Todos os que estavam na casa de Wladison Carvalho na tarde de domingo viraram os olhos para a TV quando subiu a placa indicando que o número 37 entraria no lugar de Aránguiz, em Vitória x Inter, que àquela altura tinha placar de 1 a 0 para os baianos. Na hora em que o substituto do chileno recuperou a bola, ajeitou o corpo e deu o passe na medida para Wesley entrar em velocidade e empatar momentaneamente a partida, foi uma festa. O autor da assistência, tão comemorada, era Gabriel, o irmão de Wladison.
A casa é na Bom Jesus, uma comunidade localizada na zona leste de Porto Alegre, de onde Gabriel saiu para ser a maior promessa da base colorada, e o mais jovem jogador a entrar em campo pelo Inter em Brasileirão, superando Alexandre Pato em 2006. O caçula de 10 irmãos nasceu em 17 de agosto de 2007, um ano e um dia depois do primeiro título da Libertadores, oito meses após o Mundial, no mesmo bairro de onde veio Luiz Adriano.
Foi para o Inter após se destacar em campeonatos de projetos e escolinhas, jogou no futsal colorado e foi avançando de categoria, inclusive pulando algumas. Desde março, subiu para treinar fixamente com os profissionais. Só desceu para jogar um Gre-Nal pela Copa do Brasil sub-17, em Eldorado do Sul. Deitou e rolou, comandou uma vitória colorada, ao natural, por 2 a 0. Para um guri criado em Porto Alegre, sabe bem o que significa um clássico.
E também por isso aumenta a expectativa para o final de semana. Mesmo que haja o jogo com o Corinthians na quarta-feira, a cultura gaúcha prevê uma "semana Gre-Nal", para o clássico marcado para o Couto Pereira. Colorado a ponto de escolher jogar no Inter mesmo tendo proposta melhor do Grêmio, é tratado como uma alternativa a Alan Patrick.
O camisa 10 será desfalque no clássico. A lesão "moderada" no músculo posterior da coxa esquerda lhe deixará fora do Gre-Nal. O retorno mais provável é para a primeira semana de julho.
O combo lesões (Alan Patrick e Lucca), convocações (Borré e Valencia), negociação (Mauricio) e desgaste durante a partida (Aránguiz, Wanderson e Hyoran) deu a oportunidade para Gabriel Carvalho estrear. A ideia de Coudet não era usá-lo, mas, sim, manter a adaptação ao time principal. Os planos para a estreia envolviam colocá-lo no Beira-Rio, de preferência em alguma vitória encaminhada, dar confiança aos poucos.
— Ficamos sem jogadores. Precisamos lançar Gabriel Carvalho em um ambiente mais difícil, fora de casa, perdendo, porque era a única opção ofensiva à disposição — explicou Coudet.
Contra o Corinthians, é provável que ganhe mais alguns minutos, especialmente pelo começo promissor em Salvador. Mas não será titular. A tendência é de repetição de Hyoran e Alario (ou Lucca, caso se recupere). No Gre-Nal, idem.
Assim, continuará a tensão na casa dos Carvalho na Bom Jesus. E a expectativa para que o jovem entre e confirme tudo o que se espera dele, os 60 milhões de euros de multa rescisória e o interesse de potências europeias.