Nem parece que estamos em abril. A sensação no Beira-Rio é de final de ano, como se fosse novembro, dezembro. O Inter vive um ambiente de terra arrasada, de fim de festa. Mas, repetimos, é abril. A temporada recém está começando.
O Brasileirão ainda nem teve início. Restam ainda quatro rodadas da Copa Sul-Americana. E a Copa do Brasil recém irá para a terceira fase. O desafio da direção, da comissão técnica e dos jogadores é compreender isso. E passar à torcida.
A missão é retomar um 2024 que soou tão promissor no final de 2023. Para atingir essa meta, porém, precisará caminhar em três direções: aumentar o número de gols, retomar a intensidade e diminuir a pressão do Beira-Rio.
Marcar gols
Foi o próprio Eduardo Coudet quem trouxe a estatística que mais joga contra si. Ao final de Inter 0x0 Real Tomayapo, o treinador lembrou:
— Nos últimos quatro jogos, marcamos um gol.
Claro que há um problema de arremate, mas creditar apenas à imperícia dos atacantes é uma meia verdade. Pegando o número contra o Tomayapo, de 33 finalizações, por exemplo, o Sofascore só considera três como "grandes chances". Na Sul-Americana, foram cinco em duas partidas. E nas duas semifinais do Gauchão, a métrica dos gols esperados (xg na sigla em inglês) ficou inferior a dois — ou seja, um gol por jogo.
Na prática, portanto, o Inter precisa criar mais, também. Coudet terá de aumentar o repertório ofensivo, seja alterando a forma de atacar ou redesenhando o sistema. E os atletas necessitam ter atenção, frieza e capricho para transformar em gol o que for criado.
Para piorar, nas próximas três ou quatro semanas, possivelmente, sem seus dois principais jogadores, Alan Patrick e Valencia, ambos lesionados.
Intensidade e fluidez
Uma característica dos trabalhos de Eduardo Coudet, quase uma obrigação de suas equipes, é a intensidade. Foi isso o que chamou a atenção quando apareceu no Brasil pela primeira vez, na Libertadores de 2016 com o Rosario Central. Um time brigador, que lutava para recuperar a bola o mais rápido possível, de preferência no campo de ataque. O Inter até as quartas de final do Gauchão também teve isso. Mas nas últimas quatro partidas, reduziu.
Em números: o Inter teve apenas 14 desarmes, contra 22 do Real Tomayapo, na última partida. Essa queda de intensidade se refletiu no resultado. E também no que Coudet chamou de "falta de fluidez".
— Olhava para o jogo, no primeiro tempo, e percebia que a bola não corria com naturalidade. Não estamos jogando o mesmo de algumas semanas atrás e está faltando tranquilidade — reconheceu o treinador.
Fator local
O Beira-Rio, palco de muitas das maiores conquistas da história do Inter, não pode virar um inimigo. E, justiça seja feita, Coudet nunca reclamou de atuar em casa, diante da torcida, como outros profissionais já fizeram. Mesmo que o ambiente não seja favorável, é preciso fazer valer o fator local. O Inter precisa recuperar isso. Segundo Bruno Henrique, a receita é conhecida:
— Temos de entender que são quatro empates seguidos, e que a torcida está com essa ansiedade. Agora é falar o mínimo possível, trabalhar bastante para voltar ao nosso melhor futebol. Precisamos ganhar um jogo para voltar a confiança e trazer os torcedores para o nosso lado.
Para o goleiro Rochet, a hora é de reflexão para todos. À ESPN, na zona mista após o jogo com o Tomayapo, disse:
— Cada um tem de olhar para si, buscar meio de recuperar a confiança, em acreditar que podemos repetir o que já fizemos. Pressão? Jogar no Inter é assim. Clube grande é assim. Agora começa o Brasileirão e temos de reagir.
Depois do Bahia, no sábado, o Inter terá três partidas longe do Beira-Rio. Enfrentará Palmeiras e Athletico-PR pelo Brasileirão e o Delfín pela Copa Sul-Americana.