Tão logo eu soube que iria viajar para a Bolívia para a cobertura de Bolívar x Inter, pela ida das quartas de final da Libertadores, conversei com um amigo médico sobre a hipótese de praticar uma atividade física na cidade para apresentar em uma reportagem os efeitos da altitude de 3,6 mil metros em La Paz. A proposta era correr uns cinco quilômetros, algo que estou acostumado a fazer em Porto Alegre. A resposta, porém, foi:
— Te preserva.
Tudo bem, entendi o recado. Há quem sinta mais, há quem sinta menos as consequências de estar no alto da montanha. Inúmeros são os casos de atletas que enfrentaram dificuldades respiratórias em partidas no território boliviano. Compreendendo o risco, então, pensei em fazer diferente: comparar dados de uma caminhada de 20 minutos em La Paz com a mesma atividade, no mesmo tempo, em um terreno ao nível do mar. As respostas vocês terão na sequência.
A primeira amostragem foi feita ainda no domingo (20), em São Paulo. A longa conexão entre voos me permitiu deixar o aeroporto de Guarulhos e visitar o bairro Liberdade, território japonês na capital paulista (eu precisava muito ir lá comer um temaki na calçada, mas isso é outra história). Por lá tem uma feira, o jardim e lojas de produtos nipônicos. Espaço perfeito para uma caminhada.
Ativei o relógio e andei pelo bairro, alternando a velocidade da passada conforme as minhas observações, mas sem parar. Após 20 minutos, foi percorrido 1,5 quilômetro. Os batimentos cardíacos mantiveram a média de 98 por minuto.
Em La Paz, porém, as coisas foram diferentes. Muito, para falar a verdade. Logo na saída do avião, ainda na noite de domingo, dificuldade de respiração e dor de cabeça foram imediatas. O aeroporto fica em El Alto, que faz jus ao nome e fica a 4,1 mil metros de altura. Além disso, a umidade relativa do ar de apenas 9% aumentou o desconforto.
Foi uma noite de sono ruim, mas, mesmo nestas condições, encarei a segunda parte do desafio. Desta vez, contudo, acompanhado dos parceiros de cobertura: Marcelo de Bona, Vini Moura e Gleidson Ferreira.
Por volta das 10h, iniciamos a caminhada pela Avenida Arce em direção ao centro da cidade. Com cinco minutos de trajeto, porém, o fôlego já era pouco. Quando mostrei o relógio para os parceiros, eles não acreditavam que havia passado tão pouco tempo.
No final da avenida, chegamos na Plaza del Bicentenário, um dos pontos mais movimentados de La Paz. Trânsito caótico e muitas vans buzinando de todos os lados. Ali, para seguirmos o destino, era necessário subir uma escada de aproximadamente 20 degraus. Este foi o momento mais marcante da caminhada, que já tinha 12 minutos. Meu batimento cardíaco atingiu o pico de 167 por minuto e a pressão na cabeça foi muito forte.
Ainda assim, seguimos mais um pouco até encontrarmos uma farmácia. Ali, quando o relógio marcava 16 minutos e havíamos percorrido apenas um quilômetro, paramos. Não havia motivo para continuar. A solução foi comprar garrafas de água para hidratação e um remédio específico para o "mal de altura". Depois, sentamos em um banco para recuperar a energia.
A medida em que o tempo passa aqui em La Paz parece que os efeitos da altitude só aumentam. Por isso, se compreende a estratégia das equipes de tentar chegar o mais próximo do horário do início da partida, como será o caso do Inter. Praticar atividades físicas aqui, ainda mais na intensidade do futebol e sem um tempo adequado de adaptação, é algo muito difícil.