Na semana da Copa, a chegada dos turistas aumenta a demanda por hospedagem em Porto Alegre, e hotéis não são as únicas opções para quem chega na cidade. Hostels, bed and breakfast (Cama e café), hospedagem solidária, locação de apartamentos de moradores e até mesmo motéis viraram alternativas para os visitantes. O número de reservas na rede hoteleira da cidade já gira em torno de 80% para os dias de jogos e de 60% para os dias entre jogos, conforme dados do Sindicato de Hotéis de Porto Alegre (SHPOA).
“Houve uma evolução no número de reservas nos últimos dias. O resultado é bastante positivo, embora ainda haja alguma disponibilidade”, afirma o vice-presidente do sindicato, André Barcellos. Segundo ele, o valor das tarifas sofreu redução após a devolução de um número considerável de apartamentos que haviam sido bloqueados pela Match Services, operadora de turismo oficial da Fifa.
“Eles fizeram um pré-bloqueio há uns cinco anos, em diversos hotéis da cidade, e na medida em que não efetivaram a venda desses apartamentos, devolveram boa parte, cerca de 60% a 70%”, disse, admitindo que estava previsto em contrato que a confirmação ou não dos bloqueios poderia ser realizada até abril de 2014.
Motéis abrem as portas para os turistas
Alguns motéis de Porto Alegre entraram na onda da Copa e abriram reservas para os turistas durante o Mundial. Dono de dois estabelecimentos na Capital, Juan Dominguez diz que metade das vagas foram disponibilizadas para os visitantes e que, destas, cerca de 20% já estão ocupadas, principalmente com turistas argentinos.
“As diárias são a partir de R$ 149 e incluem café da manhã para duas pessoas, rede wi-fi e os demais serviços básicos. É como se fosse um hotel mesmo”, conta Dominguez, que espera movimento mais intenso nos dias de jogos. “Acredito que muitas pessoas vão chegar na cidade sem ter hospedagem definida”, afirma.
O diretor da Associação Brasileira de Motéis (ABMotéis), Antônio Carlos Morilha, disse que aderiu ao projeto da Copa quem se interessou pela oportunidade. “É facultativo, mas vários se cadastraram”, afirmou. Ele estima que o Mundial gere um aumento de 20% a 30% no faturamento da rede. Segundo Morilha, com mais eventos esportivos por vir, o sistema deve se repetir.
“Vamos continuar com o projeto para que os motéis sejam reconhecidos como meio de hospedagem, com qualidade e serviço de hotelaria”, concluiu.
Em Porto Alegre, seis motéis se cadastraram para receber turistas. Um em São Leopoldo e outro em Cachoeirinha estão na lista de cadastrados.
Oportunidade de negócio com aluguel de casas
Diretor de negócios de uma imobiliária da Capital, Sérgio Kroeff Canarim viu na Copa do Mundo uma oportunidade de inovação. Próximo do evento, proprietários começaram a buscar sua empresa para fazer contratos de aluguéis temporários durante o Mundial.
“Não foi planejado, começaram a nos procurar e um mês antes da Copa resolvemos fazer”, disse. Canarim conta que após a divulgação do serviço nas redes sociais, muita gente apareceu, mas muito mais proprietários, do que inquilinos. Segundo ele, os estilos de oferta são bem variados, desde apartamentos JK, até casas de sete ou oito quartos. Muitos casos, inclusive, de pessoas que deixaram suas casas para alugar o imóvel.
Em relação aos valores dos aluguéis, Canarim explica que os proprietários já chegam com um valor pré-definido e que isso, muitas vezes, atrapalha o mercado. “É uma crença sem nenhuma expertise de mercado, baseada no sonho das pessoas”, diz ele, alegando que muitos donos de imóveis comparam os valores com o que é pedido em sites de locação. “Quando você passa pela imobiliária, tem que manter uma consistência com a realidade”. Quando isso ocorre, ele afirma que a empresa busca um meio termo entre os valores.
A prioridade para os locatários que procuraram a empresa está na localização ou no valor. Enquanto alguns optam por bairros mais distantes, com diária de até R$ 120, outros querem estar perto do Beira-Rio, pagando até R$ 1.700 por dia. “Na verdade todos querem estar perto, mas nem todos podem pagar”, destaca.
R$ 36 mil por 20 dias
Uma professora de Porto Alegre, que preferiu não se identificar, vai alugar seu apartamento durante a Copa do Mundo. Uma equipe de televisão argentina vai pagar uma diária de R$ 1,8 mil pela moradia, que fica no Bairro Petrópolis em Porto Alegre. O aluguel, de 20 dias, vai render à dona da moradia R$ 36 mil.
“Eles estavam procurando um lugar com bastante espaço, pois têm muitos equipamentos de trabalho, então ofereci meu apartamento. Vi como uma oportunidade”, disse ela, que fechou o negócio em janeiro deste ano.
