Joseph Blatter abriu mão do cargo de presidente da Fifa, convocou novas eleições e encaminha o encerramento de uma trajetória de quatro décadas na entidade máxima do futebol mundial.
O suíço, de 79 anos, passou mais da metade de sua vida envolvido com as atividades da federação - deste período, foram 17 anos como presidente.
Sua influência passou pela aproximação com o brasileiro e ex-presidente João Havelange e pela expansão intercontinental do esporte. Zero Hora relembra os 10 momentos mais importantes de Blatter na Fifa.
1975 a 1998 - Antes da presidência
Joseph Blatter passou a trabalhar na Fifa em 1975 como diretor técnico da entidade. Seis anos depois, cresceu no apoio a João Havelange e assumiu a função de secretário-geral - a mesma que Jérôme Valcke exerce atualmente. Neste período, auxiliou nas decisões de expandir a Copa do Mundo de 16 para 24 seleções em 1982 e para 32 em 1998. Como braço direito de Havelange, tornou-se o sucessor natural quando o brasileiro decidiu deixar o cargo.
1998 - No topo do futebol
Em 8 de junho de 1998, Joseph Blatter, que representava a situação, venceu a eleição contra o então presidente da Uefa, Lennart Johansson, e foi eleito o novo presidente da Fifa. A vitória sobre o adversário já foi marcada por polêmicas e suspeitas de suborno, segundo o jornal britânico The Guardian. Era o início de uma era de quase duas décadas à frente da entidade.
1998 - A primeira Copa do Mundo
Apenas dois dias depois de assumir a presidência, Blatter viu se iniciar a primeira Copa do Mundo sob sua gestão - e na vizinhança da Suíça, seu país-natal e sede da Fifa. A própria França foi campeã no primeiro Mundial disputado por 32 seleções na história.
2000 - Criação do Mundial de Clubes
Com o objetivo de expandir o futebol entre os continentes, a Fifa, liderada por Blatter, decidiu criar um Mundial de Clubes próprio. À época, os campeões da Europa e da América do Sul se enfrentavam em um torneio independente. Realizada em Rio de Janeiro e São Paulo em janeiro de 2000, a nova competição contou com representantes de todos os continentes e foi vencida pelo Corinthians - curiosamente, em uma final nacional contra o Vasco.
2004 - Criação do rodízio de continentes para sediar a Copa do Mundo
A África do Sul já foi uma forte concorrente para receber o Mundial de 2006. Depois de ter votações expressivas nas duas primeiras rodadas e superar Marrocos e Inglaterra, os sul-africanos foram derrotados pela Alemanha na rodada derradeira. A ideia de Blatter era permitir que países de todos os continentes tivessem a oportunidade de sediar um Mundial.
Assim, a Fifa instituiu, em seguida, um rodízio. O continente africano teria direito a receber a Copa de 2010, enquanto a América do Sul ficaria com 2014.
Em 2010, a África do Sul derrotou Marrocos e Egito depois das desistências de Líbia e Tunísia para receber a Copa. Em 2014, o Brasil foi candidato único. Pela falta de concorrência em 2014, a entidade aboliu o formato de rodízio em 2007. Assim, países de todos os continentes poderiam enviar candidaturas para receber os Mundiais seguintes.
2005 - Adoção do Mundial de Clubes no fim do ano
Depois do insucesso comercial da primeira edição do Mundial de Clubes, a Fifa optou por assumir a competição que antes era organizada de forma independente no fim do ano - era mais um passo de Blatter para se cercar de apoio dos continentes menos expressivos.
O torneio passou a ser disputado pelos seis campeões continentais, incluindo países da Concacaf, CAF, AFC e OFC. Em 2007, a Fifa abriu mais uma vaga para o campeão nacional do país-sede, que disputaria uma eliminatória contra o campeão da Oceania. O esvaziamento do Mundial pelos clubes europeus foi uma das ameaças para que Blatter renunciasse em 2015.
2007 - Escolha do Brasil para receber a Copa
Na última Copa que teria a sede definida por meio do rodízio de continentes, o Brasil conseguiu o apoio de todos os países da Conmebol para ser candidato único, excluindo do páreo o interesse inicial da Colômbia. Em 30 de outubro de 2007, Blatter anunciou que a candidatura brasileira foi aceita e que o país receberia o segundo Mundial de sua história.
2010 - Escolhas polêmicas de Rússia e Catar
Com o fim do rodízio, países de todos os continentes poderiam enviar candidaturas. Os únicos inelegíveis eram africanos em 2018 e sul-americanos para 2018 e 2022, respeitando o critério de que uma confederação não poderia receber duas Copas do Mundo das últimas três. Mais tarde, ficou definido que a Europa receberia o Mundial de 2018, e todas as candidaturas de outros continentes se concentraram em 2022. Antes das votações, Indonésia e México abriram mão das suas tentativas.
Para 2018, a Inglaterra foi eliminada ainda na primeira rodada de votação. Na segunda, a surpreendente Rússia superou as candidaturas conjuntas de Espanha/Portugal e Holanda/Bélgica.
Em 2022, a surpresa não foi menor. Depois de três rodadas, o Catar - país que nunca teve a seleção classificada a uma Copa - foi a vencedora, superando os favoritos Estados Unidos, além de Coreia do Sul, Japão e Austrália. As duas escolhas polêmicas geraram suposições e foram citadas como parte da crise que afetou a entidade neste ano - sobretudo a opção pelo Catar.
2013 - Investigação do Comitê de Ética da Fifa
O caso International Sports and Leisure (ISL) rendeu uma investigação do Comitê de Ética da Fifa em 2013. A empresa, que faliu em 2001, teria bancado subornos para dirigentes da Fifa a fim de participar de contratos comerciais da entidade. Blatter foi absolvido, mas as investigações tiveram resultados: João Havelange renunciou ao cargo de presidente-honorário e deixou o Comitê Executivo da Fifa. Ricardo Teixeira também abriu mão de suas funções na CBF e na entidade máxima do futebol. Nicolás Leoz alegou questões de saúde e deixou a presidência da Conmebol.
2015 - Crise e renúncia
Uma nova crise começou em maio de 2015 com a prisão de diretores da Fifa na Suíça, em uma parceria com o FBI (polícia federal dos Estados Unidos). Irregularidades em assinaturas de contratos, com supostos subornos, foram o alvo das investigações.
Mesmo assim, Blatter conseguiu se reeleger novamente - na única tentativa de seguir no cargo em que teve concorrência, a do príncipe jordaniano Ali bin Al Hussein. Depois de ter mais votos - mas insuficientes para se eleger diretamente - no primeiro turno, Blatter viu o adversário retirar sua candidatura e foi reeleito.
Quatro dias depois, sob forte pressão, Blatter anunciou que abriria mão do cargo e convocaria eleições extraordinárias, encerrando uma era de 40 anos na Fifa - 17 deles na função máxima.