da Audi, patrocinadora do Bayern.
A casa de três pisos serve de endereço também para a irmã mais nova de Douglas, Amanda, um primo e mais dois amigos. Um deles pilota a cozinha. Juliano Godói acompanhou o jogador na mudança para a Alemanha. Chef de mão cheia, Juliano faz os pratos que lembram o tempero de casa, como a lasanha à bolonhesa servida no almoço na minha visita.
Nepomuk V. Fischer/oinfilm/Divulgação
Como acontece no endereço de todos os jogadores jovens, no casarão de Grunwald o videogame é concorrido e provoca boas disputas. Enquanto mantém uma rotina pacata, com algumas esticadas noturnas a restaurantes, Douglas traça metas ousadas. Conquistar Munique e ganhar um alto salário não são o bastante. Seu horizonte é a Copa do Mundo de 2018, na Rússia. Pretende chegar lá afirmado na Seleção Brasileira, como melhor jogador do mundo e com a taça da Liga dos Campeões pelo Bayern.
Amigo de Neymar e parceiro de Gabriel Medina
Para se manter no caminho até suas ambições, o meia definiu metas a curto prazo. A primeira delas era assombrar no novo clube na arrancada. Alcançou. Esse sucesso é enxergado como consequência matemática da dedicação. Douglas levou para a Ucrânia, em janeiro, e depois para Munique, seu personal trainer, um velho amigo dos tempos de futsal em Porto Alegre. No turno contrário ao dos treinos, eles complementam o trabalho.
Enquanto lapida a forma, o meia acompanha tudo o que os melhores fazem para ocupar o topo. Inspira-se em ídolos de modalidades variadas. Gabriel Medina, campeão mundial de surfe de 2014, é um deles. Os dois mantêm conversas por Whatsapp. Para Douglas, o guri do Guarujá é o "Biel", parceiro que fez a partir da amizade em comum com Neymar. O trio passou a virada do ano junto em Jurerê Internacional. Com Neymar, a afinidade só aumenta a cada convocação para a Seleção Brasileira. O craque do Barça e o craque do surfe servem de modelo.
- Quem é atleta de verdade é bom em tudo. Os caras são respeitáveis, de fino trato - descreve Douglas.
Lara Ely/Especial
Para quem ambiciona figurar na elite da Europa, nem mesmo o inverno gelado da Bavária é obstáculo. Ele faz corridas na rua como parte dos treinos com o personal e também imersão na banheira de gelo - esse último para acelerar a recuperação. O meia vai a um estúdio a poucos metros de sua casa. Os treinos ali duram uma hora, sempre com todas as cortinas fechadas para que mantenha máxima concentração.
O trabalho em casa é puramente opcional. Até porque o CT do Bayern, o Sabener Strasse, oferece estrutura completa e mais um pouco. Há piscina aquecida, restaurante e salas para aulas de idiomas e informática. O vestiário é simples, mas conectado. Em seus armários, os jogadores contam com tela de LCD, onde recebem a programação e informações básicas. Um corredor decorado com pôsteres de todos os jogadores leva à sala de musculação e fisioterapia. A cúpula de vidro do prédio principal, remanescente da antiga estrutura e marca registrada do CT, abriga auditório com 39 poltronas, cabine para cinco tradutores e tela de cinema em que Guardiola esmiúça os rivais.
O CT foi inspirado nas instalações dos times da NBA e da NFL e se esparrama por 2 mil metros quadrados na região central de Munique. A entrada é bem guardada. Jornalistas credenciados ou convidados, como fui por Douglas, têm acesso. Mas se Guardiola quiser fazer treino fechado não precisa convidar os repórteres a se retirarem. Um dos campos conta com sistema em que uma película sobe junto à tela e traz privacidade.
Nepomuk V. Fischer/oinfilm/Divulgação
Douglas sente-se em casa nesse mundo mágico do Bayern. O convívio com os europeus e os técnicos, sobretudo agora, com Guardiola, aprimoram a ambição e refinam seu comportamento.
- Me senti muito bem recebido, sobretudo por ele (Guardiola). Quando cheguei, Pep disse que estava ansioso para me ver jogar - conta o meia.
Mesmo com aulas de alemão duas vezes por semana no CT, Douglas ainda usa o tradutor do clube. Principalmente em eventos oficiais. Em um domingo de folga, o Bayern espalhou os jogadores por cidades próximas para atender aos fãs. Coube ao meia uma localidade a 200 quilômetros de casa e uma fila de 60 pessoas.
Com Guardiola, a conversa é em espanhol. O técnico dá a preleção em alemão para todos e depois repassa com Thiago Alcântara, Douglas e Vidal em espanhol. Nada que incomode o chefe famoso. Afinal, o retorno de Douglas em campo vem traduzido em gols.
Depois de cinco anos na Ucrânia, Douglas saboreia os dias em um clube gigante e uma cidade badalada. Tanto que contratou uma produtora alemã para produzir um webdocumentário com sua rotina no Bayern e em casa. Inspirou-se em Thiago Alcântara, que gravou a longa recuperação de lesão no joelho. O trabalho está em fase final de edição e será colocado no ar nas redes sociais de Douglas. Embora o que anda fazendo em campo já rendesse uma produção.
*ZHESPORTES