Um Eduardo Coudet mais maduro e flexível. Assim a direção do Inter avalia nos bastidores o trabalho do argentino na sua segunda passagem pelo clube. Embora mantenha o estilo característico, com marcação alta e muita intensidade, o clube entende que o profissional adaptou alguns dos seus conceitos da primeira passagem e se tornou um treinador mais completo.
Adepto de laterais ofensivos e de meias intensos, Coudet fez alterações importantes no modelo de jogo do qual é entusiasta para dar espaço a jogadores como o lateral Renê, o volante Johnny e o meia Alan Patrick, que dificilmente teriam lugar no esquema de 2020.
Além disso, há a crença de que o treinador hoje está mais disposto a abrir mão inclusive da própria filosofia de jogo quando necessário. Especialmente, em condições adversas.
— A experiência maior do Coudet no futebol brasileiro dá a ele um entendimento maior do que significam as pressões, as características do jogador brasileiro e dos adversários. Além disso, há um ambiente de muita confiança entre ele, a direção, os jogadores e os demais membros da comissão técnica. Isso dá a ele mais flexibilidade para trabalhar e para ouvir, diferentemente do outro momento, quando ele estava talvez mais inseguro com o ambiente. Hoje ele se sente mais seguro — avaliou o presidente Alessandro Barcellos, em entrevista exclusiva a GZH.
O 4-1-3-2 original que consagrou Coudet na Argentina, em seus trabalhos no Rosario Central e no Racing, exigia a presença de dois laterais bastante ofensivos, de um primeiro volante capaz de recuar para trás dos zagueiros na fase ofensiva e meio-campistas intensos tanto para defender como para atacar. No Inter, o treinador realizou alterações para se adequar ao elenco, sem, porém, abrir mão da intensidade.
— O Coudet está bastante flexível, mas é também muito seguro e firme em relação à sua ideia de jogo. Há mudanças no estilo dele em relação à sua primeira passagem, mas ele nunca deixou de ser intenso e agressivo. O jogo contra o Bolívar, na altitude, mostra também como o Coudet cresceu neste aspecto, pois ele soube fazer a leitura do ambiente e trabalhou uma forma de jogar diferente da que está acostumado. Isso mostra também a confiança dele no grupo — completa Barcellos.
A mudança mais importante envolve o novo posicionamento de Alan Patrick. Meia clássico e de boa técnica, o atleta de 32 anos não tem como característica a intensidade física para cumprir as funções exigidas pelo treinador no meio-campo. Por isso, o argentino fez uma adaptação, posicionando o camisa 10 como um atacante quando o time está sem a bola e o deixando livre para fazer apenas as funções em que tem aptidão.
Já nos flancos, Renê não tem o perfil ofensivo exigido normalmente por Coudet e raramente faz jogadas na linha de fundo. Além disso, o volante Johnny nunca desempenhou a função de recuar para trás dos zagueiros. Por isso, o treinador fez uma adaptação. O norte-americano não precisa recuar para a zaga e, com isso, o lateral acaba participando da saída de bola com os zagueiros.
Desta forma, Renê é dispensado das funções ofensivas da lateral, e a responsabilidade de atacar pela linha de fundo no lado esquerdo fica com Wanderson ou com outros jogadores do setor ofensivo.
A maleabilidade da versão 2023 de Coudet é considerada um trunfo do Inter para a conquista da Copa Libertadores.