Por mais que os colorados não acreditassem, ainda existia uma forma cruel de ser eliminado de uma competição. Nesta semifinal da Libertadores, o Inter vencia o Fluminense por 1 a 0, gol de Mercado, mandava no jogo e perdeu duas oportunidades claríssimas com Valencia. E em um intervalo de seis minutos, aos 35 e aos 41 do segundo tempo, levou uma virada inacreditável, diante de 50 mil pessoas no Beira-Rio. O sonho do tri acabou em um apagão de um time cascudo e nos méritos de Fernando Diniz, Marcelo e, principalmente, Cano, autor de três gols nos dois confrontos. Veja os principais lances da partida.
A dor da torcida aumenta ainda mais pelo cenário que Porto Alegre viveu. A cidade respirou o jogo nesta quarta-feira (4). Durante todo o dia, torcedores fizeram churrasco, caminharam pelas ruas e aguardavam o apito inicial. O entorno do Beira-Rio ficou repleto de ônibus de excursões, e que viagem longa de volta seria. Por volta de 19h30min, quando a delegação chegou ao estádio, a região foi tomada por sinalizadores, fogos de artifício, foguetes e uma variada gama de pirotecnia. Ruas de fogo era pouco: foi um bairro de fogo na zona sul da Capital.
A atmosfera do estádio era perfeita para o começo avassalador do Inter. Sufocando o Fluminense, o time tomou conta do campo. E antes dos 10 minutos abriu o placar. Nada de baixar linhas, nada de sentar no resultado. A pressão continuava, as chances apareciam. Diniz, percebendo o cenário, mexeu em sua equipe sem trocar nomes no primeiro tempo. O principal foi liberar Marcelo para dominar o meio-campo.
No intervalo, o técnico da Seleção colocou John Kennedy e Martinelli. Recuou André para a defesa. Passou a ocupar o campo do Inter. Mas não tinha criação. Circulava, circulava e não achava espaço. A equipe da casa esperava os contragolpes. Teve dois. E mais uma oportunidade em uma falta ao lado da área. Todas com Valencia. A maior contratação da temporada, o cara que tinha decidido nas fases anteriores. Ele perdeu de cabeça, perdeu na frente de Fábio e perdeu travado por Nino.
Na semifinal da Libertadores, isso é letal. Não foi o primeiro time, possivelmente não será o último a viver isso. Mas a noite do Beira-Rio cobrou o preço. Os dois primeiros chutes do Fluminense, de John Kennedy e Cano, fizeram os cariocas virarem o placar. No desespero, o Inter atacou e Fábio ainda fez uma grande defesa.
Atordoado, o Beira-Rio assistiu ao final em um misto de aplausos, porque reconheceu que não faltou esforço, e vaia, porque o raio cai sempre no mesmo lugar. Do lado de fora houve confronto entre torcedores e Brigada Militar. Após o jogo, Renê tentou resumir o que acabara de ocorrer:
— O Fluminense só chutou uma vez no primeiro tempo, fizemos o que foi planejado. No segundo tempo, eles dificultaram mais. Pressionamos, mas eles conseguiram sair. Só que até então, tínhamos o controle do jogo. No final, em duas faltas de atenção, eles chegaram com os atacantes no mano a mano e foram felizes nas oportunidades. Tivemos duas, três oportunidades e não fizemos o gol. Tínhamos capacidade de ter saído com a vitória. Agora não adianta lamentar, estamos fora. Só nos resta parabenizar, ver onde erramos e seguir em frente.
O "seguir em frente" é duro. No final de semana, o Inter terá pela frente o Gre-Nal do segundo turno do Brasileirão. Será necessário juntar os cacos urgentemente, porque a situação na tabela está perto do dramática. Uma combinação de resultados pode deixar o Inter com pontuação de Z-4 após 26 rodadas. O time está a três da zona de rebaixamento. E a 12 do G-6. Por isso mesmo, o ano não "acabou" em outubro. Há uma montanha a ser escalada no Campeonato Nacional.
E com toda a melancolia de uma derrota que era sonho até 10 minutos do fim.