Foi uma surpresa do mercado colorado a contratação do lateral-direito Hugo Mallo. O jogador que havia passado os 32 anos de vida em Vigo, 14 deles dedicado ao Celta, rejeitou uma oferta da Arábia Saudita por razões familiares. E chegou ao Beira-Rio com o aval de Eduardo Coudet para ser o primeiro espanhol da história do clube.
No time, ganhou destaque como zagueiro. Apesar de medir 1m74cm, tem conseguido enfrentar centroavantes das mais variadas características, de velozes a grandalhões. É mais um dos tantos capitães que habitam o vestiário colorado.
Após o treino desta sexta-feira, ele recebeu a reportagem de GZH no CT Parque Gigante para uma conversa que abordou o sonho da Libertadores, a vontade de ser campeão (atenção a essa resposta) e o desejo de entrar na história do Inter.
É comum vermos por aqui argentinos, uruguaios, chilenos. Mas espanhol é uma raridade. Tanto que é o primeiro na história do Inter. Como tem sido a adaptação ao Brasil?
Não é o comum, mas estou preparado mentalmente. Queria um desafio diferente, disputar outra liga, conhecer outra realidade. Acho que acertei, estou feliz. Tenho um grupo de companheiros que me ajuda na adaptação, foi mais fácil. Estou encantado pela decisão que tomei.
Quais são as diferenças do futebol brasileiro e do espanhol?
Aqui tem mais espaços. Taticamente, há mais transições ofensivas. Na Espanha é mais controlado. O futebol brasileiro é mais vistoso, ofensivo.
O que já sabia e que fez aceitar jogar no Inter?
Não vou mentir. Antes de vir, vi os jogadores, as ambições do time, o tamanho do clube. É um clube grande, que está sempre brigando por títulos cabeça a cabeça, estamos na luta da Libertadores. Isso me agrada, ganhar, disputar pelos troféus.
O que sabia da Libertadores?
A Libertadores é como a Champions na Europa, é o campeonato que todos querem ganhar. Poucos podem dizer que foram campeões. E quero estar na história do Inter e ajudar a conquistar a terceira estrela.
O que notou de diferente na Libertadores na comparação com o Brasileiro?
O ambiente. Respiramos o jogo durante a semana, no jogo. O Brasileirão tem um ambiente bom, mas a Libertadores é diferente. Não consigo nem explicar, tem de viver para entender.
Quem era o rival do Celta de Vigo?
O Deportivo La Coruña. Mas eles foram rebaixados, estão três séries abaixo.
Aqui tem o Gre-Nal. Imagino que já tenha entendido o tamanho.
Tenho muita vontade de jogar, sei que é dia 8 de outubro. Desde o primeiro dia que cheguei, me deixaram clara a importância da Libertadores, o que nem precisava. Mas logo depois já falaram no clássico. Entendo, movimenta-se a cidade, os jogadores, a torcida. É um momento único, especial, bonito. Precisamos estar à altura do que significa.
Essa é mais uma diferença entre Inter e Celta?
Os dois são grandes. A diferença está na liga. É muito difícil para o Celta disputar títulos do Campeonato Espanhol ou da Copa do Rei. Real Madrid, Barcelona e Atlético são muito difíceis de bater. O Inter pode ganhar qualquer competição que jogue.
O grupo do Inter tem sete jogadores que foram capitães em algum momento. É o vestiário mais cascudo que tenha encontrado? Qual é o peso disso nessa hora?
Ter tantos jogadores desse nível não é fácil de conseguir. No Celta, por exemplo, tínhamos jovens que estavam começando. A figura do líder é importante para ajudá-los, impulsioná-los nos momentos difíceis. Aqui a equipe tem jogadores de muita liderança, só de vê-los já transmitem a garra e a vontade de buscar mais. Para os mais novos aqui, facilita. É só copiar o que fazem os outros.
Possivelmente, se não fosse Coudet, você nem estaria no Inter. Qual foi a influência dele na tua chegada?
Nos conhecemos no Celta, facilitou na adaptação. Ele sabe o que pode tirar de mim, minhas qualidades. Antes de Coudet estar aqui, meu empresário até conversou com alguém do Inter. Mas depois da chegada dele, facilitou para vir para cá.
A estreia como zagueiro foi contra o Bolívar, que no jogo de ida tinha forçado bastante a bola aérea, o que poderia ser uma dificuldade para um defensor que não é alto. Como foi a conversa com Coudet antes da partida?
Não teve uma conversa privada nem nada. Ele me conhece, sabe o que posso fazer. Estava treinando como zagueiro e fui para o jogo.
Na quarta-feira, enfrentou Calleri, um centroavante de imposição. E você teve vantagem quase sempre, chamou a atenção a impulsão. Tem algum trabalho especial?
Conhecia Calleri da Espanha. Quando me viu, brincou: "O que está fazendo aqui?". Rimos. Mas não fiz trabalhos específico pela impulsão. Na Espanha, fazia trabalhos de força na academia, saltos, diferentes atividades para ganhar potência. Acho que ajudou.
Está gostando de ser zagueiro?
Estou, sim. Já tinha sido zagueiro no Celta algumas vezes. Quando Berizzo foi o treinador, fui central muitas vezes, porque não tínhamos. É uma posição que conheço. Faço o que precisar para ajudar a equipe.
Como será o retorno à lateral? Bustos tem ido bem, já fez dois gols sob comando de Coudet. Será para manter o estilo dele?
Cada partida é diferente. Em algumas atacamos mais, outras menos. Se for para atacar, chego na área. Quando joguei com Coudet no Celta, marquei quatro gols no ano. Precisa estar pronto e reconhecer que Bustos está indo muito bem. Se voltar à lateral, vou dar o melhor de mim e entender se os jogos serão mais ofensivos ou defensivos.
Você jogou no Celta toda a vida, e como falou, na Espanha são campeões quase sempre os mesmos times. O quanto pesa um título em sua carreira?
O maior prêmio que ganhei na Espanha foi ser jogador do Celta. Isso não há preço que pague. Sou de lá, cresci lá. Isso é meu título. Mas todos os jogadores querem ganhar. Na Espanha é complicado. Também pensei nisso na avaliação para escolher o novo clube. E o Inter oferece essa possibilidade. Por isso também tomei essa decisão.
Como fez para passar tanto tempo no mesmo time?
Foram 14 temporadas, é muito difícil ainda mais em um mercado de vai e vem. E com a Arábia Saudita ainda aumentou a oferta, com muitos jogadores novos que foram para lá. Sempre tive ofertas, conversava com o Celta. Mas sempre busquei uma desculpa para não sair. Sentia o Celta parte da minha vida, da minha família. Nunca encontrei um motivo para trocar. Mas agora encontrei essa vontade de buscar uma experiência, um desafio na vida.
Dá para repetir isso aqui? O Inter pode ser o último time da carreira?
Sim, pode ser. Não gosto de trocar por trocar. O contrato é curto, mas estou aberto a essa opção. O Inter me oferece coisas muito boas. Estou feliz com a cidade, com o clube, com os companheiros. Não tenho motivo para trocar.