A gente não corre com as pernas. Corre com o corpo inteiro. E com o que está fora dele também.
Eu tenho um amigo muito forte. Forte mesmo. É fisiculturista. Uma massa de músculos.
Um dia, ele decidiu começar a correr. Tudo organizado, com planilha e treinador. Eu via ele ali na esteira da academia, afinando a cada semana, feliz com a endorfina. Até que um dia, veio o anúnciou: "Vou fazer minha primeira prova". Se não me engano, era uma daquelas do antigo circuito Adidas, com medalhas que formavam uma mandala no fim da temporada. Quem nunca?
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Dei boa sorte pra ele, torci mesmo.
Encontrei-o logo depois da chegada dos 5k, com cara de preocupado. "Eu tive muita caimbra no final, muita mesmo", me disse.
É normal pra quem está começando errar na dosagem da energia. Na adrenalina da largada, tantas vezes a gente pensa: "Eu tô bem, eu tô bem". E acelera demais. É difícil alcançar o equilíbrio. Planejar e executar. Meu amigo, pensei, tropeçou onde todo mundo tropeça na estreia. E ficou sem gás.
Típica conversa pós-prova. Perguntei: "Caimbra onde? Na panturrilha?". Meu amigo nem me deixou ventilar a segunda hipótese: "Não, foi no bíceps". "Ahh, para! No bíceps? No braço?????", me surpreendi.
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Cada bíceps do meu amigo é do tamanho da minha coxa. Comecei a rir. Nunca tinha ouvido nada igual. De certo, meu amigo fortão correu contraído demais. Deu no que deu. Depois desse percalço, ele continuou treinando e se transformou em um baita atleta. Não dou aqui o nome dele porque ele continua meu amigo. E, principalmente, porque continua muito forte.
Um bíceps, alguns grãos de areia que produzem uma bolha, um pensamento errado no meio da corrida.
Tem dias em que uma tempestadade nos inpsira. Em outros, uma brisa nos paralisa.
Vai entender.
Nem tente. Se entender, perde a graça.
Falando em músculos, dá uma olhada no vídeo em que conto como, até hoje, nunca tive uma lesão mais grave durante minhas corridas:
*ZHESPORTES