Será preciso um aproveitamento superior ao do Botafogo para o Inter chegar à Libertadores de 2024. Depois de ter optado por mandar time reserva no Brasileirão enquanto disputava os mata-matas da competição continental, a conta chegou. Faltando 12 rodadas para o fim do campeonato nacional, as chances para voltar ao principal torneio da América do Sul não passam de 1,8%. Ao mesmo tempo, o temor maior que orbitou o Beira-Rio também está próximo de ser descartado: é menor do que 10% a possibilidade de rebaixamento.
Os cálculos são da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cujo departamento de matemática é especialista em projeções no futebol. Segundo o professor Gilcione Nonato Costa, o Inter está praticamente eliminado da próxima Libertadores. Para avançar diretamente à fase de grupos, as chances são simbólicas, não chegam a 1%.
O cálculo do departamento, porém, tem como base o G-6. Nas edições anteriores do Brasileirão, apenas duas vezes o sexto lugar fez mais do que 60 pontos. E o próprio Inter, em 2008, foi o time que teve a menor pontuação nessa posição, com 54. Hoje, os colorados têm 32 pontos. Ou seja, no melhor cenário da história, seriam necessários 22 pontos em 36 possíveis para chegar a essa posição. A tendência da temporada 2023 é de que irá para a Libertadores o time que atingir 58. Faltam 26, o equivalente a oito vitórias e dois empates nos 12 jogos restantes.
— Não estamos levando em consideração as situações de Fluminense e o Fortaleza na Libertadores e na Sul-Americana. Se eles forem campeões, possivelmente a pontuação vai baixar — comenta o professor.
Com os títulos brasileiros, o campeonato abriria mais vagas, para o sétimo e para o oitavo (caso não seja o São Paulo, que conquistou a Copa do Brasil e não entra na disputa, o que abriria até para o nono lugar). Desde 2017, apenas uma vez o Brasileirão não deu vaga para a Libertadores ao sétimo e ao oitavo colocados. Nas projeções da UFMG, é possível que obtenha um lugar o time que atingir 55 pontos.
— As probabilidades do Inter são afetadas por ele ter utilizado um time reserva quando estava envolvido com a Libertadores. Teoricamente, foi menos do que o time poderia fazer. Agora se dedicando somente ao Brasileirão, espera-se que melhore o rendimento e o nosso modelo detecte isso. Se começar a ganhar os jogos, as probabilidades serão mais fidedignas ao potencial — explica Gilcione Costa.
Para ele, a realidade do Inter atual é de vaga na Copa Sul-Americana (até o 12º lugar). A luta com os integrantes do G-6 (e até G-8) está prejudicada justamente por esse atraso na tabela. Se o Atlético-MG fizer 15 pontos até o final, ele exemplifica, o time de Coudet precisará somar 25.
O alento para o Inter é que vêm aí os adversários contra os quais o time fez sua melhor sequência no Brasileirão. No primeiro turno, os colorados conquistaram 13 dos 15 pontos disputados contra Bahia, Santos, Vasco, Coritiba e América-MG. Ampliando a pesquisa para os 12 oponentes restantes, a equipe obteve 17 pontos. A repetição seria insuficiente para chegar à Libertadores: com 49 pontos, é 0% a chance de voltar à competição continental.
Será preciso colocar em prática o discurso de Coudet. Ao final do Gre-Nal, ele pediu aos jogadores que voltassem da folga da Data Fifa focados em disputar "12 decisões" até o final do Brasileirão. Só com esse espírito poderá repetir o sonho de estar na Libertadores.
Chances remotas de Z-4
O rebaixamento está quase fora do radar colorado. Nas projeções da UFMG, as chances de o Inter acabar o campeonato dentro do Z-4 estão em 9,4%. América-MG, Coritiba, Goiás, Vasco, Bahia, Santos, Corinthians e Cruzeiro têm mais possibilidades de cair do que o time de Eduardo Coudet. Na edição 2023 do Brasileirão, dentro do cenário atual, é improvável que seja rebaixado um time que chegue a 43 pontos. Ou seja, faltariam 11 para os colorados.
O número é condizente com a história do Brasileirão. Desde 2006, quando a competição passou a contar com 20 clubes, apenas três vezes quem somou 43 pontos não ficou na Série A. Na comparação, houve mais casos em que não foi preciso nem chegar a 40 pontos para evitar o rebaixamento.
— O pequeno risco de queda do Inter é só pela proximidade do Z-4. Mas isso é um reflexo de ter usado os reservas em boa parte do Brasileirão — opina o professor Gilcione Costa.
Coudet abordou o tema após o Gre-Nal:
— Não tenho medo da zona de rebaixamento porque estou com esse grupo todos os dias, a qualidade que tem. Temos experiência para sair dessas situações. No futebol pode acontecer qualquer coisa, mas um time que tem jogado como nós não pode temer o rebaixamento. Pode ter má sorte eventualmente, mas certamente vai ter mais vitórias do que derrotas.
No melhor cenário, o Inter termina outubro já sem pensar nesse fantasma. Basta repetir o desempenho do primeiro turno.