Campeã mundial de remo em Bled, na Eslovênia, em 2011, a catarinense Fabiana Beltrame, 29 anos, está em Florianópolis desde o dia 20 de dezembro, para visitar familiares, ao lado do marido e também remador Gibran Vieira da Cunha, e da filha Alice, de dois anos e quatro meses.
Apesar do feito inédito para o Brasil, a atleta ainda não está classificada para sua terceira olimpíada (Londres- 2012) porque o barco usado na conquista, o single skiff peso leve, não é olímpico. Por isso, a remadora do Flamengo terá que buscar a vaga no Pré-Olímpico da Argentina, em março, no double skiff.
Com pouco tempo de preparação e ainda sem uma companheira definida, Fabiana aproveita o período em casa para manter a forma no Clube de Regatas Martinelli, onde começou, e faz um alerta: o Parque Náutico Walter Lang precisa ser revitalizado para incentivar a modalidade que faz de SC um celeiro de bons atletas.
TREINOS
Parei apenas depois do Pan de Guadalajara, durante duas semanas. Voltei a treinar e não parei mais. Não dá para parar, o Pré-Olímpico já é em março, está em cima da hora. A minha rotina de treinos vai de segunda a sábado, duas vezes por dia, umas quatro ou cinco horas por dia. Quando estou na Seleção Brasileira, treino no domingo também.
NOVO BARCO
Vou testar (o novo barco, o double skiff) com duas meninas do Rio: a Camila Carvalho, do Vasco, e a Luana Bartholo, do Flamengo. Faremos testes para ver qual delas irá funcionar melhor e, em fevereiro, teremos que decidir (quem será escolhida) para treinarmos um mês até o Pré-Olímpico. Já competi com a Luana, que é do mesmo time (Flamengo), mas em regata estadual. O barco é completamente novo, um desafio novo, mas acho que dá para classificar.
PRÉ-OLÍMPICO
No double skiff, classificam três barcos no masculino e outros três no feminino. Vamos disputar com México, Cuba e Argentina. São quatro países fortes para três vagas. Vamos ter que correr atrás. Além de mim, outros dois catarinenses estarão em busca da vaga: o Anderson Nocetti, o Macarrão, e o Diego Nazário (ambos são remadores do Botafogo).
PREPARAÇÃO OLÍMPICA
Em Pequim-2008, quando decaí bastante (ficou em 19o na classificação geral), não dependeu muito de mim. Levaram a gente para o Pico das Agulhas Negras (RJ) para fazer treinamento de altitude. Ficamos lá em cima, tínhamos que descer para remar e quase não remávamos. Foicomplicado.Agora, toda a equipe técnica da Confederação Brasileira de Remo é nova, dirigida pelo José Oyarzabal, técnico francês e um dos responsáveis pelo título mundial. Então, espero que seja diferente. Mas, como eu sempre falo, para a Olimpíada em Londres, em termos de resultado, mesmo que a gente se classifique, ainda é difícil. Por isso estou mirando também o Rio-2016,porque teríamos quatro anos para trabalhar.
REPERCUSSÃO
O título repercutiu bastante, aqui no Brasil, principalmente, mas lá fora também. Quando ganhei (o título), várias emissoras de televisão me procuraram para fazer entrevista, também por causa dos Jogos Olímpicos de 2016. Eles também já estão focados aqui no Brasil, nos principais nomes do esporte, e surgiu alguém do remo para elevar o nome do país no cenário mundial. Fui indicada também para o prêmio de barco do ano pela Federação Internacional de Remo, outro feito inédito, e isso mostra também o reconhecimento do público em geral de todo o mundo, porque a votação era mundial. No Brasil, nem se fala. O principal é que muita gente começou a procurar o remo para praticar porque, depois que apareceu na televisão, despertou a curiosidade do pessoal.
FLAMENGO
O clube me dá muita segurança. A (presidente do Flamengo) Patrícia Amorim, como foi atleta, investe bastante nos esportes olímpicos. Eu não tenho nada para reclamar, pelo contrário. Quando fui para lá, meu salário reduziu bastante, mas eu fui apostando no clube, que seria melhor para mim. Conquistei títulos e eles foram reconhecendo, mesmo sem eu precisar pedir. Foi uma coisa que nunca tive em clube nenhum. No Vasco, o salário atrasava demais, às vezes até três meses, inclusive o aluguel, que são eles que pagam. Era uma insegurança muito grande.
VOLTA AO PASSADO
Fico pensando na época em que treinava aqui. Tínhamos uma equipe muito forte e unida. No Brasileiro, ganhávamos quase todas as provas em que competíamos. Lá no Rio não tem muito isso. É meio cada um por si, bem diferente, até porque são clubes maiores, onde o foco principal é o futebol. Eu sinto saudade disso, dessa família. Mesmo quando volto parece que não fiquei longe o ano inteiro. O tratamento é igual e eu ainda quero voltar para ajudar.
MELHORIAS
Acho que o pessoal da Federação Catarinense está trabalhando para isso, com projetos para buscar apoio, mas também tem que vir da Confederação Brasileira, que tem que investir nas federações de todos os estados. Também acho que a divulgação é primordial. O que deixa o remo defasado é o número de praticantes. São poucos (remadores) para conseguir tirar um resultado bom. Muitos pais não deixam seu filho vir aqui (Parque Náutico Walter Lang, que sedia os três clubes de remo da Capital) porque o acesso é ruim e várias pessoas vêm usar drogas. Um espaço desses, de frente para a ponte, poderia ter uma praça e deveria ser melhor explorado, mais humanizado, com iluminação à noite. É um lugar tão bonito, mas está tão abandonado
Campeã mundial
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