A participação dos jogadores Rafinha, Filipe Luís e Arrascaeta no jogo de volta da semifinal de Libertadores, entre Flamengo e Grêmio, trouxe à tona o trabalho realizado pelo departamento médico do clube carioca. Em entrevista à Rádio Gaúcha, o médico do clube, Márcio Tannure, ressaltou a metodologia implementada pela equipe carioca, que permitiu a rápida recuperação dos atletas em um momento decisivo da temporada.
— Eu estou no clube há 17 anos, desde 2002. Desde o fim de 2015, nós estamos implementando uma nova metodologia, e não à toa que, nos últimos três anos, o clube foi o que teve menos lesões no futebol brasileiro. Óbvio que, pelo momento positivo, isso aparece mais, e realmente foram casos emblemáticos de lesões graves com recuperações em um curto período — contou.
O profissional explicou que o fator preponderante para os excelentes resultados é a integração entre os diversos setores do clube. Médicos, fisiologistas e preparadores físicos trabalham de forma conjunta.
— A gente não faz milagre. A gente faz um trabalho sério. Nosso trabalho é deixar os jogadores à disposição. É um trabalho interdisciplinar. Ninguém sozinho conseguiria esses resultados, que isso fique bem claro. É um conjunto de trabalho, não só dos médicos, mas dos fisioterapeutas, dos preparadores, dos fisiologistas e, principalmente dos atletas, que mostraram todo profissionalismo para que isso acontecesse, com confiança nos profissionais desde o início — ressaltou.
O meia uruguaio Arrascaeta saiu machucado do primeiro confronto contra o Grêmio, na Arena. Ele sofreu uma lesão no ligamento colateral medial e no menisco medial do joelho esquerdo e passou por uma artroscopia no dia 4 de outubro. No jogo de volta, no Maracanã, entrou em campo como titular.
— No caso do Arrascaeta, foram 19 dias. A artroscopia dele foi cirúrgica. É uma cirurgia menos invasiva. Mas não foi simples. A média de retorno aos gramados é de quatro a seis semanas. O caso dele, nós nunca tínhamos visto, dentro do futebol brasileiro, um retorno tão rápido. Isso nos deixa satisfeitos, em nenhum momento tínhamos certeza do resultado. Foi um acordo, e não podíamos afirmar como o atleta iria reagir. Tem a questão mental também. Tudo estava envolvido. Mérito do atleta e de todos os envolvidos no processo — disse.
O profissional também abordou a questão dos atletas Rafinha e Filipe Luís. O lateral-direito sofreu uma fratura na face no dia 13 de outubro, em partida contra o Athletico-PR, e entrou em campo no Maracanã com uma proteção no rosto. Já o lateral-esquerdo também se contundiu no confronto da Arena, pela competição continental, e se recuperou para o jogo no Maracanã.
— O Filipe Luís era, de todos, o jogador mais apreensivo. No caso dele, alguns médicos optariam pela conduta cirúrgica. Nós optamos pela medicina regenerativa, mas conseguimos colocá-lo apto. O Rafinha teve um afundamento de face, teve uma fratura, uma lesão complexa, e nós conseguimos estabilizar essa fratura e importar um capacete, que conseguia dar a proteção necessária para o impacto. Desde o início, ele acreditou e nos falou que queria estar no jogo. A vontade, o profissionalismo e a coragem dos jogadores é muito importante para conseguirmos esses resultados.
Confira outros pontos da entrevista:
Preservação de jogadores
A gente teve essa experiência no ano passado. Dos times que vinham disputando Libertadores e Copa do Brasil, o Flamengo foi o único que não poupou. Teve até essa discussão sobre o que é certo, poupar ou não poupar. Isso se deve a um trabalho de controle de carga (de atividades), onde o Flamengo se estruturou como clube. Estruturou a área de fisiologia, de performance, para que a gente possa individualizar como cada atleta se recupera, a carga que cada jogador suporta. Isso não é uma surpresa para mim. E foi reforçado pelo Jorge Jesus, que deu todo o suporte para nós desde o início.
Medicina esportiva no Brasil
A medicina do esporte no Brasil é evoluída em relação à de outros países. O médico do clube antes era o ortopedista e se preocupava somente em tratar as lesões. Hoje, o médico esportivo tem que ser mais do que isso. Tem que entender sobre fisiologia do exercício, fisiologia muscular, prevenção de lesões e controle da cargas de atividades. Tem que ser alguém que previna lesão, e não só a trate. Alguém que possa conversar com os fisiologistas e esteja preparado para obter resultados melhores. Por mais que esteja na frente, a medicina esportiva no Brasil tem que ter essa visão mais clínica. A função não é só tratar. Vai muito além disso.