O sonho da torcida colorada de reconquistar o Brasileirão após 45 anos ficou para trás. Pelo menos, em 2024. O campeonato colocado pela atual direção do Inter como prioridade para a temporada agora é de fuga do rebaixamento e expectativa por uma vaga na Sul-Americana ou, para os mais otimistas, na Libertadores do próximo ano.
Para tentar reagir no campeonato e sair da segunda página da tabela, o Inter tem, pela frente, dois jogos contra o Cruzeiro. Primeiro, no Beira-Rio, no próximo domingo (24), às 19h. Depois, no Mineirão, na quarta-feira (28), às 19h30min.
O título do Brasileirão que, hoje, é distante, foi conquistado pela primeira vez justamente contra a Raposa, em 14 de dezembro de 1975. Nesta data, o Colorado recebeu o Cruzeiro para o duelo único que decidiu a chamada Copa Brasil. Em 1976 e 1979, vieram o bi e o tri do nacional.
O Beira-Rio com 82.568 pagantes viu o zagueiro Elias Figueroa estufar as redes do goleiro Raul aos 11 minutos do segundo tempo. O lance ficaria eternizado na história como o "gol iluminado" em função da nesga de sol que pairava sobre a área cruzeirense no momento.
— Na hora do gol, eu intui que ia fazer e falei para Hermínio: "vou lá fazer o gol". Quando o Valdomiro cavou aquela falta, ele sabia que se eu passava a mão no cabelo, era bola passada, senão eu correria em diagonal e assim foi feito o gol, fruto de um esforço extra, já que sempre ficávamos depois dos treinos, nós dois para praticar essa jogada. O Valdomiro cruzou, eu corri em diagonal e pulei. Senti a luz do sol bater na minha cara, a cabeçada e a explosão do estádio. Lembro dos meus colegas pulando sobre mim e eu dizendo "o jogo não acabou ainda" — contou Valdomiro em entrevista a GZH, em 2020.
A equipe treinada por Rubens Minelli atuou com Manga, Valdir, Figueroa, Hermínio e Chico Fraga; Caçapava, Falcão e Paulo César Carpegiani; Valdomiro (Jair), Flávio e Lula. Já o Cruzeiro de Zezé Moreira foi a campo com Raul, Nelinho, Morais, Darcy Menezes e Isidoro; Piazza, Eduardo (Sousa) e Zé Carlos; Roberto Batata (Eli), Palhinha e Joãozinho.
Nas páginas de Zero Hora
A descrição do jornal Zero Hora sobre a final mostrou a proporção daquela data para os gaúchos. Pela primeira vez, um time do Rio Grande do Sul poderia ser campeão brasileiro. Às 7h do dia do duelo, já havia cerca de 5 mil colorados na fila para entrar no estádio. Os portões só abriram ao meio-dia. Vagas no estacionamento do Beira-Rio para quem chegou depois das 10h, nem pensar.
O poder público precisou executar uma logística pouco comum para a época. Foram 300 policiais mobilizados para a segurança do evento, dos quais 100 ficaram à paisana. Vinte viaturas estavam à disposição. A Carris, por sua vez, colocou 40 ônibus especiais para o estádio, enquanto as empresas Trevo e Guarujá disponibilizaram outros 45, somadas.
Dentro das quatro linhas, viu-se uma partida equilibrada, com o Inter muito perigoso nos contra-ataques, estratégia que fora bem-sucedida contra o Fluminense, no Maracanã, na semifinal. Nelinho e Palhinha, com chutes de média e longa distância, eram ameaças constantes ao gol de Manga. As respostas, contudo, eram certeiras com Lula e Valdomiro, pelas pontas e um meio-campo estrelado pelo jovem Falcão. Com o gol de Figueroa, Minelli optou por se resguardar e garantir o resultado. Escolha vitoriosa, mais uma vez.
Além da final de campeonato e uma campanha com apenas três derrotas, o time de Rubens Minelli tinha um fator a mais para empolgar a torcida contra o Cruzeiro. Ao bater o Fluminense na semifinal, o Colorado se classificou para a Libertadores, em feito também pioneiro entre os clubes gaúchos.
— A caminhada que ontem (dia da final) chegou ao seu ponto mais alto só aparentemente começou em agosto, como rodada inaugural do campeonato brasileiro de futebol, edição 1975. Na verdade, a caminhada começou há oito anos, quando o Internacional dos Eucaliptos jogava em casa alheia, jogava pequeno mas sonhava grande — escreveu o então colunista identificado de Zero Hora, Ibsen Pinheiro.
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