Diferentemente de outros moradores que colocaram seus imóveis em sites ou imobiliárias para locação, a professora fez tudo no “boca a boca”, sem qualquer contrato formal. “Foi na confiança, tudo por email”, contou.
Veja a estimativa de turistas nas 12 cidade-sede e seus gastos durante a estada no país:
Cidade-sede
Turistas
Gastos no Brasil
Belo Horizonte
384,7 mil
R$ 695,6 milhões
Brasília
490 mil
R$ 887 milhões
Cuiabá
172 mil
R$ 311 milhões
Curitiba
164 mil
R$ 297 milhões
Fortaleza
402 mil
R$ 728,2 milhões
Manaus
176 mil
R$ 318,8 milhões
Natal
172,3 mil
R$ 311,5 milhões
Porto Alegre
260,4 mil
R$ 470,9 milhões
Recife
203,4 mil
R$ 416,6 milhões
Rio de Janeiro
544 mil
R$ 1 bilhão
Salvador
300 mil
R$ 543,4 milhões
São Paulo
390,7 mil
R$ 706,5 milhões
Fonte: Ministério do Turismo
Hostels
Para quem procura uma opção mais barata de hospedagem, os hostels aparecem como uma boa alternativa. Tendência na Capital, o número de estabelecimentos vêm crescendo na cidade, de acordo com o Sindicato de Hotéis de Porto Alegre (SHPOA).
“Esse meio de hospedagem é muito procurado, principalmente pelo perfil de hospede mais jovem e o que se percebe é que cada vez mais o mercado vem investindo nesse setor, caracterizado como super econômico”, afirma o vice-presidente do sindicato, André Barcellos.
Quem há dois anos apostou no negócio em Porto Alegre foi o Carlos Augusto Alves. Dono do Hostel Boutique, localizado no Bairro Floresta, ele conta hoje com 16 apartamentos, sendo 8 privativos e 8 coletivos, que totalizam 60 leitos em seu estabelecimento. Devido a uma reserva, cancelada a poucos dias da Copa do Mundo, o local ainda tem disponibilidade para receber turistas durante o Mundial. “Eu acho que vai lotar, pelo menos em dias de jogos”, afirma Seu Carlos.
Para o período da Copa, afirma que mais da metade dos seus clientes serão argentinos, mas conta que até hondurenhos passarão pelo local. As diárias são de R$ 50 por cama nos apartamentos coletivos e de R$ 130 para o casal nas suítes privativas, valores que incluem café da manhã.
Cama e Café e Hospedagem Solidária
Há pouco tempo oficializado em Porto Alegre, outro setor que surge na Capital é o Bed & Breakfast (B&B), o popular “Cama e Café”. Muito comum no exterior, é um estilo de hospedagem que, de acordo com classificação do Ministério do Turismo, ocorre em residências com no máximo três unidades habitacionais para uso turístico, com serviços de café da manhã e limpeza, na qual o possuidor do estabelecimento resida.
“São casas grandes, em que o dono mora em um dos quartos e os outros são locados”, explica a mestre em turismo e consultora de hotelaria Fernanda Zanetti. Segundo ela, o gaúcho ainda tem dificuldades com esse sistema, apesar de ser um povo hospitaleiro. “Aqui eu te recebo bem num parque, te recebo bem levando para jantar, mas receber em casa alguém que você não conhece é mais difícil, então é uma coisa pouco difundida no Estado”, afirma.
O turista escolhe a hospedagem de acordo com a infraestrutura que desejar e, os valores, variam conforme o conforto. Hoje, 22 moradias fazem parte do sistema Bed & Breakfast em Porto Alegre, de acordo com o Noratur, responsável pelo mapeamento e credenciamento das residências candidatas na Capital.
Há também a hospedagem solidária, uma opção para quem não encontra vagas em estabelecimentos convencionais ou quer economizar. “Esse sistema aconteceu muito há cerca de dez anos, durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre”, lembra Zanetti. Na época, a Secretaria do Turismo da Capital abriu um cadastro para que as pessoas que tinham um quarto a mais em casa e quisessem participar, abrissem as portas para pessoas de fora.
“É gratuito, para troca de cultura mesmo. Nos Estados Unidos e na Europa acontece muito e as pessoas recebem até incentivo financeiro do governo para isso. Aqui ainda não há bonificação, mas algumas pessoas já têm esse sentimento de hospedagem solidária”, diz.
Exemplo de hospedagem solidária é o que vai fazer a Mariana Dutra, moradora de Porto Alegre. Ela vai receber uma francesa no apartamento onde mora com o namorado, no Bairro Rio Branco, durante o período da Copa. “Meu objetivo é oferecer um espaço para que Aurélie se sinta bem e mostrar para ela uma parte da cidade”, conta Mariana.