A andamento das negociações coloradas gera empolgação na torcida do Inter. O início do novo ano veio com a diretoria encaminhando a contratação do argentino Lucas Alario e anunciando o acerto com o colombiano Rafael Santos Borré. O debate, agora, é como Eduardo Coudet fará para ajustar as peças tendo, ainda, Enner Valencia e Alan Patrick, além de Wanderson, para o setor ofensivo.
Desde que surgiu como treinador no Rosario Central com um trabalho que chamou atenção no continente, Chacho apresentou o sistema tático 4-1-3-2 como preferencial. Ele fez algumas adaptações ao longo da carreira, chegou a jogar com linha de três zagueiros no Tijuana, do México, mas teve esse sistema como base em seus trabalhos em Racing, Celta de Vigo, Atlético-MG e em sua primeira passagem pelo Inter, em 2020.
Dentro do seu sistema tático preferido, Coudet adaptou Alan Patrick como companheiro de ataque de Valencia desde seu retorno ao Beira-Rio, em julho do ano passado. Tendo liberdade de meia no momento em que o time atacava, o camisa 10 adotava um posicionamento de atacante quando a equipe defendia.
Variação do Inter com e sem a bola durante a temporada passada:
Para entrada de um dos reforços - Alario ou Borré - ao lado de Valencia, Alan Patrick teria de ser recuado. O analista tático e produtor do Sofascore, João Izzo, aponta as dificuldades para Alan Patrick exercer a função defensiva dos meio-campistas no sistema preferido de Coudet.
— Tendo o Alan Patrick ficará um espaço de campo muito grande para o Aránguiz cobrir. Mesmo o Fernando (volante em negociação com Inter), que por mais que tenha qualidade já tem 36 anos, seria complicado jogar ali como cabeça de área. A melhor dupla de ataque possível seria Borré e Valencia. O Borré não é necessariamente um centroavante. O melhor momento no River foi como dupla jogando com Matias Suárez em 2019. Acredito que possa ser usado nesse 4-1-3-2 — avalia.
Características
A linha de meias utilizados por Coudet, ao longo de 2023, teve no lado direito o meio-campista Mauricio e no lado esquerdo o atacante Wanderson. Com bola, eles se comportaram de maneiras diferentes com Mauricio tendo maior participação pela faixa central enquanto Wanderson era o responsável por dar amplitude pela esquerda.
Essa função feita pelos dois não encaixa nos estilos tanto de Borré quanto de Alario. Mesmo Valencia não tem mais a característica de jogar pelo lado. O equatoriano chegou a jogar como extrema em sua estreia com a camisa colorada ainda com Mano Menezes como treinador. Meses depois, ele revelou em entrevista para GZH que procurou o ex-técnico do Inter e pediu para não atuar mais aberto.
— Foi um pouco estranho a minha estreia no Inter em uma posição que fazia sete ou oito anos que não jogava. O time precisava de mim para ajudar, então tentei fazer o melhor que podia, mas não estava cômodo. Na posição que estou jogando agora me sinto cômodo, posso ajudar muito mais a equipe. Isso dá a confiança para o jogador fazer as coisas da melhor forma — relembrou o equatoriano.
Analista tático do Diário Olé, Vicente Muglia acompanhou de perto Borré e Alario no River Plate. Ele aponta as diferenças de características entre os dois e observa que nenhum deles tem essa característica de ser um atacante de lado.
— Alario é um jogador mais centroavante, mais nove de área, de jogar muito dentro da área. Borré pode jogar de fora para dentro, de segundo atacante e pode entrar na área, não estar. Essa é a principal diferença entre os dois. Mas Borré não é extremo. Borré é um jogador que faz muitos bons movimentos de desmarques, de diagonais de fora para dentro. Ele pode começar por fora, mas não para ser o cara de lado — aponta.
Em razão de características e posicionamentos habituais, será difícil ver desde o início uma formação com um quarteto formado por Alario, Alan Patrick, Borré e Valencia.
— Imagino algumas situações de jogo que possa atuar Alan Patrick, dois homens abertos mais dois centroavantes, mas penso que o time vai ficar desequilibrado. Dá para desenhar vários cenários, mas para base de campeonatos como Brasileirão, Copa do Brasil e Sul-Americana é um time desequilibrado e insustentável — observa João Izzo.
Ainda que não seja uma temporada de Libertadores, o calendário do Inter reserva as disputas de Gauchão, Copa do Brasil, Brasileirão e Sul-Americana sem parada nas competições nacionais para a Copa América, quando, por exemplo, Borré e Valencia deverão ser convocados. Se há dificuldade para ver um quarteto ofensivo desse porte jogando junto, Coudet poderá ter opções para rodar o elenco, algo que faltou quando precisou conciliar Brasileirão e Libertadores em 2023.